Capítulo 2

6 0 0
                                    


Anne esperou alguns instantes para abrir a porta de novo e seguir Lyia. Manteve distância por todo o tempo enquanto a via virar esquinas e passar por várias ruas. Olhou para o relógio no celular e viu que estavam a quase trinta minutos vagando pelo bairro. Isso continuou por mais alguns minutos até Lyia topar com um garoto um pouco mais alto que ela, ele devia ter quatorze anos e se parecia muito com a menina. Os mesmos cabelos castanhos e sardas no rosto.

Eles começaram uma discussão acolarada mas tão rápido como começou, logo terminou e o garoto passou o braço sobre os ombros de Lyia e seguiram pela rua. Anne ainda tentou seguí-los mas era horário de pico, muitas pessoas deixavam seus trabalhos e as ruas estavam apinhadas de gente. Tudo era iluminado pela parca luz dos postes e dos carros na rua. Conseguiu ter um vislumbre dos dois bem adiante e continuou com seus passos indecisos. Não tinha certeza se queria saber onde aqueles garotos estavam, ou se precisavam de ajuda pois sabia que o que pudesse fazer para ajudar, com certeza faria.

Mas já estava com tantos problemas. Não podia dar sorte para o azar.

Como se ouvisse suas lamúrias, os garotos desapareceram diante de seus olhos. Piscou inconformada e outros pedestres continuaram seu caminho. Olhou para lá e pra cá, mas eles devem ter se enfiado em um daqueles becos e não sabia dizer qual. Suspirou se sentindo um pouco derrotada. Era melhor deixar aquela história pra lá e continuar sua vida.

xxx**xxx

Já havia se passado alguns dias desde que vira Lyia. 

Anne seguia com sua rotina e estava em meio a seu trabalho home office. O supervisor fazia uma reunião como em toda quinta feira, quando ouviu baterem na porta. Decidiu ignorar preferindo ouvir as sugestões que sua colega de equipe tinha a fazer. Mas as batidas eram insistentes e a deixava irritada. Pediu licença para a equipe, caso alguém a chamasse não ficariam sem saber o que aconteceu, então se levantou apressada e foi atender a porta. 

— Não leu o capacho? – começou perguntando antes mesmo de abrir a porta. Se deparou com uma garotinha de sardas. - Liya!? O que houve?

Lágrimas finas escorriam pelo rosto da mais nova. Ela abriu a boca mas não conseguia falar. Anne levou suas mãos aos seus ombros apertando levemente.

— O que foi? Precisa de ajuda?

Liya assentiu de imediato.

— Meu irmão... Ele... – parou por um momento sentindo um nó terrível na garganta.

— Tudo bem. Onde ele está? – tentou a olhando atentamente.

— O homem do restaurante... Ele- 

— 'Tá. Onde é?

Anne se apressou a calçar um vans surrado e trancou a porta ao passar. Enfiou as chaves no bolso com Lyia ao seu encalço. Seguiram para as escadas em passos rápidos.

— Ele bateu no meu irmão e quer que eu pague para ele a comida que pegamos.

— Vocês estavam roubando? – Anne perguntou neutra e olhou brevemente para ela.

— Estávamos com fome! E era um pouquinho assim. – gesticulou aborrecida. – Eles iam jogar fora de qualquer jeito!

A mais velha respirou fundo enquanto caminhavam com pressa. Lyia assumiu a dianteira e guiou Anne pelas ruas até chegarem a rua detrás do restaurante. Havia uma porta aberta e dava para ouvir lamúrias de dor.

— Você fica aqui. – disse para Lyia que negou.

— Não! É o meu irmão.

— Lyia, por favor. Espera aqui. – ela disse segurando gentilmente em seu ombro.

Havia algo no tom de voz de Anne que fez Lyia assentir. Seus olhos verdes escuro acompanharam os passos firmes da mais velha entrar na cozinha. Logo de cara, Anne viu a bagunça do lugar. Era um restaurante barato no fim das contas, havia lixo amontoado em um dos cantos em sacos pretos fechados. Panelas sujas e enferrujadas empilhavam as prateleiras e pias de alumínio. O chão estava um pouco ensebado e foi quando Anne viu o irmão de Lyia sentado no chão com o rosto vermelho do choro e um corte no lábio.

— Quem é você? A vadia da mãe dele?

Anne se virou e viu um homem na casa dos trinta anos, e podia dizer só em olhar para o jeito debochado que andava, que ele se achava muito por ter batido em uma criança. Ele usava uma roupa comum, camiseta e jeans, e um avental branco encardido por cima.

— Hein? Eu te fiz uma pergunta.

Ela preferia ignorar ele por hora. Foi até o garoto no chão e o ajudou a levantar.

— Esse rato estava roubando comida daqui de dentro. E alguém vai ter que pagar.

Anne não se intimidou e foi se virando para a saída deixando o garoto a sua frente.

— Escuta aqui, porra. – ele gritou e se apressou em agarrar o braço dela com força. – Alguém tem que pagar pelo prejuízo desse moleque!

Em um movimento rápido, Anne empurrou o garoto para fora e se virou com o punho fechado no rosto do cara. Ele cambaleou para trás com a mão no nariz.

— Sua vadia! Eu vou matar você!

Ele veio com as mãos estendidas para agarrá-la, então Anne foi rápida em desferir um golpe em sua garganta. Ele caiu no chão desnorteado e deu para perceber como ele mal conseguia respirar direito, logo desmaiou. A castanha se virou e saiu. Lyia correu para o seu lado.

— Você está bem?

— Sim. 'Tá tudo bem. Vamos sair daqui.

Anne os levou para fora da ruela.

— Seu braço está machucado. – apontou a garota olhando para o vermelho sobre seu cotovelo.

— Está tudo bem. – olhou para o garoto que seguia quieto ao lado da irmã. – E você? Está bem?

Ele ficou em silêncio e não a olhou. Lyia o acotovelou brava.

— Responde, Matéo. – sibilou entre dentes.

— Hm, sim. Estou bem.

Anne respirou fundo e seguiu caminho de volta para casa. 

— Pra onde estamos indo? – Matéo perguntou baixo.

— Pra minha casa. – Anne respondeu simplória.

De canto de olho, percebeu a agitação do garoto que olhou para Lyia interrogativo. Ele sussurrou alguma coisa para ela que assentiu e sussurrou algo de volta. Matéo não pareceu totalmente convencido e continuava com a cara amarrada.

— Vai ter bolo? – Lyia perguntou animada.


//

olá, espero que tenham gostado <3

não se esqueçam de deixar uma estrelinha ⭐
e o seu comentário, adoro saber o que estão achando

até a próxima ...


postado em:    18/09/22

The Gold ArmyWhere stories live. Discover now