Epílogo Parte 1 - Resiliência

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         Epílogo Parte 1 – Resiliência

       Resiliência (n.): a capacidade de
          refazer-se após uma grande 
      destruição emocional ou mental.
    A incrível habilidade de renovar-se.

Lisa's Pov

                         Julho, 2016

"Uma coisa mínima pode mudar a sua vida. Em um piscar de olhos, quando você menos espera, acontece algo que o põe em um caminho que não planejou, rumo a um futuro que jamais imaginou. Aonde será levado? É a jornada de sua vida. Sua busca da luz. Mas, às vezes, achar a luz significa passar por uma profunda escuridão. Pelo menos, foi assim para mim", encarei o pequeno caderno apoiado em minhas pernas. Meu velho diário. Olhei rapidamente a hora na tela de meu celular antes de decidir que era hora de parar de escrever.

Fechei o pequeno caderno e joguei-o em cima da cama ao lado da poltrona onde eu ainda me encolhia, sem preocupar-me com a possibilidade de alguém invadir a minha privacidade, essa não era uma possibilidade, não ali, no meu novo lar.

Desviei o olhar para a figura ereta que prestava toda a sua atenção aos botões perolados da blusa que lhe vestia o corpo em uma perfeição hipnotizante. Seus movimentos eram leves, como se cada mover de seus dedos, mãos e braços fossem pensados para impressionar qualquer observador, do mais atento ao mais desatento. As mesmas mãos que segundos antes fechavam botões, agora deslizavam pela saia que agarrava as curvas de suas coxas em um beijo profundo.

- Quando irá parar de me olhar assim? – A voz levemente rouca soou através do quarto, atingindo meus ouvidos em uma onde de arrepios pelo meu estômago.

Levantei os olhos até o seu rosto e logo desviei em direção ao espelho a sua frente para poder encontrar seus olhos, já que a mulher me olhava através do reflexo do espelho. Sorri envergonhada para ela, que me encarava com um olhar que sorria mais do que sua boca extremamente rosada, e dei de ombros, sem parar de olhá-la, o que a fez abrir mais o sorriso meio tímido.

Levantei-me da poltrona e caminhei até a mulher que continuava a finalizar alguns detalhes em suas roupas.

- Eu sei que são só três dias, mas eu morro de saudade toda vez que você vai pra Londres. – falei, soando mais manhosa do que pretendia, o que me fez fazer uma expressão mais triste do que gostaria de mostrar à Jennie.

Eu já havia perdido as contas de quantas vezes Jennie havia ido à Londres desde o início do ano, quando eu havia me mudado para sua casa. Na primeira vez, Jennie passara um mês inteiro longe de casa, deixando-me sozinha com Ella. Não havia sido uma tarefa difícil, Ella seguia à rotina que tinha com a irmã e em seus horários livres, fazíamos coisas juntas o tempo todo. De certa forma, a leveza do tempo que passara com Ella, ajudou-me a deixar de lado o peso sufocante da dor recente que me afligira. Muitas vezes, a garota adormecera ao meu lado no quarto de sua irmã, que àquela altura eu ainda não conseguia referir-me como meu também, enquanto assistíamos a algum filme, e eu não fazia questão alguma de acordá-la para ir para o seu quarto.

A rotina era simples. Ella e eu saíamos juntas. A garota ia para a escola e eu pegava o ônibus para Harvard. A garota sempre chegava em casa antes de mim, tanto por sua escola acabar mais cedo (duas horas antes), quanto por estudar mais perto de casa do que eu. A única travessura que Ella cometera na ausência de Jennie naquele mês foi a de ter cozinhado todos os dias, travessura essa que ela me fizera prometer nunca contar à Jennie.

"- Você sabe que minha irmã não gosta que eu cozinhe todos os dias porque acha que eu não vou dar contar dos meus estudos, mas convenhamos, cozinhar por uma horinha ou duas, não vai me fazer ficar mais burra. – a menina dizia, enquanto mexia com atenção alguma coisa cheirosa na panela e eu a observava. Era tão diferente de Jennie, mas ao mesmo tempo tão parecida. – E eu prometo que eu deixo você me ensinar geometria se me deixar cozinhar todos os dias. Afinal de contas, quanto mais receitas e técnicas eu aprender, melhor vou ser. – a garota provou algo na mão. – Hummmm.... Está bom! – olhou para mim. – E aí, o que me diz?".

Wonderfall - Jenlisa VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora