Inspirei a brisa marítima tão fundo naquela manhã que as imagens de um tempo há muito esquecido vieram com tanta força que até mesmo consegui sentir o cheiro e o sabor dessas memórias.
Da ponte de comando do velho Medusa, o horizonte se perdia aos olhos. As gaivotas quebravam o silêncio no convés recém voltado a vida. Eu singrava um dos maiores navios piratas já existentes. Era meu por direito, suor e sangue. Todos os homens que cantarolavam nas noites de solidão, e enchiam suas canecas de rum barato naquele navio eram comandados por mim!
Os Marinheiros pouco sabem da capitã, não me apresento por esse título, a não ser quando necessário, o respeito desses homens não foi ganho na autoridade e sim admiração. Já joguei aos tubarões um ou outro por alguma graçinha, mas eles sabem o que é justo nas madeiras desse navio.
Parece que foi ontem, eu carregando o tabuleiro com os pães da padaria da minha família, naquele povoado litorâneo. Éramos queridos por todos. Há gerações fabricando pães, bolos e os mais variados quitutes, sempre que uma nova embarcação ancorava no porto a padaria lotava de viajantes para conhecer ou voltar a comer os nossos famosos pãezinhos açucarados, lembro-me de varrer ao fim do dia aquela fina camada branca de açúcar que se espalhava pela padaria devido a falta de jeito ao comer dos viajantes acumulada com a enorme quantidade do ingrediente.
As vezes sinto o aroma do pão saindo do forno, e o sabor dos inocentes e adocicados lábios do ajudante confeiteiro. Mas, não foi em seus lábios que me perdi. Foi nos braços salgados de um marinheiro vindo de terras distantes.
Quando o sino da porta tirlintou, a brisa do mar entrou com ele. Willian era um jovem bronzeado pelo sol inclemente do mar. A barba por fazer e o cabelo comprido sem corte revelaram que ele passara um longo tempo sem por os pés em terra firme. Não era de sorrir, possuía um olhar que facilmente afogaria qualquer mulher. E quando o olhar dele encontrou o meu, nos meus belos 17 anos, ninguém sabe dizer quem se afogou primeiro, se foi ele ou eu.
De dia eu trabalhava vendendo doces e a noite eu experimentava o veneno, fugidas pelas janelas, amassos demorados e mãos em lugares não explorados, acompanhavam as histórias de marinheiros sussurradas ao ouvido. Foi assim que me encantei pelo mar. Até então não havia graça vê-lo da praia, as ondas quebrando na areia tornara-se monótono demais, mas de dentro de um navio tinha sim, ah se tinha! Eu queria viver como aquele homem, as aventuras, as confusões, as loucas paixões, não bastava só sentir o cheiro da maresia na pele dele, eu queria estar dentro dela.
E foi esse desejo, que fez uma menina na calada da noite se vestir de marinheiro e se esconder numa cabine de navio qualquer.
-Sabina os marinheiros estão te chamando na popa, estão com medo de danificar a mercadoria.
Jhon era um bom marinheiro, velho o suficiente para aconselhar e esperto o suficiente pra saber a quem se reportar.
“Jhon vamos antes que esses merdas arruinem nossa chance de ficarmos ricos!”
Ao descer pelas escadas da popa do navio com a lamparina, Sabina observou as feições preocupadas dos marinheiros, e olhou para os enormes rolos de tecido confusa sobre qual era a dúvida, era só armazenar aquilo por dois dias e vender, só, porque era tão difícil? não era, mas…
“Sabina nunca carregamos esse tipo de mercadoria, e muito menos vendemos, isso vai funcionar? ”- Falou Zouje
“Amigo, é Seda Mulberry, já tenho um comprador interessado em Krazeni, e ele vai pagar muito caro por esse tecido, não há uma Krazeniana nobre que não vá querer se vestir de uma seda tão rara. Nunca perdi o dinheiro de vocês e não vai ser agora! confiem...eu entendo.”
Zouje olhando-a sem graça, apontou as mãos calejadas para a mercadoria e com uma voz tímida disparou;
“Sabina desculpe, é que nossos saques são coisas comuns, runs, vinhos, e moedas, nem sabíamos que tinha gente que usava isso!”
“ Tem, e pagam muito bem por isso...depois de tanto tempo armando aquele saque achei que já sabiam o que íamos buscar, pois bem...vão trabalhar que esse velho navio não vai se limpar sozinho”, e estalando a língua emendou para o marujo “ E você não é pago para pensar, da parte burocrática cuido eu, entendido?”
Os marinheiros subiam para o convés quando Tom desceu:
“Sabina, precisando de ajuda aí?”
“ Tom, vá cuidar dos seus afazeres que está tranquilo aqui…”
“Sabina, não te vejo há muitas noites, tem certeza que não precisa resolver nada mesmo?”, Um sorriso cafageste iluminou o rosto de Deus Ébano perfeito do marinheiro.
“Tom, não te dei essa liberdade, volte aos seus afazeres, se precisar chamo…”
Não era fácil ficar tanto tempo em alto mar, a solidão era amiga e amante, sofríamos com as mais diversas privações, e apesar da minha postura de Capitã implacável ainda tenho minhas necessidades, Tom é gentil e um bom amante quando requisitado, nada mais que isso, os outros que falem, eles também saciam seus desejos, eu não me envolvo com seus namoricos e eles ignoram os meus, simples, se não estiverem de acordo que saltem da prancha.
Ser a única mulher no meio de tantos homens não é nada fácil, sinto falta das mulheres também, é uma ambígua solidão, ser só quando não se está.
É pesado ser a líder, porém faz muito tempo que não me vejo casada numa cidadezinha cheia de crianças correndo pela casa, com o avental sujo de farinha. Já sonhei com isso, mas a liberdade de ser capitã da minha própria vida é muito mais sedutora, já é natural ser a comandante.
Revi quando deixou o navio em seu leito de morte sabia que ele estava em boas mãos, fui treinada na navegação, nas lutas e artimanhas mais exóticas dos sete mares, essa embarcação não afunda, não comigo dentro, eu prometi a ele.
O fim de noite no convés era de festa quando nos aproximávamos do destino. Cinco meses sem pisar na terra enlouquece qualquer homem, ou mulher, se você não estava habituado a embarcação, logo percebia a movimentação diferente de cantorias e risadas, era sinal que o destino se aproximava, e logo se daria fim a mais um acordo, mas, se não fosse por isso, era a cantoria de um marinheiro apaixonado ou comemorando mais um ano de vida, a vida naútica nos tornava sinceramente agradecidos.
Da minha cabine eu ouvia a bebedeira no fundo, batidas de canecos uma após a outra davam ritmo as obscenas melodias. Rodeada de mapas eu calculava, e recalculava por quanto vender aquelas sedas, o comprador era um grande comerciante em suas terras, pelo preço que ele iria vender essas jóias seria uma ninharia o valor pago.
Trinta homens para pagar, a manutenção do navio e a minha claro, não era algo barato, os saques de coisas realmente valiosas faziam valer a pena os perigos, e o tempo longe da terra, claro. Uma batida na porta me acordou do devaneio.
“Entre!”, falei jogando a pena sobre o pergaminho, e recolhendo as botas de cima da mesa.
“Chefe, os homens sentem sua falta no convés”, disse Tom olhando curioso os papéis sobre a mesa.
“Tom é por isso que sou a Capitã, nada de rum pra mim hoje, estamos próximos de fechar um grande negócio”
Droga!, pensei, era Tom, justamente quando eu estava absorvida pelo trabalho, ele me lembrava dos meus desejos reprimidos, não posso encara-lo por muito tempo, posso não resistir ao convite, ele sabe o que veio fazer aqui…
“Tom, tenho que trabalhar, pode ir…”
“Você está muito tensa coração, essa preocupação toda não combina com você”.
Poxa... eu estava mesmo, nem tinha pensado nisso direito, e ele já estava com as mãos em meus ombros, me massageando! ah que merda…
“-Tom…”
“Chefe relaxa, é só uma massagem, não mordo e nem precisa pagar,” ele riu, “hoje é cortesia…”
A massagem desceu do pescoço para os ombros, dos ombros para os braços...e logo o toque aveludado dos seus lábios surgiram pelo meu pescoço, devagar os beijos foram virando leves mordidas que desciam pelos meus ombros me arrepiando por inteira, quando me dei conta já estavam nos meus seios.
Meus seios começaram a pesar com a luxúria, minha pele começou a arder de excitação, os mamilos se enrijeceram em resposta e procuraram pela boca dele, as lambidas viraram uma sucção nervosa e urgente, minhas mãos começaram a tatear por todo seu abdômen definido e desceram até a calça, rígido e inchado o membro quase rasgava a calça.
Deitou-me sobre a gloriosa mesa de madeira do meu escritório, e levantou minhas saias, o corpete já estava longe, só as saias eram um empecilho para a minha completa nudez, foi quando sua mão grande e firme separou minhas pernas encontrando o monte, úmido, quente e inchado pela espera de toda aquela dança, ele sussurrou ofegante ao meu ouvido:
“Chefe, acho que agora você está precisando de ajuda aqui…”
Os seus dedos ásperos e grandes de repente se traduziram em delicadeza, abrindo-me como uma flor e explorando cada cantinho dela, a lubrificando inteira com o meu próprio mel.
Meu peito subia e descia ofegante e dolorosamente suplicante, imaginando o ápice a explosão daquelas sensações, uma gota de suor frio escorreu pelas minhas costas quentes, arrepiando-me os pelos adormecidos.
Ele desceu os ombros, serpenteando com a língua meu ventre, a ansiedade tomou conta do meu corpo, com o toque gélido e quente ao mesmo tempo da sua boca, foi quando senti o beijo demorado entre as minhas pernas, a sua língua pesada e quente cobrindo meu clitoris em movimentos longos e macios,sugando e me reivindicando, meu sexo quente latejava em resposta às suas carícias provocantes, enquanto ele se deliciava com o néctar da minha excitação, minhas pernas tremiam, minhas costas arqueavam e meus dedos dos pés se contorciam, em transe diante de todas aquelas sensações, seus dedos escorregaram para dentro de mim, estimulando entre as longas e prazerosas lambidas, meu gemido aumentava a profundidade do olhar dele, que se embebia de desejo por apenas me provar, que marinheiro safado era aquele! E me entreguei ao gozo certo e esperado completamente.
Ele se levantou, sem camisa, suado exalando cheiro de homem e sexo, ofegante de desejo me olhou nua e corada, completamente extenuada pela onda de prazer e ainda com a ereção vigorosa apontada em minha direção, uma promessa para a longa a noite.
“Chefe a senhora é uma delícia” limpou o maxilar com a barba serradas com as costas da mão “Vou buscar uma caneca de rum pra você, parece com sede”
Maldição! pensei comigo, hoje era dia de trabalhar, mas foda-se só por hoje.A tripulação do Medusa naquela tarde não tirava os olhos do horizonte, a qualquer momento o vislumbre da costa apareceria de acordo com as minhas coordenadas, tudo estava preparado para a grande negociação.
Na cabine eu me banhava na tina de água borbulhante preparada para mim, aquele ritual era especial, nele eu usava meus melhores sais de banho, saques de terras distantes, e óleos essenciais que perfumam e hidratam minha pele, negociações eram momentos tensos, ainda mais quando enfim descobriam que o capitão era na verdade uma capitã. Eu tinha que ser persuasiva e sedutora para essas ocasiões, infelizmente o mundo pertencia aos homens.
A sensação de passar aquele óleo perfumado de flores brancas e cardamomo preenchia todos os meus sentidos, o vapor da água no meu rosto, o relaxamento proporcionado pela temperatura do banho, traziam uma imersão nas memórias de meses ao mar, e me enchia de expectativas sobre o retorno à terra firme.
Shankar, comerciante de maior prestígio em Krazeni era dono de praticamente toda aquele suntuoso polo de comércio, tudo passava por suas mãos, escravos, bordéis, uma simples venda de uma tâmara até a morte de um general do alto escalão, a sua riqueza comprava informações e mais riquezas, eu havia pesquisado tudo sobre ele pelas ilhas que passei, das dançarinas aos capitães de outras embarcações.
Com certeza, seria um desafio não ser passada para trás na negociação, mas, em minhas veias corria o sangue de uma comerciante, e na falta de palavras havia persuasões menos ortodoxas mas também eficazes para um acordo assim.
Levantei da tina, e me enrolei em uma toalha felpuda, peguei minha calça e meu corselet preto de couro que valorizava meu colo, me deixando ainda mais curvilínea, o suficiente para distrair os punhais pela vestimenta, uma tática sutil de distração numa briga se necessário.
Olhando pro único espelho daquele navio soltei os cabelos longos e castanhos sempre presos numa trança caindo no colo várias mechas onduladas, pintei os lábios de um tom carmesim que combinou perfeitamente com a minha pele bronzeada, e nada nos olhos, por serem grandes e amendoados já eram expressivos o suficiente.
Ao sair da cabine, o sol já se punha e o céu parecia pintado pelas mãos dos Deuses antigos, o laranja iluminava o rosto manchado de sol dos meus marinheiros, mais adiante já observamos o mercado a céu aberto na orla da praia,a vista das pequenas tendas coloridas enfileiradas e milhares de pessoas transitando gelaram meu estômago, fechei os olhos e inspirei novamente a brisa do maritima trazendo consigo os odores da cidade, fritura, pesca, perfume e fumaça, tantas informações antecipando o que encontraríamos lá.
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Sabina - Entre o Desejo e o Poder
RomanceSabina é Pirata e Capitã do Medusa, atraente e destemida, ela desbrava os mares e faz comércio com compradores duvidosos e perigosos. A bordo do seu navio é uma implacável Pirata,assim, como na sua ardente vida amorosa. Em busca de riquezas terá qu...