Never gonna leave this bed

Não somos amigas

Há uma semana estávamos em Londres. Não consegui ver nada, Camila fez um show e o resto dos dias resolveu fazer turnê por todas as boates da capital. Era muito cansativo acompanhar Camila, ela sempre levava alguém da boate pro quarto de hotel e sempre estava de ressaca até as quatro da tarde.

Em nosso último dia em Londres, Luke, seu produtor de mídia, viajou até nosso hotel só pra reclamar com ela. Depois de quase uma hora de conversa, ela levantou do sofá e saiu sem esperar que ele terminasse o que tinha pra dizer. Luke suspirou derrotado e passou a mão por seu topete loiro.

Fui atrás dela andando em passos rápidos.

- Camila, eu preciso saber onde você vai! Tenho que mandar as coordenadas pro resto do pessoal.

- Eu vou caminhar, e eu sei voltar para o hotel! Não me siga.

- Eu ganho pra isso, Camila! - Ela parou de andar e virou de frente pra mim.

- Eu sei, você e todo mundo que me rodeia ganham por isso! - Seus olhos estavam marejados. Suspirei e tirei minha jaqueta. Me aproximei de seu corpo magro e ela virou de costas, mas não se mexeu. Coloquei minha jaqueta em seus ombros e ela fungou, estava chorando. Droga. Eu nunca fui muito emotiva e não sabia lidar com a situação.

- Vamos voltar pro hotel.

Ela incrivelmente me obedeceu.

***

O dia estava muito frio. Eu estava na porta do quarto de Camila quase congelando. O serviço especial para equipe me deixou um chocolate quente que nem estava tão quente assim. Suspirei.

- Lauren. - Curvei minha cabeça para encarar uma versão muito empacotada de Camila. Assenti pra ela continuar. - Você pode entrar aqui um estante?

- Está desconfiando de alguma coisa?

- Não, eu só preciso de companhia e a Ally está em sua folga com o Troy.

- Não.

- Não o que?

- Não posso entrar aí um estante. Estou trabalhando.

- Laur, por favor. - Ela fez um biquinho fofo e infantil. Suspirei e acabei entrando.

- O que você quer?

- Assiste a maratona de filmes de terror comigo? Eu sinto medo.

- Camila, eu estou trabalhando. Essa é uma tarefa para amigas. Não somos amigas. Eu cuido da sua segurança.

- Tecnicamente é a minha segurança.

- Eu tenho que ficar lá fora, e tenho que impedir pessoas que podem te  machucar de chegarem até você. Entende? Esse é o meu trabalho.

- Preciso de você aqui dentro Lauren. Lá não tem aquecedor e não tem um termo que te proíba de ficar aqui dentro.

Resmunguei derrotada e sentei no sofá. Ela sorriu e fez uma espécie de comemoração com os braços. Me segurei pra não acabar rindo.

- Não é chato?

- O que?

- Sentar assim tão reta.

- É bom pra coluna. - Respondi seca enquanto ela terminava de dar play.

- Adoro filmes de terror, mas tenho medo. Isso é bem confuso.

- Odeio filmes de terror. - Respondi mais pra mim que pra ela.

- Você tem medo?

- Eu acho tosco.

- Sua voz é uma delícia.

- Oi?

Encarei Camila tentando entender o porquê do comentário fora de hora.

- É rouca e tal, sensual, sabe?

Não respondi. Encarei a televisão e ela reclamou por eu não conversar direito. Enquanto ela tomava sustos eu tentava não rir das cenas idiotas. Senti sua cabeça escorar em meu ombro. Eu não deveria ter entrado.

- Camila, eu preciso voltar pro corredor.

- Não vai não! Eu sou sua chefa e digo onde você tem que ficar. - Ela pulou em meu colo quando Jason terminava seu trabalho em mais uma vítima.

- Camila! Você vai acabar se sufocando em meu pescoço.

- Como você não tem medo?

- Você já viu o making off disso?

- Droga Lauren, não estraga.

A maratona se resumiu em um único filme e uma Camila dormindo em meu colo.

Deixei seu corpo na cama, cobri com a colcha felpuda e voltei ao corredor.

Às três da madrugada eu seria substituída e poderia descansar. Mandaram outra bebida quente. Felizmente estava quente. Bebi o café em goles lentos, minha boca estava bem partida e gelada. O inverno de Londres era bem cruel. Maldito hotel sem aquecedor nos corredores.

O Jesse, que ia me substituir. Ele chegou cinco minutos atrasado. Cumprimentei ele com um aperto de mão e fui para o meu quarto. Ao lado do de Camila.