IV "A Casa"

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Quanto mais me afastava do centro da cidade - estranho chamar aquilo de centro - e mais me aproximava da encosta, mais o sol parecia rarear, como se atravessasse tecidos do espaço-tempo a cada quilômetro percorrido.

Chegando ao topo da colina, avistei do outro lado, próximo a encosta, praticante banhada pelas águas salgadas que batiam contra as pedras, um casarão, construído encima da rocha sólida.

Era uma construção fabulosa, porém mostrava o desgaste dos anos próximos a maresia, provavelmente mais de um século. As paredes eram tão escuras quanto as rochas ou o céu naquele local. Conforme fui me aproximando, tive maior noção da grandiosidade. "a Casa" tinha dois andares porém era impossível mensurar a quantidade de cômodos.

O terreno era todo cercado por muros de pedras, além da densa mata de pinheiros. Quando cheguei ao pé do portão principal dei-me conta da imponência dos três metros de altura de pedra bruta, do qual o muro fora construído. Uma estrutura sólida e intransponível.

Apesar de impressionado com tamanha fortaleza, senti um pingo de alívio quando verifiquei que os portões de ferro estavam abertos, receptivos a qualquer visitante.

Percorri o trajeto entre o pórtico de entrada e a casa, praticamente um quilômetro de uma estrada, pelo visto, pouco utilizada. Estacionei meu veículo e fui até a porta tão grandiosa quanto tudo o mais que havia visto até o momento.

Bati na enorme porta, sendo que não obtive resposta. Girei a maçaneta e empurrei-a, dando-me conta que estava apenas encostada.

O hall era imenso, no fundo duas escadas davam para o segundo piso, no meio avistei um espécie de recepcionista.

- Olá, busco informações a respeito de meu amigo Neto Moreira, há algum responsável com quem eu possa falar?

- Pobre Neto, acabou vendo mais do que devia, não foi por falta de aviso. Vou levá-lo até o Doutor, ele aguarda ansiosamente por sua visita.

- Que bom encontrar alguém receptivo nesta cidade - então dei-me conta - como sabiam que eu estava a caminho?

- Ninguém vem ate "A casa" sem ter sua chegada aguardada por nós. Siga-me.

Segui em seu encalço, saímos por uma porta e chegamos a um átrio imenso, sendo que tive uma visão da imensidão do local. O pátio estava repleto de pacientes, pelo menos eu os julgava assim pela roupa hospitalar que usavam.

- Não tema os pacientes, apesar de sua condição psíquica instável, eles estão devidamente medicados, e aqueles que não respondem ao tratamento estão trancados é claro, assim como seu amigo.

Antes que pudesse interrogar algo, vislumbrei o Doutor, em pé, a frente de um porta, nos aguardando.

- Venha, vou levá-lo até seu amigo, e assim você poderá partir antes que seja tarde demais.

- Como assim, antes que seja tarde demais? além disso não irei embora sem ele.

- A inocência de uma alma pura me comove. Vamos.

Decidi não questionar mais nada, muito menos criar caso, apenas segui o nobre Doutor pelos vastos e intermináveis corredores daquele assombroso lugar.

Chegamos em frente a uma porta de metal com uma típica portinhola de presídios, aquelas utilizadas para passagem de alimentos, para que os guardas não precisem abrir as celas em entrar em contato com os presos.

- Não se assuste - diz o nobre Doutor - Essas portas estavam aí antes mesmo de tais aposentos se tornarem dormitórios, seu amigo não precisa ficar preso, ele não vai a lugar nenhum.

DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora