capítulo 4

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Escute, mantenha os olhos abertos - murmurou Lestat, com os lábios encostados em meu pescoço.
- Lembro-me que o movimento de seus lábios arrepiou todos os cabelos de meu corpo, enviando uma corrente de sensações através de meu corpo que não me pareceu muito diferente do prazer da paixão...
Pareceu meditar, os dedos da mão ligeiramente recurvados sob o queixo, o polegar parecendo acariciá-lo levemente.
- O resultado foi que, em questão de minutos, estava paralisado pela fraqueza. Dominado pelo pânico, descobri que nem ao menos podia falar. Lestat, é claro, ainda me segurava, o seu braço parecia ter o peso de uma barra de ferro.
Senti seus dentes se afastarem com tanta nitidez que os dois furos que deixaram me pareceram enormes, repletos de dor. Neste momento, inclinou-se sobre minha cabeça desamparada e, afastando sua mão de mim, mordeu seu próprio pulso. O sangue inundou minha camisa e meu casaco, enquanto ele observava, com olhar atento e brilhante. Esta espera pareceu durar uma eternidade e, naquele momento,
a aura pendia atrás de sua cabeça, como se fosse a sombra de uma aparição. Acho que, antes que ele fizesse qualquer coisa, eu já sabia o que me esperava e me deixei ficar ali, em meu desamparo, por um período que me pareceu durar anos.
Apertou seu pulso sangrento contra minha boca e disse com firmeza e alguma impaciência.
- Louis, beba.
- Foi o que fiz.
- "Força, Louis" e "Vamos logo" - era o que murmurava seguidamente. Bebi, sugando o sangue vindo dos furos, experimentando pela primeira vez, desde a infância, o prazer especial de sugar um alimento, o corpo inteiro preocupado com a fonte vital. Então, algo aconteceu.
O vampiro se sentou, franzindo ligeiramente a testa.
- Quão patético é descrever estas coisas que não podem ser descritas - disse ele, numa voz tão baixa que mais parecia um murmúrio.
O jovem permanecia sentado, como se tivesse congelado.
- Enquanto bebia o sangue, não via nada a não ser aquela luz. E, em seguida, em seguida... um som. A princípio era um rugido rouco que depois se transformou num rufar, como o rufar de um tambor, cada vez mais alto, como se alguma imensa criatura estivesse saindo vagarosamente de uma floresta escura e estranha, rufando, enquanto andava, um enorme tambor. E, então, surgiu o rufar de outro tambor, como se outro gigante viesse atrás do primeiro e, cada gigante, preocupado com seu próprio tambor, não desse importância ao ritmo do outro. O som foi se - tornando cada vez mais forte até me dar a impressão de não estar
apenas atingindo minha audição, mas todos os meus sentidos, de estar penetrando em meus lábios e em meus dedos, na carne de minhas têmporas, em minhas veias.
Principalmente, em minhas veias, rufar após rufar; e subitamente Lestat afastou o pulso.
Abri meus olhos e me contive ao notar que tentava segurar seu pulso, agarrá-lo, querendo fazê-lo voltar à minha boca de qualquer modo. Contive-me porque entendi que o rufar vinha de meu próprio coração, e que o segundo rufo vinha do dele. O vampiro sorriu.
- Compreende?
O rapaz começou a falar e, depois, sacudiu a cabeça.
- Não... Quero dizer, sim - disse. - Quero dizer, eu...
- Claro - disse o vampiro, olhando para outro lado.
- Espere, espere! - disse o rapaz num rompante de excitação. - A fita está quase acabando. Tenho de virá-la.
O vampiro esperou pacientemente, enquanto ele a trocava.
- O que aconteceu então? - perguntou o rapaz. Seu rosto estava molhado e ele o enxugou apressadamente com o lenço.
- Vi como um vampiro vê - disse o vampiro, num tom ligeiramente mais lento. Parecia quase distraído. Então, voltou rapidamente a si.
- Lestat estava novamente de pé na escada, e eu o vi como jamais poderia tê-lo visto antes. Antes, havia me parecido branco, inteiramente branco, tão intensamente branco que, à noite, me parecia quase luminoso. Agora eu o via com
sua própria vida e seu próprio sangue: era radiante, não luminoso. E então percebi que não era apenas Lestat quem havia mudado, mas todo o resto também.
- Era como se aquela fosse a primeira vez que percebia cores e formas.
Fiquei tão entretido com os botões do casaco preto de Lestat que, durante algum tempo, não olhei para mais nada. Então Lestat começou a rir, e ouvi seu riso como jamais ouvira nada antes. Ainda ouvia seu coração bater como um tambor e depois veio aquela risada metálica. Confundia-me, com um som se unindo ao outro como as reverberações dos sinos, até que aprendi a separá-los. Então se sobrepuseram, cada um deles suave mas diferente, mais altos mas discretos, repiques de risadas.
O vampiro riu de deleite:
- Repiques de sinos.
- Pare de olhar meus botões - disse Lestat. - Saia para ver as árvores. Livre-se de todos os vestígios humanos de seu corpo, e não se enamore tão perdidamente da noite que se perca!

ENTREVISTA COM O VAMPIROOnde histórias criam vida. Descubra agora