ESTAÇÃO BELHON

I. A garota misteriosa.

O DIA AMANHECEU NUBLADO e a moça da previsão do tempo disse que há uma grande probabilidade de chover hoje.

Depois de ter adiado meu alarme pela décima vez, me levantei da cama, colocando em mente que preciso do dinheiro e que ninguém iria pagar minhas contas.

— Bom dia! — Entoou Jimin empolgado assim que coloquei meus pés na cozinha. — Preparei um chá de morango para você. — Concluiu colocando a xícara branca sobre a bancada de mármore.

— Obrigado! Não sei o que seria de mim sem você.

— Um gigante pedaço de nada, Taehyung! Você é mais esquecido que pedra. — Respondeu num tom brincalhão antes de me deixar sozinho no cômodo.

É... de fato seria um grande pedaço de nada. Jimin é meu melhor amigo desde que me entendo por gente, e mesmo que não precise, sempre me mantém nos eixos.

Pego algumas torradas e o pote de vidro com a geleia de morango que papai trouxe no final de semana passado, quando decidiu aparecer aqui sem avisar.

Depois de tomar o café da manhã, corri para o quarto, afinal eu estava atrasado para um caralho, de novo.

🚈

Por sorte consegui chegar na estação dois minutos antes do trem partir.

Assim que coloquei meus pés dentro do vagão, meu coração deu diversas cambalhotas e senti, pela milionésima vez, as malditas borboletas no estômago ao vê-la. Faz quase três meses que a encontro aqui, sentada no mesmo lugar de sempre, lendo um de seus diversos livros de romance, escutando algo em seus fones de ouvido e um sorriso pitoresco nos lábios enquanto muda de página.

Estou sentado num dos assentos perto da porta, com minha caderneta em mãos enquanto tento terminar o desenho que comecei no dia anterior. Não consigo desviar o olhar, seus traços são cativantes e marcantes. Se ela levantasse a cabeça só um pouco e olhasse para esquerda me pegaria em flagrante, transformando-a em pura arte.

A garota dos livros de romance sempre desembarca em Belhon, duas estações antes da minha. Todas as vezes que a vejo, ela está com a cara enfiada nos livros e seu companheiro inseparável: o fone de ouvido. No entanto, apesar de parecer desatenta, constantemente se levantava num timing perfeito antes que a voz robótica anunciasse seu destino.

A garota sem nome se levanta, desviando sua atenção do livro por míseros segundos, pacientemente espera que a grande porta de metal abra e vai embora.

Solto um longo suspiro, frustrado. Não acredito que perdi, mais uma vez, a chance de falar com ela. Finalmente tomaria uma iniciativa, lhe desejaria um bom dia, perguntaria seu nome e qual é o seu tipo de bebida favorita, e talvez, dependendo do rumo que a conversa tomasse, eu convidaria para sair.

Ah! Quem eu estou querendo enganar? Eu jamais conseguiria iniciar uma conversa sobre qualquer coisa, imagina convidá-la para sair?

Eu, Kim Taehyung, sou um desastre quando o assunto é chegar em garotas. Especialmente quando uma delas chama minha atenção, tem meu coração e me traz inspiração. A garota dos livros de romance me deixa com aquelas malditas borboletas no estômago — aquele frio que as pessoas dizem sentir. Eu definitivamente sou o maior bobalhão que já existiu no mundo, não acredito que estou apaixonado por alguém que não conheço, nem faço ideia de como se chama e que jamais olhou para mim.