Capítulo 11

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"O que faremos agora?", Olivier me encarava aterrorizado, enquanto víamos o velho conselheiro aos tropeços rumando à saída do jardim, "Não podemos ficar aqui parados esperando ele voltar com os guardas!"

Rapidamente corri até as janelas daquele casebre constatando que estavam obstruídas.

"Ali, Olivier, é o único jeito!"

Estava me referindo a um pequeno basculante na lateral daquela choupana.

"Você não pode estar falando sério, pode?"

"E por que não?"

"Cara, aquela janela é muito estreita. Acabaríamos ficando presos!"

"Não custa nada tentar, Olivier."

Nesse meio-tempo, arremessei um pedaço de lenha sobressalente da lareira contra o vidro do basculante quebrando-o em diversos cacos. Em seguida, subi sobre a mesa e me pendurei no peitoril, passando com certa dificuldade ali. Por sorte, aqueles cacos não eram muito afiados, o que facilitava em muito minha tarefa. Ainda que ofegante, tive êxito no plano.

Dei uma sacudidela nas minhas roupas me livrando dos minúsculos fragmentos.

Aparentemente ileso, do lado de fora, alertei meu companheiro de que ele deveria fazer o mesmo. Este, relutante, negou-se de início, entretanto, após alguma insistência e certa dose de chantagem emocional, consegui convencê-lo a vir.

Depois de livres nos escondemos atrás de árvores próximas e pudemos ver os guardas cercando e invadindo aquela cabana. Pudemos ouvir, inclusive, as interjeições de espanto e frustração daqueles soldados ao perceberem que tínhamos escapado.

Sem demora, corremos como loucos até a porta daquele cômodo mágico. Deixamos o tal jardim, então.

Dentro do Palácio Áureo, nem conseguíamos ver as nuvens negras que anunciavam uma chuva torrencial nos céus de toda a Mirávia.

Já em um dos vários corredores do castelo de Agra, podíamos ouvir o tilintar das enormes gotas d'água se chocando contra a vidraça das janelas.

Entrementes, eu já rumava em direção à saída daquele palácio, ao passo que Olivier me alertou:

"Sua perna, cara! Está sangrando!"

"Nossa! Nem tinha percebido.", disse, olhando um fino filete vermelho que escorria até minha meia, "Devo ter cortado acidentalmente em algum caco de vidro atravessando aquele basculante."

"Ué, você não sentiu dor?"

"Na verdade senti, sim, mas estava mais preocupado em sair dali que nem dei importância...", respondi sorrindo.

"Uau! Isso que chamo de instinto de sobrevivência!"

Mais que prontamente meu companheiro tirou um lenço limpo do bolso e, envolvendo-o em minha perna, falou:

"Pronto. Isso vai estancar esse sangue pelo menos até encontrarmos um lugar melhor pra fazer um curativo decente."

Olivier retorquiu ainda:

"Vamos embora! Não temos mais nada pra fazer aqui, temos?"

Eu ainda estava completamente atônito com todos os acontecimentos ocorridos naquele dia. O misterioso encontro com aquele sábio-conselheiro. E tudo o que tinha ouvido da boca de Aurora. Acerca de quem ela estava se referindo ao falar que este deveria ficar longe daquela medalha? Seria mesmo verdadeiro o boato de que o objeto teria poderes sobrenaturais? Caso sim, quais seriam?

MiráviaWhere stories live. Discover now