Narrativa do Kawaki
~ Há algum tempo ~
Estou com os olhos fechados, com a respiração oscilante e sentindo uma dor descomunal na clavícula até o início do pescoço. Olho ao redor e vejo pessoas correndo e gritando, meus ouvidos estão zumbindo, meus braços e pernas dormentes, sinto o chão tremendo por bombas e vejo tiros e pessoas mortas ao meu redor. Seus olhos abertos sem vida e sendo pisoteadas todo tempo por soldados indo e vindo.
Suspirando ao lembrar de tudo apreciava um café amargo descendo por minhas amígdalas até meu estômago, meus olhos fixados e pensando na vestimenta sistematicamente semelhante, a vida metódica e regrada de pessoas frustradas com o tal "jogo da vida". De volta a realidade, brincava com o restinho do forte e amargo café expresso. Sinos. Ouvir os sinos da porta do estabelecimento. Olhos verdes, cabelos amendoados e ondulados, vestia um sobretudo carmesim e uma boina de cor semelhante cobrindo metade de seus olhos. Seu sorriso resplandece de orelha a orelha, seus passos são rápidos e descompassados. Foi à minha mesa e sentou-se na cadeira da frente e sutilmente arrastou um envelope pela mesa áspera.
- O Tenente-coronel lhe enviou - disse a voz da mulher na minha frente ligeiramente baixa. Peguei sorrateiramente o envelope e sorri para a mulher de boina.
- Sim senhora - digo em meio a um sorriso e a uma leve reverência. Acenou ao garçom e ele apenas sorriu e lhe deu as costas. Ele buscou um cappuccino com um guardanapo azul.
Ela deu um gole no cappuccino e olhou fixamente para a janela. Seus dedos traçaram a marca de seu batom no copo e seus olhos fixos ali. Logo elevaram-se e fixaram nos meus. Só me passava um pensamento, no que ela estava pensando? Ou o que houve com seu ar meio bobo e desleixado?
- Você sabe a situação dele. Estava abismado consigo e com sua família. - falava apoiando seu corpo no braço do lado da mesa. Seus olhos dançavam entre a janela e o copo. - Eu o liberei. Agora é seu trabalho, cuidar dele para não exagerar. O confiou à você, Kawaki. - diz a mulher elegante com um olhar pesaroso fixo em mim. Eu assenti e me levantei. Coloquei o dinheiro do capuccino e o expresso sobre o balcão e saí sem olhar para trás com o envelope embaixo do braço.
"Droga, não me fale o óbvio! Sua bruxa". Pensava isso enquanto caminhava emburrado. Fui em direção à Academia da Folha. Esperei na saída enquanto abria o envelope. Tinha uma cartinha da Sara. Letras miúdas escrito seu nome, meio tortas e desalinhadas. Estava escrito "anomalia" no destinatário. Eu ri entredentes e guardei no bolso e pensei: "não é uma mentira" - digo resmungando baixo e guardo no bolso da minha jaqueta.
Uma borboleta. Raras nessa época do ano. Meus olhos a seguiram por alguns segundos. Me levaram a ver uma garota deitada embaixo de uma árvore, seus cabelos enrolados nos ramos e um livro sobre seu rosto. Agachei ao seu lado e cutuquei sua testa. Ela abaixou de leve o livro de seus olhos e com os olhos semi abertos tentando se acostumar com a luz, me reconheceu.
- Estou de volta, surpresa - digo em meio a uma falsa alegria e ironia.
- Bem vindo de volta - disse sonolenta. E logo tampouco tampou seus olhos com o livro novamente. Me encostei ao tronco e aproveitava o clima quase verão. Isso traz tantas memórias nostálgicas mas desnecessárias, perdido em alguns pensamentos. Um peso com um aroma floral agridoce apoiou-se em meu ombro. Sorri de leve.
- Estou feliz que voltou para casa - disse ela ainda sonolenta. - Eu estava esperando. Demorou - fez uma pausa e logo suspirou para continuar - Mas está finalmente em casa, Kawaki - ela é sincera demais. Eu ri um pouco, confesso.
- Certo certo - Apoiei minha cabeça na dela e concordei com uma certa petulância.
Essa foi a primeira vez que voltei a salvo de uma missão.
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Férias de Verão (BoruSara)
Fiksi PenggemarComo rosas seus sentimentos são tão belos e incisivos. Algumas vezes conflituosos e atordoantes, lágrimas como diamantes, seu cabelo e olhos residir na cor do vazio e sua pele pálida e fria como uma nevasca. Mas por trás da sua beleza, existe apenas...