Simbiose

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Henrik estava certo, o mandato chegou às mãos dos policiais no início da tarde de quinta-feira, Annabeth e Allan estavam dispostos a ir naquele mesmo momento até a antiga serraria. Ivan por outro lado, estava mais contido, analisando a lista de seguranças que eram contratados pelo proprietário, ele estava criando uma lista inicial de quem deveriam interrogar e quais já poderiam ser descartados. A garota não conseguia imaginar que tipo de cena encontraria, de um lado, o local poderia estar intacto, sem nenhum rastro de sangue, e por outro, eles poderiam se deparar com uma câmara dos horrores, com visceras expostas como obras de arte, potes guardando animais mortos e partes humanas, instrumentos de tortura. O comandante sabia que a impaciência de Anna iria impedir que ela fizesse qualquer outro trabalho pelo restante do dia, então preferiu liberar todos, para se prepararem.

Naquela noite, Annabeth quase não conseguiu dormir, ela se afogava em um infinito mar de possibilidades criadas por sua mente inquieta, e dessa vez, nem mesmo as taças de vinho que havia ingerido no jantar junto a Ivan, a estavam fornecendo algum conforto. Ela se levantou e caminhou pelo apartamento, pela primeira vez em muito tempo, não se ouvia o barulho da chuva, porém a janela somente fornecia vista para uma densa neblina. A porta do quarto de Ivan estava entreaberta, Anna espiou, na esperança de encontrar o amigo em uma situação semelhante a sua, porém, Ivan dormia tranquilamente, com uma máscara de olhos apeluciada que imitava o rosto feliz de um monstrinho. Ela deslizou até o banheiro calmamente, abriu a pequena gaveta de remédios e retirou uma cartela de soníferos, destacou um comprimido e o engoliu, retornou para a cama e lá novamente se acomodou, enquanto esperava o remédio fazer efeito e finalmente ser acolhida pelos braços de Morpheus. Com a cabeça apoiada no travesseiro ela fechou os olhos, o som do vento do lado de fora da construção assemelhava-se a um longo assovio, que, a cada momento que passava, ia ficando mais e mais distante, até que o ensurdecedor silêncio do sono recaiu sobre a garota.

- Anna...

Um eco longínquo começava a perturbar a tranquilidade em que Annabeth se encontrava. Ela estava sentada na antiga padaria da avó, tomando uma deliciosa xícara de chá de hibiscos, o cheiro do pão recém saído do forno era quase palpável.

- Anna...

Novamente, o som da voz interrompia a tranquilidade e a nostalgia que aquele momento lhe causava. Fazia algum tempo desde que Annabeth havia sonhado com a avó, ou com qualquer coisa que a fizesse recordar os momentos com ela. A qualquer momento, ela sabia que a avó iria atravessar a porta, com uma travessa de pãezinhos doces recém assados e se juntaria com ela à mesa, um minuto para apreciar esse momento seria o suficiente, apenas rever as feições de Alda sorrindo em sua direção já bastariam para satisfazer seus desejos.

- ANNABETH FREIRE WÓJCIK!

A voz de Ivan rompeu com o sonho da garota, antes mesmo que ela conseguisse ver a tão sonhada travessa de pães, e o caloroso e amoroso sorriso da avó. Annabeth abriu os olhos com certa dificuldade, pouca claridade passava pelas janelas do quarto, sua mente não conseguia distinguir se novamente Ivan a havia acordado em meio à madrugada, ou se o sol é que se recusava a dar as caras. Ela pegou o celular na mesinha da cabeceira e o desbloqueou, de fato já eram oito horas da manhã, o que significava duas coisas, em primeiro lugar, o dia iria seguir com a penumbra típica do amanhecer de inverno, e em segundo, o remédio que ela havia tomado realmente valeu o investimento.

- Garota, ja faz uns cinco minutos que eu estou tentando te acordar. - Ivan falou enquanto se levantava. - Se você continuasse dormindo eu ia ser obrigado a ir até a serraria sozinho.

- Você nem seria louco de fazer isso!

Anna deu um pulo para fora da cama, recolheu a muda de roupa que havia deixado separada na antiga poltrona do quarto, ela tropeçava enquanto removia a calça de moletom do pijama com uma mão enquanto tentava colocar as calças jeans com a outra. Mesmo cambaleando e trocando os pés, a garota chegou ao banheiro, pegou uma escova enquanto finalmente ajeitava a roupa e rumou para a cozinha, onde Ivan já havia deixado uma caneca cheia de café recém passado esperando por ela.

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