Gritei:
“ homens preparem a embarcação! vamos atracar no porto agora, vamos! vamos! “
“Jhon? Cadê o Jhon?”
“Aqui senhora!”falou o velho vindo em minha direção com vários pergaminhos nas mãos.
“Quero os nomes de todos a bordo...avise que fiquem atentos a partida, não espero por ninguém” me dirigi ao ponto de controle.
Selecionado os marinheiros que fariam turnos para a vigilância da mercadoria atracamos com sucesso no porto de krazeni, John e Tom me acompanhariam na negociação, nos acomodamos na pousada mais próxima.
Entrei pela ornamentada porta de madeira ao encontro de uma saudosa amiga.
“Surya minha amiga há quanto tempo!”
A rechonchuda mulher não pôde conter a surpresa e a animação ao reencontro após tantos anos, desocupou as mãos limpando-as no avental e correu em um abraço demorado demais para alguém que não era acostumada com toques de afeição puro e simples.
Desajeitadamente desvencilhei-me do caloroso abraço, mas a matrona logo me agarrou pela cintura com genuína felicidade.
“Minha nossa! que mulherão você se tornou! Não parece em nada com aquela menina assustada que o Capitão Ravi carregava para todos os cantos!”
Surya era uma mulher experiente, e dona de uma pousada simples na cidade, Capitão Ravi amava aquele lugar, e caia de amores por Surya que sempre o recebia com a melhor comida local, se tornou uma grande amiga e era muito sábia, o que tornava a hospedagem mais do que conveniente.
“Mulher me arrume dois quartos?”
“Sabina...claro! arrumo agora!”
E logo Surya chamou as criadas para que tornassem mais ágil nossa estadia. Mulheres de todas as idades, com os olhos pintados de kajal e muitos tecidos coloridos envoltos de seus corpos, trabalhavam como formiguinhas para nos guiar até nossos respectivos quartos, um trabalho tão sincronizado que pareciam há milênios repetir os mesmos movimentos, era hipnotizante, a beleza de vê-las preparando todos os detalhes.
As amplas janelas da pousada eram todas cobertas com longas e claras cortinas que balançavam com a brisa vinda do mar, a luz entrava em todos os cômodos iluminando os requintados móveis de madeira dando cor ao jardim interno e mesmo no calor escaldante a pequena pousada era fresca, colorida e aromática.
Toda aquela cena aflorava uma saudade daquele que foi um segundo pai, meus olhos marejaram e a necessidade de desviar de qualquer rosto familiar me levou a fitar a decoração…
“Sabina vamos tomar um chá! vai me contar sobre Ravi, tenho tanta saudades daquele rabugento! Onde ele está? E o que a trouxe depois de tanto tempo de volta? venha!”
Os Olhos espertos da minha amiga vasculharam minhas expressões, meus lábios secaram em pensar na terrível resposta que a aguardava...pobre Surya, como ela reagiria?
A mulher lançava perguntas como Tom disparava piscadelas para criadagem, de repente bateu um arrependimento de sair do convés, minha mão suava e o calor aumentava. Pelos Deuses como queria me banhar!
A mesa estava posta como há muitas vidas eu não via, pães, bolos de todos os tipos, geléias, queijos, manteigas e doces em uma fartura que alimentaria toda uma tripulação… foi quando ela me serviu uma xícara fumegante de chá, e a pus nos lábios inspirando aquele vapor aromático e morno que suas perguntas recomeçaram.
Explicar o por quê Ravi não estava mais conosco me entristeceu profundamente, a obrigação de parecer forte diante da tripulação não me permitia vivenciar meu luto. Com serenidade fui contando o acontecido;
“ Foi em um saque Surya, achamos que se tratava apenas de um navio de comércio como tantos outros, quando aparelhamos os navios e partimos para cima deles, se tratavam de piratas, não eram simples piratas como de costume”…interrompi olhando as folhas do mate que sobraram no fundo da xícara... “ eram Sudeses, do tipo que saqueiam não só pelo ouro, mas pelo esporte de tirarem vidas, estavam armados com espadas dadaos de metal do Fogo até os dentes, quando viram nosso infeliz engano cortaram tantas cabeças quanto puderam, eu corri para o Medusa para desaparelhar a embarcação e conseguir salvar a tripulação, ordenei que abrissem fogo com canhões enquanto manobrava, Ravi permaneceu na linha de frente lutando ao lado dos marinheiros, quando enterraram uma adaga em seu peito, consegui salvar mais homens que esperava, mas perdi meu capitão…”
Surya se levantou e me abraçou pelas costas, ela sabia que eu não era de abraços, mas não se conteve com as lágrimas que deixei cair.
Ela me acalentou como uma mãe.. e de repente a dor corroeu meu peito, era tanta saudade,os dias como aprendiz pareciam tão distantes, um cansaço muito além do físico alcançou minha alma, tantos meses depois...
“Menina, sinto tanto que não pode imaginar...eu o amei muito, uma infelicidade ter partido sem darmos um fim feliz a tantas histórias…” E choramos juntas, acolhendo uma a outra em nossa dor..
Um silêncio pesado caiu sobre nós, Surya fitava as janelas com vista para o mar, talvez imaginando como seria se tivessem tido algum tempo juntos, se Ravi não fosse tão mulherengo, se ela mesma fosse mais corajosa e enfim deixado tudo para trás.
Lembrando da minha presença, lançou um sorriso amarelo, poderia não ser um sorriso só um mexer a boca.
“Mas conte-me Sabina” enxugando os olhos, “ não foi para me trazer essa notícia que veio até Krazeni, a que veio desenrole!”
“Surya, tenho uma carga de Sedas Mulberry tão lindas que os deuses chorariam se a tocassem, foi um saque lindo de ver!”
Ela riu como uma crianças quando me ouviu proferir tais palavras.
“Sabina, você veio fazer negócios com Shankar?”disse, com a voz embargada em nítida preocupação.
“Sim”, falei sorrindo para o meu pedaço de pão, “Surya me leve até ele por favor, e te recompensarei pelos anos de amizade com certeza!”
“Sabina, Shankar não negocia com mulheres, os negócios que ele faz com uma mulher são debaixo dos lençóis, somente, sinto muito” Respondeu com os olhos borrados de kajal pelas lágrimas.
“Minha amiga, somos mulheres, isso não é novidade” falei limpando a boca de geléia com a toalha, “ trouxe Jhon comigo ele irá intermediar a negociação até me apresentar como devo, ou melhor, mereço” sorrio.
“ Está bem Sabina, vou mandar o recado que um comerciante veio de longe trazendo uma carga de seda, e vamos ver se ele tem um horário para te receber” já se levantando olhou para mim “ Se eu fosse você sairia para procurar vestimentas que condizem com a cultura local, o seu traje só vai escandalizar Shankar, mulheres não usam calças”
“Mas eu uso Surya”
Ela saiu batendo o pé, eu não iria me curvar a um capricho masculino que nada tinha haver com o que me propunha a fazer.
Que ele se escandalize e morda a própria língua, Jhon intermediária por mim e eu vou estar devidamente apresentável como Capitã do Medusa.
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Sabina - Entre o Desejo e o Poder
RomanceSabina é Pirata e Capitã do Medusa, atraente e destemida, ela desbrava os mares e faz comércio com compradores duvidosos e perigosos. A bordo do seu navio é uma implacável Pirata,assim, como na sua ardente vida amorosa. Em busca de riquezas terá qu...