A cabeça de Jisung não parava de trabalhar, eram tantas hipóteses do que poderia ter acontecido com Daesung que ele simplesmente não conseguia focar em uma só teoria. Ele voltou a descer as escadas depois de passar o resto da manhã em seu quarto. Não percebeu Daesung em cômodo nenhum, então, resolveu ir para o quintal. Daesung estava limpando o carro, extremamente focado.
- Daesung! - Jisung chamou e o observou.
Daesung não fez nenhum movimento. Assim como de manhã, Daesung não respondeu ao ser chamado pelo seu nome.
- Pensei que fosse dormir o dia inteiro. - ele diz surpreendendo o Han mais novo.
- Eu não estava dormindo. Estava pensando em você. - Jisung diz sério.
A resposta mais rápida de Daesung foi jogar água no irmão enquanto ria.
- Vá arrumar uma namorada, seu pervertido. Eu sei que sou lindo, mas não pode se apaixonar por mim.
- Não mude de assunto, idiota. - diz Jisung perdendo boa parte da sua postura de irmão sério.
- Ah, cale essa boca e me ajude a secar isso. - ele apontou para o carro.
Durante as brincadeiras o carro foi sendo finalizado e em um estalo de memória Jisung se recordou da mulher da seção de doces. O clima leve entre eles sugeriu a Jisung falar sobre Jiwoo, isso pareceu uma boa ideia, seria cômico infligir certo desconforto em Daesung.
- Ligou para ela? - Jisung questionou enquanto limpava suas mãos em um pano manchado de graxa, um pequeno sorriso sapeca brincando no canto de seus lábios.
- Ela? - Daesung parecia realmente confuso enquanto caminhava lentamente na direção da cozinha, sua garganta estava realmente seca depois de lavar e secar todo o carro.
Jisung o seguiu, o fato de Daesung não se lembrar de nada da noite anterior o incomodava e os pensamentos não lhe davam descanso.
- Qual é o seu nome? - Jisung perguntou parando em frente a ilha da cozinha. Ele estava cansado do comportamento estranho do irmão, Daesung não respondia quando seu nome era chamado e isso intrigava Jisung mas do que sua perda de memória repentina.
Daesung ficou ereto e pareceu tremer por alguns segundos, logo um choro foi ouvido e Daesung levou as mãos à cabeça em puro desespero, seu corpo escorregou até chegar ao chão, onde se deitou e encolheu em posição fetal. Sua mente fervia em pensamentos de julgamento e puro medo.
Jisung se assustou e se perguntou o que tinha feito de errado. O irmão mais novo correu para acudir o mais velho, este chorava incessantemente e chegava a soluçar.
- Ela... ela está morta, Jisung. - Daesung disse olhando o nada.
Jisung o encarou incrédulo por alguns minutos. Ele mal sabia como agir diante daquilo, mas uma coisa era certa: ele precisava ajudar o seu irmão.
- Onde ela está, Daesung? - o questionamento fez o mais velho avançar no mais novo em um ato desesperado, Daesung segurou Jisung pelo colarinho da blusa fazendo-o cair ao chão. Ele ofegava, seus olhos avermelhados e insanos encarando Jisung de cima.
- Eu não posso voltar, não posso. Você não entende! - Daesung disse entre dentes.
O corpo de Jiwoo estava enterrado na estrada desértica, a incidência solar deixou as partes expostas de sua pele ressecadas e em um tom vermelho nada vivo. Não havia mais cor nas suas íris, estas se faziam acidentadas agora, quase camuflando diante do branco da esclera. O sangue seco nas feridas profundas, agora cobertas por areia, feitas pelo impacto no parachoque do carro e por outros instrumentos e meios. Era quase impossível identificar ali toda a beleza que a jovem esbanjava. Aquele corpo contava histórias que fariam qualquer um temer aquele que Jisung acudia e chamava de irmão com tanto orgulho.
- O que você fez? - Jisung afastou o irmão com certa brutalidade.
- Eu a atropelei... depois tudo ficou escuro... eu não sei... como eu vim parar aqui? - Daesung levantou os olhos vermelhos e assustados para o irmão mais novo.
- Como assim, porra? Você está de sacanagem comigo, Daesung? - Jisung esbravejou.
Aquilo só podia ser loucura, achou Jisung, ele estava tendo um momento descontraído a alguns minutos atrás com esse mesmo cara, e agora estava a ponto de surtar com o esclarecimento do paradeiro de Daesung.
- Vem, vamos resolver isso. - Jisung disse firme enquanto puxava uma versão pálida e chorona de Daesung.
(...)
Os irmãos estavam no carro, Jisung no volante e Daesung no banco de trás, encolhido. Ele seguiu o mesmo caminho que o irmão naquela noite, por um momento ou outro se pegou observando o comportamento de Daesung pelo retrovisor. O que será que se passava na cabeça dele? Seu pensamento foi interrompido pelo som estridente e inconfundível de sirenes. A estrada reta não deu muitas opções de rotas de fuga para Jisung, logo, para ele, a única escapatória seria seguir reto e rezar para não chamar a atenção. Daesung pareceu desfalecer no banco traseiro, seu pânico capaz de ser perceptível a quilômetros de distância. O carro desacelerou a partir do momento que Jisung se viu obrigado por um policial, este fazia um pequeno interrogatório aos motoristas que passavam por ali. A fina camada de suor na testa de Jisung poderia ser explicada uma vez que o sol incidia sem dó naquela época do ano na região, mas como ele passaria com aquele peito subindo e descendo sem regularidade devido a sua respiração ofegante? Sem contar com Daesung que surtava olhando o número de pessoas fardadas cobrindo uma área de pelo menos 20 metros quadrados ao redor do corpo.
- Você deveria ter chamado a polícia, socorrido ela... merda! - Jisung murmurou batendo no volante.
- Eu já disse que não me lembro do que aconteceu! - Daesung respondeu.
A vez deles chegou e Jisung não poderia pensar em uma maneira boa o suficiente de agradecer a sua mãe pelas aulas de teatro que foi obrigado a fazer durante todo o ensino médio. Ele resolveu dizer que seu irmão estava doente e precisava urgentemente ver um médico da família que agora atendia somente na cidade vizinha. Pelo estado de Daesung, o policial não teve muito o que contestar até ela chegar, uma policial nada amistosa os fez sair do carro.
- Me desculpa por isso, eu apenas notei que seu parachoque está amassado. - ela disse olhando-os por cima dos óculos escuros.
Como Jisung não pensou nisso antes? Como não percebeu o amassado quando ajudou seu irmão a limpar? Jisung quase deu um tapa na própria testa, mas se conteu em morder a bochecha. Daesung não resistiu ao cerco se fechando bem ao redor do seu pescoço e em um ato rápido se apoiou no carro antes de se dobrar para frente e por todo o café da manhã para fora.
- Ele está doente, Aretha, deixe-os ir logo... vai que é contagioso. - o primeiro policial diz se afastando.
A tal Aretha torceu o nariz e em um gesto sutil de mão liberou a saída de Jisung. O rapaz se sentiu desafiado, aquela mulher com certeza não os deixaria em paz tão cedo. Ele precisava proteger Daesung e nem entendia direito como faria aquilo, já que seu irmão havia se tornado uma incógnita.
Jisung agradeceu e colocou Daesung no carro. Ele precisou dirigir muito até encontrar um retorno para voltar para casa. Durante todo o percurso Jisung pensou em como resolveria todos esses problemas, estava tão absorto que não notou quando Daesung parou de tremer e mudou sua postura. Ele não percebeu o olhar de Daesung sobre ele mudar e nem em quão pensativo Daesung se mostrou durante o caminho.
Quando finalmente chegaram em casa, Jisung caminhou em círculos por minutos intermináveis. Daesung subiu para seu quarto e não foi mais visto naquela noite.
Aretha cuidava da investigação sobre o corpo de Jiwoo, que no momento não tinha identificação. A policial estava cansada de investigar casos assim, onde mulheres morriam e nunca havia um culpado e se houvesse ele tinha dinheiro o suficiente para colocar as leis ao seu favor. Ela prometeu que encontraria o culpado e que o faria pagar. Com certeza não seria fácil, mas Aretha não sabia. Jisung limpando a sujeira do irmão e Aretha seguindo os rastros dessa bagunça, quem ganharia nesse jogo de gato e rato?
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Criminal
FanfictionEssa estória aborda conteúdos sensíveis, tais como: distúrbios, assassinato, suspense, dentre outros gatilhos. . . . . . Mulheres começam a desaparecer e a polícia não tem nenhum suspeito, nenhum ponto de partida. É uma luta contra o tempo enquanto...