Presas

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Ivan estava sentado em um tronco, ele não se movia, apenas fitava o céu com um olhar perdido e soturno, Annabeth o observava a alguns passos de distância, ela não conseguia imaginar o que se passava na cabeça dele, obviamente, o choque de ver uma criança dilacerada em sua frente iria causar alguma reação. Ela se aproximou calmamente, e sentou-se no tronco ao lado do amigo, pousou sua mão sobre o ombro dele e fez um leve afago.

- Quem ou que faria aquilo com uma criança? - Indagou Ivan. - Uma criança Anna, ele não tinha nem dez anos! - Disse ele enquanto segurava o choro.

- Eu sei, não consigo imaginar o que aconteceu aqui, e sendo bem honesta, não sei nem se quero imaginar.

Ela dizia a verdade, não queria imaginar, mas isso não impedia que sua mente gerasse diversos cenários sobre o que poderia ter ocorrido. O menino Nowak havia ido brincar de esconde-esconde com outras crianças na floresta, se perdeu e foi atacado por algum animal selvagem, sim, isso fazia sentido, não fosse pelo fato de que ele estava a mais de 70 quilômetros de onde havia sumido. Talvez ele foi atacado por algum animal que arrastou o corpo até aquele local, mas que tipo de animal arrastaria a presa por essa distância? Ele estava brincando e caiu no rio, que o arrastou até as proximidades de onde o encontramos, ele conseguiu sair e morreu de hipotermia. Sim, isso fazia algum sentido, de onde rio passava ele conseguiria ver o caleiro, ele tentou subir até lá, mas não resistiu a frio.

- No que está pensando?

Annabeth e Ivan se viraram simultaneamente, Allan estava se aproximando deles, passou suas pernas por sobre o tronco, e juntou-se aos dois que estavam sentados. Ele parecia cansado, pensou Annabeth, embora todos que estivessem ali deveriam estar, não fosse pelo desgaste da insônia, seria por terem acordado no meio da madrugada.

- Henrik já chamou a perícia, logo eles devem chegar. - Disse Allan.

- Certo. - Respondeu Ivan, em um tom sem vida, voltando a fitar o céu.

Allan e Annabeth estavam um ao lado do outro, mas o espaço parecia se ampliar cada vez que ela tentava encara-lo, e ela sabia que a sensação era mútua. Será que eles estariam juntos até hoje não fosse pelo que havia ocorrido a quatro anos atrás? Será que eles teriam terminado mesmo assim, mas pelo menos conseguiriam se encarar? Anna conseguia pensar em mais uma dúzia de "serás" para os dois, mas no momento isso não era sua prioridade.

- Os Nowak já foram informados? - Questionou ela.

- Oh... Os Nowak...

O garoto loiro parecia surpreso de ouvi-la dirigir uma frase para ele.

- Acredito que ainda não. - Disse ele enquanto tentava disfarçar a surpresa que visivelmente tomava conta de seu corpo.

- Bom. - Disse ela. - Eles não merecem ver o filho nesse estado.

Ao longe era possível ouvir sirenes se aproximando, a perícia estava perto, ao olhar sob os ombros, Anna conseguia observar Henrik andando de um lado para o outro, claramente ele estava nervoso, mas ela ainda não conseguia distinguir se o motivo era o fato de o garotinho estar morto, ou a forma como ele havia sido encontrado. Ela se levantou e andou em direção ao comandante, que a essa altura já estava no seu terceiro ou quarto cigarro, a essa hora da manhã, o sol já havia nascido, o dia estava claro e a neblina havia diminuído consideravelmente, ela podia ver claramente a floresta de pinheiros ao seu redor e a demarcação entre as árvores onde o pequenino estava.

- Hey. - Disse ela ao se aproximar.

- A perícia deve chegar aqui a qualquer momento. - Respondeu ele.

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