01 | Doce Mudança

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#CaçandoVagalumes

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#CaçandoVagalumes

Minha mãe me levou para a rodoviária municipal em silêncio. Fazia sol, assim como todos os dias, numa objetiva demonstração do quanto Busan personificava os estereótipos impostos pelos visitantes: céu azul, mar calmo e clima agradável durante o ano todo.

Não havia nada que me fizesse querer sair dali; gostava de caminhar pela praia, aproveitando os fins de tarde frescos, graças à brisa marítima, para ler o antigo diário de minha avó, datado do século XX. Sentia certa paz em testar feitiços sobre o píer velho evitado por humanos comuns, enquanto balançava os pés nas águas calmas do mar, esquivando-me de molhar totalmente o membro inferior, pois sabia que minha progenitora me daria um sermão por voltar com os pés descalços e meus all stars azuis índigo encharcados.

Contudo, me afastaria disso pelos próximos meses.

Depois que minha mãe se casou no início de fevereiro com um brasileiro chamado Rafael Almeida, acabei me sentindo mal por saber que o sonho dos dois era viajar pelo mundo e conhecer diferentes pontos turísticos, mas teriam que carregar um adolescente bruxo frustrado por tirar notas baixas em matérias de exatas e que passava a maior parte do tempo livre com fones de ouvido em volume máximo, tentando recriar receitas antigas dos livros da sua avó.

Por isso, após o casório, decidi ligar para meu pai que, prontamente, aceitou minha estadia em sua casa. Foi até mesmo engraçado ouvir sua correria, dizendo que me matricularia na escola no mesmo dia e prepararia um lugar apenas para que eu pudesse praticar magia, sem explodir sua casa completamente.

Meu progenitor, Junghyun, era um médico humano. Nasceu e cresceu na capital, Seul, e, quando veio para Busan anos atrás, na intenção de prestigiar o festival da colheita realizado todos os anos no fim do outono, conheceu minha mãe, Lee Sunmi. Um ano depois eu nasci, sendo meio-bruxo por parte de mãe, carregando uma marca que provaria para todos da minha espécie quem eu era. Pequenas sardas enfeitavam meu rosto, criando contraste com os olhos diferentes, consistindo em uma das íris ser castanha escura como terra molhada, a outra azul como águas cristalinas e meu cabelo, escuro na raiz e púrpura nas pontas. Além, é claro, das seis tatuagens que surgiram magicamente no dorso da minha mão direita, no meu aniversário de dez anos.

Minha mãe, como os outros bruxos, possuía cabelos azuis como os oceanos e seus olhos eram quase transparentes devido ao azul-claro. Embora fosse uma bruxa legítima, desde pequena Sunmi agiu como uma humana, mentindo sobre a coloração de seus fios e lumes, usando acessórios com pedras de proteção para seu gênero biológico e evitando a todo custo qualquer uma das minhas criações.

Eu, por outro lado, aprendi todos os feitiços e poções com minha avó, seguindo seus ensinamentos e conselhos à risca, buscando sempre ser o melhor bruxo e o melhor humano, tendo que me manter entre os dois mundos.

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