Me leva junto

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- Isso mãe, turnê com Camila. Essa que quase foi presa aos dezessete. Mãe! Eu tenho vinte e seis anos! Eu vou passar aí na França, não sei quando. É mãe... Olha, eu estou bem atrasada, eu falo contigo por skype a noite. Beijo, amo você também.

Minha mala estava no banco de trás do carro, junto com as coisas do Jake, que tinha vendido o carro dele pra comprar duas guitarras que custaram um absurdo.

A equipe viajaria no avião da gravadora, até que a Camila comprasse o próprio avião. Meu carro ficaria sob cuidados da Magical Corps Music.

Nunca fui fã de viajar em aviões. A primeira parada era Londres. Sentei atrás da poltrona de Camila. Ela já estava dormindo quando eu entrei.

- Lauren, eu vou sentar com o Josh, tudo bem? - Assenti enquanto desenrolava o fio do meu fone.

***

Acabei pegando no sono e acordei muito perto do fim da viagem. Levantei apertada e fui até o banheiro minúsculo.

- Laur, esse é o mapa do aeroporto. A informação é que tem cerca de duzentas pessoas esperando a Mila.

Montei um esquema para sair de lá e chegar até o hotel sem que nos notassem. Enquanto Andrew, chefe da equipe de segurança, não estivesse por perto, eu estaria com as rédeas. 

 ***

Uma semana depois, três shows e duas idas a boates finalmente chegamos em Liverpool. Ótimo. Eu teria um dia de folga na minha cidade preferida em toda Inglaterra.  

Infelizmente bem no último dia e eu com certeza estarei cansada. Folgas no último dia só servem para descansar.

Os fãs iam estourando como milho de pipoca e ela ficava mais famosa a cada parada. 

- Laur, me ajuda aqui. - Entrei no quarto de Camila.

- Onde você está? 

- Banheiro. 

 Empurrei a porta depois de bater três vezes e encontrei o Diabo pessoalmente. E banheiro parecia o inferno. Ela estava com um vestido curto. Curto demais. E o mesmo estava suspenso. Sua calcinha minúscula e sua cinta liga me fizeram tossir um pouco.  Encarei seus olhos depois da avaliação ela estava mordendo a boca.

- Do que você precisa? 

- Eu me cortei na mesa de centro e não consigo fazer o curativo. 

Peguei a caixa de primeiros socorros do banheiro e pedi para que ela sentasse no vaso. O machucado estava em sua batata da perna. Era um corte fino mas um pouco fundo. 

Camila reclamou quando eu limpei, reclamou quando eu coloquei um band aid e reclamou quando eu terminei. 

- Você fez isso muito rápido. 

- Você queria que eu demorasse? - Ela suspirou e levantou do vaso. Guardei a maleta e deixei o banheiro. Camila desceu o vestido e foi atrás de mim. 

- Você é lésbica, Lauren? 

- Saber minha sexualidade não vai mudar nada em sua vida. 

- Eu nem preciso perguntar pra saber que é, na verdade.

Ela estava certa, mas não respondi; assim como esse, ignorei seus comentários descarados sobre mim, o resto da noite.  

Mais tarde saímos do hotel pela porta dos fundos já que alguns fãs acampavam na frente do mesmo. Dinah e eu estávamos acompanhando Camila essa noite. Por sorte ninguém reconheceu, Dinah ficou próxima a ela enquanto eu estava mais distante. Como em todas as outras noites, ela bebeu, mas não o suficiente para ficar bêbada, ao menos um ponto positivo. Depois começou a se esfregar em um cara qualquer. Ele levou Camila a um canto mais reservado, tirou um saquinho com pó branco do bolso de sua bermuda e estendeu, ela pareceu negar mas ele insistiu, as pessoas dali poderiam fotografar isso e não seria nada bom pra ela. Pisquei pra Dinah e fiz sinal pra ela preparar nossa volta ao hotel. Camila já abria o saquinho quando puxei o mesmo de sua mão e joguei no chão, pisando em seguida.  

- Quem é você, panaca? Isso era pó do puro! - Perguntou o moleque irritado, não me preocupei em responder. Puxei o corpo de Camila contra o meu e arrastei ela dali. 

- Lauren, eu não ia usar! - Gritou. 

- Não tenho tanta certeza disso. - Ela continuou calada o resto do caminho. 

***

Estava deitada no sofá do quarto de hotel de Camila. Ela fez um discurso furado sobre se sentir insegura para Andrew, chefe da equipe de segurança, e ele me deslocou para ainda mais próximo dela.

- Laur, você sabe que pode deitar na cama comigo não é? Esse sofá não parece bom o bastante. - Ignorei o absurdo que acabara de ouvir e fechei os olhos. Estava exausta. - Semana que vem eu tenho três shows na Itália. Veneza é linda, não?  - Continuei calada, mas abri os olhos. - Conversa comigo, depois que a Ally começou a namorar o Troy mal vem aqui.

- Relacionamento profissional, lembra? 

- Em um relacionamento profissional não pode haver amizade? 

- Eu não sou muito de papo, Camila. E estou bem cansada agora. - A latina jogou a toalha que usava para secar o cabelo no chão e foi para a cama irritada. - Boa noite Camila!

*** 

Acordei sete da manhã. Muito tarde se comparado aos dias que eu resolvia caminhar em NY.

Peguei uma roupa mais quente que a farda e fui ao banheiro. Antes que eu pudesse entrar Camila me chama. 

- Lauren? - Assenti estranhando que ela estivesse acordada tão cedo. - Hoje é o seu dia de folga? 

- É. 

- O que você vai fazer? 

- Sair.

- Me leva junto? 

- Se eu te levar junto não vai ser mais folga. - Ela estava tão fofa com aquele pijama que resolvi entrar de uma vez no banheiro.

Percebi que a família de Camila não ligava muito pra ela, talvez ela agisse desse jeito por causa deles, li em uma revista que crianças que crescem sem afeto tendem a se tornar pessoas inconsequentes. Enquanto isso eu tinha que aturar o meu pai me ligando todos os dias.  

Coloquei uma calça legging com detalhes em couro e um coturno também preto, uma blusa de manga comprida branca e saí do banheiro pra pegar um capote quente. 

- Você é tão linda. - Ignorei Camila. - Onde vamos?

- Não posso te levar.

- Eu vou ficar quietinha, não vou nem falar se você não quiser. Eu já falei com o Andrew, ele deixou que eu fosse com você. Ele confia muito em você, nossa! Ainda bem, a gente vai sair pra comer primeiro né? 

Respirei fundo. Camila não parou de falar um só instante, ela estava usando um casaco grosso e um cachecol, ambos roxos, uma calça jeans branca e nos pés um Nike preto. 

Olhei no GPS do meu celular a cafeteria mais próxima. 

Camila não parava de falar um só segundo. Se a voz dela não fosse tão agradável eu provavelmente teria lançado seu corpo pela janela do carro que aluguei. 

- Lauren, pode fazer o pedido? Vou olhar o mar ali na frente.

- Você não vai sair de perto de mim. 

Never gonna leave this bedOnde histórias criam vida. Descubra agora