1 - Queimar com ela.

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A notícia chegou como uma bala, que perfura o peito e dilacera a alma; minha avó estava morta

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A notícia chegou como uma bala, que perfura o peito e dilacera a alma; minha avó estava morta. 

Poucas pessoas eram tão importantes na minha vida quanto essa mulher, mesmo não a visitando há tempos, quando a via era como se nunca houvesse se afastado. 

Agora não mais. 

E estava tão frio o dia, como se o sol se escondesse por detrás das nuvens para chorar, então choveu. Uma garoa fraca, mas constante, que incessavelmente demonstrava seu luto para com essa tão tristonha e dolorosa perda. 

Eu não esperava precisar voltar a um cemitério tão cedo, desde a morte de um grande amigo, anos atrás. Me prometi que não estaria mais aqui para ver ninguém partir, porque não suportaria passar por isso outra vez. 

Mas cá estou eu, de terno preto, mais próximo ao caixão e mais longe de todos os meus entes queridos, que me desprezam. O motivo desse desprezo está ao lado de fora, com um anel igual ao meu no anelar esquerdo. 

— Morreu de desgosto, a pobre coitada.

— Ainda tem coragem de aparecer por aqui com aquele lá. 

Comentavam sobre eu e meu marido. Ninguém estava ressentido pela morta, a pobre coitada.

Mas minha avó não morreu de desgosto de mim, ela sempre teve orgulho de quem eu me tornei, única pessoa que me apoiou, única pessoa que eu podia me apoiar. Não mais.

Morreu foi de descaso, descaso que tiveram com ela, na última vez que telefonei, me dissera que não a visitavam fazia cinco meses, que foi quando eu viajei para lá. 

— Ninguém aparece aqui não, meu filho. 

Morava sozinha num bairro afastado, vivendo da miséria de aposentadoria, os filhos mamando as suas tetas. Já havia tentado tirá-la de lá, levá-la para minha casa, mas era uma cabeça dura, não largava pé nem que lhe arrastassem. 

Estava combinando de passar o Natal com ela esse ano, agora não mais.

O enterro foi rápido, ninguém chorou. 

Minha avó estava morta. 

Meu marido sorria toda vez que entrava no meu campo de visão, eu sabia que ele estava tentando me animar, então sorria também, mas a verdade é que eu não queria ver ninguém, queria deitar na minha cama, em casa e ficar lá até tornar-me um só com ela.

Isso ficou só nos meus desejos, já que ainda naquela tarde conturbada, o advogado da minha avó bateu na porta do meu quarto de hotel, com a notícia que talvez ninguém estivesse esperando, já que nem eu estava.

— Sua avó lhe deixou como herança a casa dela na cidade e a cabana na floresta. – Foi tão simples quanto o correr da brisa. 

Eu não sabia o que realmente sentir sobre isso, era como uma mistura de tudo; estava feliz por ter herdado algo da minha avó, ao mesmo que estava surpreso e também receoso pelo que viria a seguir. 

A Floresta da Árvore de Fogo | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora