Dilema

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O cheiro do café quentinho me convidava para sentar à mesa. Tânia acabara de nos preparar um delicioso café da manhã composto por pães, bolo de fubá, suco de mamão, biscoitos e patê de frango.
_Até que enfim vocês levantaram.
_ Você acordou cedo, maninha.
_ E tinha como não acordar com aquele barulho todo que vocês fizeram?
Lucas ficou vermelho por causa da vergonha, o oposto de mim que sorri.
Sentei ao lado de Lucas e Tânia foi andando em direção à porta.
_ Gente, eu vou ter que ir ali na farmácia comprar um remédio para dor de cabeça. Vocês podem ficar à vontade.
_ Você não vai comer?
_ Eu já comi, Rogério. Daqui a pouco eu estou de volta. Vamos à praia hoje?
Lucas sorriu empolgado, mas eu não estava com vontade de ir e fiz resistência.
Tânia e Lucas insistiram tanto que acabei cedendo.
_ Tá bom. Mas vamos à uma praia por aqui mesmo. Não estou com nenhuma vontade de ficar muito tempo no trânsito para ir ao Leblon.
_ Ok, então. Quando eu chegar, vou pôr o biquíni e a gente vai a São Francisco mesmo.
Tânia saiu batendo a porta.
Eu fiquei observando o Lucas comer distraído olhando para a televisão. Ao perceber que estava sendo observado, Lucas me perguntou o porquê de está o olhando. Eu não respondi. Apenas acaricei o seu queixo e beijei a sua boca.
_ Eu não quero que você fique perto da minha família. Evite falar com Vanessa e amanhã mesmo você vai pedir demissão do restaurante.
_ Rogério, eu não tenho a sua vida. Trabalho porque preciso de dinheiro.
_ Você fala nessa merreca como se fosse uma fortuna.
_ Pode não ser para você, mas para mim que não tenho nada já é alguma coisa. A minha tia exige que eu ajude em casa.
_ Você dar o seu meio salário mínimo para a sua tia? Essa mulher não trabalha não?
_ Trabalha, mas ela disse que não vai ficar me sustentando. Se eu quiser continuar morando na casa dela , eu tenho que ajudar com dinheiro.
_ Cara, você tem dezesseis anos! Isso é exploração de menor. E a sua mãe?
_ A minha foi embora quando eu tinha sete anos para morar com um homem que não queria criar filho de outro. Eu nunca mais soube dela. Ela foi morar em Recife.
_ Que merda, hein!
Eu retirei a minha carteira do bolso e o entreguei cinco notas de cem reais.
_O que é isso, Rogério? Por que você está me dando esse dinheiro?
_Aqui comigo só tenho 500. Há um banco pertodaqui e daqui a pouco vou sacar mais 500. Isso é para você pedir demissão do restaurante. Vou ficar te dando mil reais por no máximo seis meses, mas nesse tempo você procura outro trampo, que eu não vou ficar te bancando para o resto da vida.
"E nada de dar dinheiro para a vagabunda da sua tia. Diz que foi demitido e que ainda não recebeu. E se você me desobedecer e dar dinheiro a ela, eu paro de te pagar, ouviu? Eu que não sou babaca de ficar sustentando vagabunda."
_ Você quer que eu peça demissão, mas a gente vai continuar se vendo?
_ Isso vai depender de você. Se voltar a se aproximar da minha família, nunca mais vou olhar na sua cara.
Lucas levantou-se da cadeira e sentou no meu colo, apoiando a cabeça no meu ombro. Eu o abracei e beijei o seu rosto.
_ Eu estou amando passar o final de semana com você. Isso poderia acontecer mais vezes.
Em silêncio eu concordei com ele.
Sim. Eu também estava gostando de ficar perto dele e gostaria que isso acontecesse mais vezes. Mas, infelizmente, não vai rolar.
Eu sou casado e não é sempre que vou poder ver o meu menino. Ele terá que se conformar com encontros semanais em horário de almoço. Mensagens trocadas as escondidas e em um horário adequado. E isso estava começando a me angustiar.
Essa situação não é nada justa para mim. Eu amo a minha esposa e também amo o Lucas. Eu só queria poder ter os dois oficialmente. Sem que precisasse viver perigosamente, como um bandido ocultando um crime cometido.
Fomos a uma praia perto da casa da minha irmã.
Eu não sou muito fã desse ambiente. Odeio ficar exposto ao sol e pisar naquela areia suja me causa irritação. Mas o peixe frito, a cerveja gelada e a felicidade do Lucas me fizeram curtir o lugar.
Desta vez, não ficamos por muito tempo.
Almoçamos num restaurante japonês que fica próximo da praia e retornamos para o apartamento.
Eu ainda estava me sentindo cansado pelo dia anterior e decidi deitar na rede que estava na varanda.
Tânia deitou no sofá da sala e ficamos assistindo um filme.
Lucas saiu do banho cheirando a lavanda e a pele refrescada. Deitou ao meu lado na rede. Beijei-o, em seguida e o abracei e assim passamos uma tranquila tarde ensolarada.
À noite levei Lucas em casa. Deixei-o próximo da sua rua. Ele disse que não queria ter que enfrentar os interrogatórios da tia por chegar em casa acompanhado por um homem mais velho numa BMW.
Eu ainda nem conhecia aquela mulher e já a odiava.
Lucrécia me aguardava preparando o jantar.
Aproximei-me do fogão e a abracei por trás, beijando o seu pescoço.
_ Que bom que você chegou, amor. Eu estava morrendo de saudades. Disse beijando a minha boca.
_ Como foi lá com as mudanças da Tânia?
_ Foi bem cansativo.
_ Você está mais bronzeado!
_ Depois do trabalho fomos à praia.
_ Uh, é! Mas você odeia praia!
_ Você sabe como você sabe como a Tânia é insistente. Às vezes eu me rendo só para ela parar de encher o meu saco.
_ Sei bem como ela é.
_ Que cheiro bom dessa macarronada!
_ Daqui a pouco vai ficar pronta.
Sentei numa cadeira e fiquei observando a minha Lucrécia.
Eu a amo tanto! Estamos juntos há vinte anos. Contabilizando três anos de namoro e dezessete de casados.
Eu lutei muito para poder ficar com essa mulher, pois o seu pai não aprovava a nossa relação.
Na época a situação financeira deles era melhor que a minha. O pai dela era proprietário de uma farmácia e eu um vendedor de sapatos fodido, recém formado em direito que não havia conseguido um emprego na área.
Lucrécia teve que brigar com os pais pela nossa relação. Passamos dificuldades financeiras juntos e por isso eu lutei para ascender na vida e proporcionar o melhor para a minha família.
Anos depois, o desgraçado do pai dela pagou a língua. Incompetente, levou o seu negócio a ruína e atualmente vive me bajulando para conseguir algumas merrecas emprestadas.
Em relação aos meus sentimentos, sempre fui fiel a Lucrécia. Durante, todos esses anos tive vários casos extra conjugais, mas nunca estimei ninguém. Eu sempre soube separar putaria de amor e eu vivia bem assim.
Todavia, as coisas estavam mudando com Lucas. Ele tem algo que eu não sei explicar, mas que me prende e não de um jeito perturbador ou avassalador e sim me trazendo uma sensação boa. Um carinho que nunca pensei sentir por alguém além da minha família.
Pela primeira vez na vida o meu coração estava dividido entre duas pessoas. Que merda!
Ouço um barulho na cozinha e me levanto as pressas para ver do que se trata. Pego o meu revólver e caminho com cautela para não alertar o intruso.
Para a minha surpresa, o invasor era ninguém mais ninguém e menos que o Lucas. Abaixo a arma com ódio.
_ O que você está fazendo aqui, veado? Eu poderia ter te dado um tiro, seu merda.
_ Você fica muito gostoso armado. Mais viril.
_ O que você está fazendo aqui? Eu não te disse para não vir mais na minha casa? Fora daqui!
_ Tem certeza que quer que eu vá? Vai dizer que você não quer me comer aqui nesta cozinha.
Lucas se aproximou de mim com um olhar malicioso.
Ajoelhou-se e foi acariciando o meu revólver e o pôs na boca simulando um boquete. Essa cena me deixou muito excitado.
Pus o pau para fora da cueca e o fiz chupar. Era gostoso demais ser chupado por aquela boquinha gostosa e macia.
_ Que delícia! Vai…vai… eu te amo, minha loirinha gostosa.
Sinto tapas estalando no meu corpo e desperto com os gritos de Lucrécia.
_ Que história é essa de loirinha, Rogério?! Eu não acredito que você me traindo de novo, seu filho da puta!
_ O quê? Você tá maluca?
_ Você estava falando dormindo. Dizendo que ama uma loirinha. Eu não acredito nisso! Eu não acredito que… quem é essa vagabunda, Rogério? Quem é essa vagabunda?

O namorado da minha filhaOnde histórias criam vida. Descubra agora