Quando tudo era bom

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A luz do sol batia no rosto de Melory e calor em sua pele trazia em paz naqueles poucos segundos, nem mesmo o choro de uma criança que derramara seu sorvete ou latido dos cachorros a incomodava. Seus olhos se abriam devagar para se acostumarem com a luz, mas a imagem do lindo céu azul acomodara sua visão rapidamente. Infelizmente a paisagem distorcera do paraíso ao inferno em segundos, o ambiente a agredia de tal forma que nem cogitava sentir algo por aquele cenário. Há muito tempo ela parou de olhar nos olhos de outras pessoas seja por desinteresse ou repudio, já que não se importava com quase ninguém. Se esquecera de quando o mundo ficou tão tedioso assim, cachorros correndo, crianças brincando, casais se beijando era tudo tão desinteressante quanto a barata que passeava na calçada. Ao fim de um grande suspiro uma mão quente amorosa se apoiou em seu ombro:
- Desculpe flor, não tinha sorvete de limão então trouxe um de menta.
- Tudo bem pai, não me incomodo. - Ela respondia enquanto pegava o sorvete de dele - Pai, você ainda não falou o motivo de tirado dia para a família.
- Ué? Eu preciso de ter algum para querer ficar com minha filha e esposa? - Respondia o homem alto tirando seu chapéu para sentar ao lado de sua filha.
- Da última vez que fez isso foi porque você provocou um incêndio em casa, eu e mamãe ainda não te perdoamos sobre aquilo.
- Já faz muito tempo que isso aconteceu e vocês me perdoaram. - Ele falava sem graça enquanto passava sua mão em cabelo liso envelhecido pelo tempo.
- Daquela vez você me comprou um celular e computador novo, já para a mamãe deu um ingresso para a conferência de tecnologia na Alemanha. Como você nos trouxe até aqui estou imaginando algo quebrado do laboratório dela, foi isso? - Melory conversava calmamente enquanto tomava o sorvete.
- Aí, não foi isso, e não vá deduzindo coisas tão precisas assim. - Ele já estava apavorado com as acusações.
- Sabe que for isso, ela provavelmente vai se separara do senhor e eu com certeza escolho ficar com ela, além de que metade de suas poses irá para ela. Então pensa bem antes de fazer qualquer besteira.
- Ela nunca fará isso - Ele ria com muita preocupação.
- Não se preocupe Melory, eu já tenho os papeis de divórcio pronto e todos os acordos já estão fechados. - A voz de sua mãe ecoou tão repente que assustou o pai e surpreendeu Melory.
- Espera! Por que você tem os papeis de divórcio prontos? Vai se separar de mim, Zoe? - O medo fez com que seu sorvete caísse no chão - Não! Meu sorvete!
- O seu jeito causa muito problemas para mim, mas não se preocupa, ainda tenho motivos para ficar aqui e surpreendentemente você não fez tantas merdas quanto esperava, parabéns. - A moça de óculos e cabelo prateado tomava o sorvete enquanto via a paisagem.
- Sinceramente às vezes me pergunto se você tem coração. - Ele simplesmente parou de falar enquanto abaixava a cabeça para se remoer por dentro.
Zoe viu o desanimo dele e andou para frente dele se abaixando até seus olhos se encontrarem e falou:
- Estranhamente você me deu os dois melhores presentes da minha vida, meus anos com você e ... - Nesse momento ela olhou para Melory que a observava com um lindo sorriso e retribuiu sorrindo de volta.
Aquelas palavras encheram o corpo dele de amor e rapidamente se jogou na direção dela para abraça-la, mas deu de cara com o chão já que Zoe tinha desviado.
- Não se empolgue demais - A mulher falou enquanto retornava a tomar o sorvete.
- O papai é tão bobo - Melory ria muito da cara arranhada dele que mal entendia o que estava acontecendo.
A mãe se aproximou dele e puxou com força a gravata de seu terno, o intimidando com seu típico olhar de morte:
- Então, Adam Meyer, o que você fez no meu laboratório?
- Eu... eu não fiz nada de mais - Havia poucas coisas que assustavam o Diretor-executivo dos laboratórios MEYER, mas no topo da lista estava sua mulher e filha.
Como reposta ele recebeu um sorvete em seu rosto com força:
- Melory me dê seu sorvete - Pedia Zoe para sua filha.
- Desculpe mãe, mas já acabei o meu, se quiser ajudo a bater nele. - A garota de cabelos prateados e uniformizada se preparava enquanto chegava mais perto do pai.
- Melhor falar agora. - Não era mais uma mulher que falava na frende de Adam e sim um demônio que esperava o sinal para atacar.
- TABOM! Eu conto, só não me batam de novo... fui limpar o laboratório como surpresa para você, e acabei batendo em um aparelho que fez um buraco no chão. - Ele já fechava seus olhos esperando o golpe, mas surpreendentemente só caiu para trás assim que zoe largou sua gravata.
- Se for só isso, tudo bem.
- Sério mesmo? Não vai me bater? Sem "Adam seu idiota? - Ele realmente estava surpreso pela reação de sua amada e assustadora esposa.
- Você ainda continua sendo idiota, mas aquilo era um projeto antigo para o governo. Uma escavadora portátil que você provou realmente funcionar, agora posso vender.
- Que sem graça pai, nem para fazer algo pior - Melory voltou a se sentar desapontada com o fim da história
- Você é filha de quem mesmo? - Ele olhava desapontado para Melory.
- Bom, será que podemos voltar? Ainda tenho algumas pesquisas para fazer antes do jantar. - A esposa olhava as horas em seu relógio tentando apressar a todos.
- Tudo bem, já que a dona pressa quer ir, então vamos. - Alfinetou Adam enquanto se virava para o outro lado da praça vendo o mordomo da família ao lado do carro.
- Dona o quê? - A aura de morte nas costas do pai retornou rapidamente.
- Nada, vamos embora - Ele se apressou a andar.
A praça era grande e muito conhecida por ser um ponto turístico da cidade de Liberty City, como sempre estava lotada e a família de Melory apesar de conhecida passava despercebida no meio da multidão. Aos passos que davam a garota observava ainda que relutante as pessoas a sua volta e uma dúvida surgiu em sua cabeça:
- Pai, o que nos diferencia deles?
- Filha, toda essa gente vive em busca de sonhos fúteis e desejos pessoais tolos- Ele olhava com certo desprezo a todos.
- E o que isso me diferencia deles pai?
- A diferença é que você não tem a ambição deles, não passara dias se preocupando em ter mais ou ser mais. Quando você não tem ambição sua felicidade é mais sincera, mais pura, pense como se você fosse o sol e eles fossem só estrelas, toda noite eles tentam brilhar mais que os outros, e você naturalmente ofusca todos com seu brilho, assim não morrera desejando brilhar mais. - Ele sempre teve orgulho de Melory desde a primeira vez que a pegou no colo.
- Ambição, é? - De fato em nenhum momento ela sonhou em ter algo ou ser algo, toda vez que lhe perguntavam sobre seu futuro, respondia ter motivo para pensar em algo distante. E tudo que queria sempre comprava, de fato ela não tinha ambição - E você mãe? O que acha?
- Não se importe muito com esses seres Melory, nenhum tem importância num âmbito universal e logo sumirão como poeira espacial que são. - Zoe falava calmamente enquanto expressava um sorriso confortante para sua filha.
- Até nós? - Indagou Melory curiosa pela resposta de sua mãe.
- Não, nós somos diferentes, pelo menos eu e você sim já seu pai não sei. Desvendamos o universo e assim querendo ou não ele notará que seremos maiores que ele um dia.
- Tem razão mãe, você realmente é incrível. - Não existia ninguém tão radiante quanto sua mãe aos olhos da filha.
- Por que sou tão insignificante quanto os outros, hein? Me explica isso? - Adam sentiu a alfinetada e quis tirar satisfação.
- Não começa, vamos só para casa. - Zoe demonstrava total desinteresse na briga de agora.
- Como Assim?
- Desculpem! - Um homem acabado escorado a um poste de luz onde passavam interrompeu a briga - Será que poderiam me ajudar?
Toda família reparou no mendigo e enquanto zoe continuou a andar, adam pensou antes de ajudar e se ajoelhou enquanto pegava sua carteira:
- Vou te ajudar meu amigo, afinal todos precisam de ajuda de vez em quando - Ele então inclinou para colocar o dinheiro na caixa do pobre homem, mas parou de repente. - Mas seria meio injusto te ajudar e não ajudar os outros, afinal por que você é mais especial que os outros?
O homem com roupas velhas não entendia bem o que Adam falava e julgava que tudo não passava de brincadeira. Já adam se levantou novamente e gritou:
- POR FAVOR ME ESCUTEM, EU DEPOSITAREI MIL DÓLARES NA CAIXA DESSE SENHOR, QUEM QUISER PODE PEGAR!
Rapidamente muitas das pessoas que passeavam na praça se aproximaram interessadas no dinheiro, e o homem de terno colou o dinheiro na caixa que rapidamente atraiu todos que esperavam. Criou-se um alvoroço no meio do poste de luz, Adam se aproximou novamente de Melory e esperou. Quando a multidão se dispersou a caixa que antes tinha alguns trocados estava vazia agora e o mendigo foi chutado de perto, depois do ocorrido pai e filha seguiram de volta ao carro. Contudo uma mão se aproximou atrás de Melory e tentou agarra-la, era o homem de trapos, mas o pai rapidamente o jogou para longe.
- SEU DESGRAÇADO! - O mendigo revoltado com o que perdera queria vingança, mas toda fúria foi substituída por medo ao ver a expressão que Adam mostrou.
- Nunca mais ouse tocar na minha filha. - Apesar de calmo seu olhar furioso calou aquele homem estirado no chão.
O mendigo não quis mais arranjar briga e só pegou a caixinha indo embora logo depois, já o pai e a Melory voltaram para o carro.
Enquanto o automóvel andava retornava para casa a filha verificava as notificações do seu celular, mensagens de seu time de vôlei, outras eram de sua professora avisando sobre o tempo de inscrição do time no campeonato, e até tinha uma de Suzune avisando o horário que chegaria na casa de Melory para fazer o trabalho da escola. Depois que conferiu tudo ela desligou seu celular e voltou sua atenção para a paisagem do céu. A vibração do celular atraiu sua atenção e ao ver quem ligava o desanimo tomou conta rapidamente:
- Já avisei para não falar comigo se não for na escola.
- Que isso amor? Só quero saber como você está? E se por acaso sua mensuração está atrasada - Alex sempre tinha conversas estranhas com Melory.
A menina simplesmente desligou o telefone rapidamente e fingiu que nada acontecera, mas não demorou muito para ele retornar à ligação:
- Se você tiver um filho meu podemos colocar o nome de Luka e se for menina pode ser Luna, o que acha?
Ela desligou novamente o telefone e dessa vez o bloqueou, mas surpreendentemente o celular de Adam tocou:
- Fala velho, pode perguntar da sua filha se ela não quer transar de novo para ter certeza de engravidar. - Como sempre Alex não tinha noção do que falava.
- O quê? Seu merda, se você fizer algo com minha filha juro por Deus que - O homem nem conseguiu acabar de fala quando Melory o tomou o celular:
- Não sei que droga você está usando, mas nem nos beijamos imagina dormir juntos. Agora para de incomodar e me ignora.
- Mas - A ligação cortara já que Melory jogara o celular pela janela do carro.
Adam demonstrou espanto e tristeza pelo que sua filha fizera e ela sem sentir culpa falou:
- Suponho que o senhor precisa de um celular novo pai, o seu está meio quebrado.
- Claro que está quebrado, você acabou de jogar ele a 40 km/h.
- Para de chorar pai, seja homem. - Melory retrucou enquanto tirava os fones de ouvido.
- Mandou bem filha - Zoe apesar de não olhar a situação confiava em sua filha.
E a vigem de volta para casa foi silenciosa com adam vendo relatórios dos laboratórios, Melory ouvindo Lo-fi, Zoe mentalizando seus novos projetos, e Kent dirigindo
Ao chegar todos saíram do carro e seu pai logo avisou que iria par seu escritório para revisar algumas papeladas antes do jantar, e sua mãe se encaminhara para o laboratório:
- Posso ajudar a senhora? - Melory não queria ficar sozinha.
- Tem certeza? A sua amiga não chegará em breve para o trabalho escolar? - Perguntava à sua filha enquanto abria a porta de casa.
- Ainda é esta cedo mãe, ela só vem as 17.
- Se for assim tudo bem, pode me ajudar.
Todos entraram em casa se encaminhando para os respectivos locais de trabalho, escritório e laboratório. Apesar de estar no ensino médio Melory era dotada de uma inteligência incrível se nivelando a sua mãe, com 18 anos já tinha vários prêmios de ciência e excelentes notas na sua escola e por causa disso sua mãe sempre a chamava para participar de projetos novos.
- Mãe, o projetor de elétrons não consegue trabalhar com os gases nobres e já aumentei a voltagem dele, mas nada até agora nada, pode me ajudar?
Zoe se aproximou dela para ver os que estava havendo e já soube o porquê do problema está ocorrendo:
- Aqui filha, se você inverter a polaridade ele conseguira trabalhar com os gases nobres.
- Ah! Obrigada mãe - Apesar do trabalho exaustivo que tinha era uma alegria ajudar sua mãe.
A mulher ficou alguns segundos observando sua filha trabalhar esboçando um sorriso inconscientemente, mas reparando no cabelo solto a atrapalhando logo tirou sua liga que prendia o seu cabelo para arrumar o de Melory. A filha se surpreendeu com o movimento, mas continuou o trabalho:
-Caramba Melory, você sempre está com o cabelo solto, já falei que enquanto trabalha pode ser perigoso. - Dizia sua mãe enquanto arrumava o cabelo de sua filha para prender
- Gosto dele solto mãe, tenho orgulho dele ser prateado igual o seu.
- Você pode mesmo se parecer muito comigo e até ser tão inteligente quanto, mas é seu jeito único que te torna incrível, lembre-se disso. - Zoe acabara de prender o cabelo de Melory e agora fazia um coque em si mesmo.
- Vou lembra...também já acabei minha parte, mãe.
- Bom, agora que terminou sua parte o estabilizador gravitacional foi concluído, agora temos que testar, a pergunta é... em que usaremos?
As duas pensaram por alguns minutos até chegaram a mesma conclusão que resultou em sorriso maliciosos de ambas as garotas. Um dos "esportes" favoritos delas era perturbar Adam, que estava concentrado em seu escritório, então ambas subiram as escadas do laboratório que davam para o corredor principal da mansão onde moravam. Como se fossem assaltar um banco as duas se esgueiraram por todos os cômodos causando estranheza no mordomo Kent e nas empregadas até chegarem no escritório de Adam, ele estava distraído no celular deixando aberto o momento perfeito para atacarem. Preparando o equipamento para a gravidade invertida elas disparam no notebook do homem que logo se espantou com o computador subindo para o teto:
- Mas o que isso? O que está acontecendo?
As risadas das garotas fizeram com que pai percebesse ser mais uma das diversas pegadinhas delas, e ele rapidamente se aproximou delas:
- O que vocês estão fazendo? Eu preciso trabalhar, devolvam meu computador logo. - Ele estava estressado demais para ficar brincando.
- Quais as palavras magicas, amor?
- AGORA! - Gritar nem de longe era a resposta que elas queriam.
Zoe logo atirou no sapato de Adam o puxando para o teto, e agora de cabeça ele percebeu com quem estava lidando:
- Ficará aí até aprender a respeitar sua esposa e a Melory - Zoe falava isso enquanto se retirava.
- Espera! Por favor, me desculpem por antes, me tirem daqui.
- Que tal fazer assim mãe, devolvemos o computador para o papai se ele nos vencer em uma partida de vôlei? - Melory aproveitou a chantagem para fazer algo em família.
- Não acho a ideia de todo mal, e se ele perder fará o jantar de hoje, o que acha? - Perguntava enquanto olhava para seu marido.
- Partida de vôlei? Está bem, eu aceito, só me tirem daqui. - Ele não tinha como recusar e já sentira náusea devido ao sangue indo à cabeça.
Assim elas reprogramaram a máquina e o deixaram cair no chão:
- Vamos nos arrumar, te esperamos na quadra as 16, não se atrase. - Ambas saíram do cômodo deixando Adam se recuperando da queda.
Melory fazia parte do time de vôlei de sua escola e pediu uma quadra para seus treinos, era o local em que a garota mais passava tempo e às vezes seus pais jogavam com ela fazendo algumas apostas. Já estava no horário e Adam, devidamente vestido, se aproximava da porta que dava para a quadra até Kent chamar sua atenção:
- Senhor.
- O que Kent?
- Ainda falta decidir sobre o fechamento da sede em Moscou?
- É aquela unidade onde uma das cientistas roubou as plantas do novo projeto e vendeu para nossa concorrente? - O homem de cabelo castanho tentava lembrar o motivo de fechar a sede.
- Sim, senhor. - Afirmou o Kent.
- Bom, demita todos de lá, já a ladra puna da pior forma possível.
- Senhor devo lembrar que o país não passar pelo melhor momento econômico e serão mais de 4000 empregos desfeitos.
- Kent, você obedece ao que eu disser sem questionar ou vão ser menos 4001 empregos, entendeu? - Adam continuou caminhando para porta.
- Devo solicitar os serviços da GCV novamente? -Questionava o mordomo de cabelos louros enquanto seu patrão se distanciava.
- Sim, eles podem fazer o que quiser, estuprar, torturar, contanto que no fim matem toda família dela. - Logo após sua ordem ele chegou na quadra onde viu Melory e Zoe jogando uma partida para aquecer.
A velocidade de Zoe tentava compensar sua falta de experiência e muitas das vezes até conseguia surpreender a adversária rebatendo as bolas, mas por sempre estar na defensiva não pontuava tanto. Já Melory atacava a todo o momento, a experiência em diversos campeonatos e treinos constantes a tornava uma das melhores jogadoras do país. Ao pontuar mais uma vez a filha reparou em seu pai entrando na quadra e logo se animou:
- Finalmente chegou pai, já tive o prato de entrada e agora está na hora do prato principal. - O sorriso sádico era evidente em seu rosto.
- Não sei de quem sinto mais medo, você ou da sua mãe - Falava o pai enquanto se alongava - Mas dessa vez eu ganho, com certeza.
- Parem de brigar, vamos jogar logo. - Zoe já andava par ao mesmo lado de Melory para começar o jogo.
- Vamos lá então. - A confiança motivava o homem.
Adam fundou os laboratórios MEYER onde Zoe inventava os projetos e ele cuidava do marketing além da situação financeira, ele tinha várias habilidades e aptidões, mas esportes não era uma delas. E como esperado foi uma humilhação:
- Será que o mundo me odeia? - Indagou a si mesmo enquanto estava estira no chão.
- Para de drama pai, só foi mais uma humilhação. - Ria a filha enquanto pegava a bola para guardar. - E você tem que fazer o jantar agora.
- Pode deixar Melory, eu cozinharei hoje porque se o seu pai fizer a comida iremos parar no hospital, devolverei o seu computador também se parar de choramingar. - Zoe enxugava seu suor na toalha. - Não esquece que sua amiga chegará em breve Melory, melhor tomar banho.
- Tudo bem mãe, já estou indo. - A filha se despediu dos pais e entrou em casa.
- Em minha defesa, eu estava jogando contra uma mulher rápida e a capitã do time de vôlei, não tinha chance - Lamentava ele enquanto observava o céu.
- Pare de ser um mal perdedor, vem cá. - Zoe se aproximou de seu marido e estendeu a mão para levanta-lo. - Vamos entrar logo.
No entardecer ouviu-se a campainha anunciar a chegada de Suzune na casa dos Meyer e Adam atendeu a porta:
- Olá, bem-vinda Su, como está.
- Estou bem sim. - A uma menina de cabelos curtos negros da cor de seus olhos não olhava para o homem, os olhos estavam fixos no livro que lia.
- Que bom que você se preocupa com os outros também, entre por favor. - O homem esperou a garota entrar para fechar a porta. - Pode subir que a Melory já está no quarto dela.
- Obrigada - Suzune não desgrudava os olhos do livro mesmo andando para o quarto, e bateu na porta.
- Pode entrar - Respondeu Melory no quarto
- Oi. - Su cumprimentou sua "amiga" mesmo que ambas não se vissem nos olhos.
Enquanto a convidada tirava seus livros da bolsa a anfitriã olhava no computador os assuntos que buscariam. Estranhamente ambas consideravam uma à outra como o mais próximo de amigas que elas tinham já que eram quietas e só falavam o necessário, e também as duas não tinham mentalidades infantis. Muitas vezes elas só não se incomodavam com a presença da outra por isso aguentavam fazer trabalhos em dupla:
- Amanhã visitará sua mãe no cemitério? É aniversário dela, não é? - Perguntara para Su enquanto escrevia anotações sobre Segunda Guerra Mundial
- Sim, mas vou sozinha já que meu pai estará ocupado com a noiva dele. - Su perdera sua mãe aos 17 anos e mesmo que tentasse não transparecer era evidente a falta que sentia.
Antes da perda Suzune era aberta e esboçava felicidade com certa frequência, mas já não se via aquela linda garota de olhos negros que às vezes refletiam a cor do universo. Hoje eles apesar de escuros só mostravam vazio e morte, Melory via sua "amiga" e sentia que ela morreu com a mãe e aquilo que estava senta na cama era um casco vazio que se esquecera de sumir também.
- Não acha injusto isso - Su continuou a conversa enquanto folheava os livros para surpresa de Melory.
- O quê?
- Reviver seu erro várias e várias vezes, como se fosse um ciclo infernal, e não poder fazer nada? No fim de tudo não se pode correr de si mesmo e continuar fingindo que a esta bem. Quantos erros temos que viver para pararmos de nos importar? Ou Quantos erros temos que cometer para nos acostumar com um só. - A face de Suzune estava voltada para o livro, mas algumas lagrimas ainda caíram carregadas de culpa.
- Superando ou não viveremos com isso até o fim de nossas vidas, não podemos mudar passado ou saber do futuro então só viva o hoje, sendo bom ou não, é o que temos. Não morra desse jeito Su, é medíocre. -Melory mesmo não se interessando por pessoas conseguia lê-las perfeitamente e sabia que o sentimento de fim era presente em Su desde sua perda, afinal as marcas em seu pulso eram as eram um aviso.
- Sei. - Suzune não entendia o porquê, mas sua "amiga" não tinha medo de falar o que pensava dela e isso a ajudava de certa forma.
Estranhamente a campainha anunciou outra pessoa que chegara, e o mordomo atendeu a porta:
- Fala mano Kent, tudo em cima? - Sendo uma home negro e com piercing no rosto e roupas despojadas, era Alex.
Kent simplesmente bateu a porta na cara da visita e fingiu que nada acontecera. Infelizmente a campainha tocou novamente e Adam atendeu dessa vez.
- Meu velho, como anda? Segura aí. - Alex simplesmente entrou enquanto colocava uma grade de cerveja nos braços do anfitrião.
- Espera! Eu não deixei.
- Estou indo lá no quarto da minha namorada para dar um presente para ela, já desço para o rango - Ele simplesmente ignorou Adam e subiu com o presente nas mãos.
Ao chegar no quarto de Melory decidiu assusta-la entrando rapidamente e fazendo algazarra, mas logo quando entrou controle de tv o atingiu.
- Aí! Por que você fez isso? -Falava o garoto enquanto passava a mão na testa.
- Você é idiota, não preciso ter motivos, além disso não te dei permissão de se aproximar de minha casa a menos de 2 km. Então a pergunta é, quer que eu chame a polícia ou vai embora por contra própria? - A aura ameaçadora de Melory era tão grande que ela não precisava olhar para Alex para intimida-lo.
- Cruz credo Amor, algum problema do seu namorado querer ver voce? E também tenho um presente para você. - Ele colocou o presente na escrivaninha de Melory.
- É uma bomba, chama o exército. -Comentou Su enquanto lia o livro.
- Eles já estão na linha - Respondeu a namorada.
- ESPERA! Pelo menos olha o presente antes de me tratar como terrorista. -Implorou o garoto.
Mesmo desconfiada Melory abriu o presente vendo ser um pote de picles, o alimento favorito de dela:
- Está bem, você pode ficar até o jantar. - Perdoou ele enquanto procurava um garfo para comer.
- Às vezes a Melory é um cachorro que só precisa jogar um biscoito para ter sua amizade. - Alfinetou Suzune
- Vê se me erra Su. - A garota falava enquanto comia os picles.
- Bom já que passamos disso, o que faremos hoje? -Alex tentou deitar na cama porem foi acertado de novo com o controle do ar-condicionado por sua namorada - PARA DE JOGAR COISAS EM MIM!
- A próxima será a minha luminária, se contenha. - Melory falava enquanto olhava para o celular.
- Hum... aí, lembrei que o torneio estadual está chegando, já mandou os relatórios do time para a comissão? A data limite é amanhã. - O garoto sentou no chão puxando seu celular.
- Falta pouco, amanhã termino isso.
- Sei que ser capitão é cansativo, mas temos que nos esforçar pelos times, a equipe de futebol não para de pegar no meu pé. É bem estressante. - Alex comentava como se todos estivessem interessados na conversa. -Até tive que tirar minhas luvas de tanto que suei, dá para acreditar.
- Deus, por favor, se você existe ... Mate o Alex agora. - Rezou Su.
- Aí! Sua.
- Aqui não Suzune, espero que ele morra lá fora para não dar trabalho para minha família. -Complementou a anfitriã.
- Até você? - Nesse momento Alex já tinha se decepcionado demais.
Uma batida na porta chamou a atenção de todos, era Kent os chamando para comer e assim todos seguiram para a sala de jantar. E reunidos o ambiente ficou alegre e até descontraído, muitas farpas e risadas se ouviram de todos menos de Su que se concentrava em comer. Ao fim do jantar Melory levou os dois até a porta de saída:
- Alex, leva ela até sua casa, se não ela vai se molhar na chuva. - Estranhamente era uma ordem.
- Por que eu? Manda-a de táxi ou algo assim? - Questionava o namorado.
- Também sou contra, não quero ficar em um carro com um potencial estuprador. - O olhar de reprovação não estava direcionado para Alex, mas ele sentiu a farpa.
- Eu realmente queria saber que imagem você tem de mim.
- Se você não for com ele provavelmente achara um de verdade, e Alex se não levar ela cobrarei a taxa do namoro de novo. -Com essas explicações Melory evitou mais dor de cabeça - Se ocasionalmente se matarem no caminho de volta não venham me perturbar dos mortos.
Quando os dois partiram a garota arrumou o quarto e se preparou para dormir, que já deitada na cama o seu pai bate na porta:
- Filha?
- Oi pai.
- Só passei para ver se estava bem e se precisava de algo - O pai se aproximou da filha.
- Não pai, eu estou tem.
- Então tudo bem, boa noite flor. - Adam beijou sua filha na testa e a cobriu antes de sair do quarto.
Logo quando ele saiu Zoe surge na porta da garota:
- Melory.
- Oi mãe. - O sorriso apareceu instintivamente.
- Está bem?
- Estou sim.
- Que bom.
- Mãe... te amo - disse Melory.
- Hum... hoje foi divertido, te vejo amanhã, agora dorme, boa noite. - Zoe saiu fechando a porta do quarto, permitindo sua filha de dormir.
A mulher voltava para o laboratório ao som da chuva que se fazia mais furiosa a cada instante ao olhar pela janela um grande clarão ocorreu.

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