A Floresta da Árvore de Fogo | Jikook

2 - A ela e mais ninguém.

Ele e eu comíamos em um silêncio sufocante, tão irritante a maneira que fazíamos isso devagar. Era quase como se nenhum de nós quiséssemos levantar.

Jungkook me contou que foi acordado hoje mais cedo pelo frio, as portas do quarto estavam abertas e eu não estava lá. Disse que correu desesperado para me procurar, mas não precisou ir longe, já que me encontrou estirado no chão ao lado da porta.

Eu estava sem meu casaco e meias. 

E estava imundo, com folhas presas no meu cabelo e lama pelo meu corpo. 

Cheguei a contar do meu sonho, durante o banho de canequinha que ele me preparou, depois que me recuperei do possível desmaio.

— Deve ter ficado sonâmbulo e tipo algum delírio, culpa de todo o estresse que passou. – Ele me disse, enquanto ensaboava minha pele, tirando toda a terra seca dela, mas não me olhava nos olhos.

"Não se preocupe" e então nada mais.

Não me espanta ter me servido um chá de camomila. 

Sonambulismo não seria algo novo para mim, eventos como este nos custou muita paciência no passado, principalmente vindas dele, já que mesmo com todo o acompanhamento profissional e de exaustivas terapias, nada parecia ser o causador do fenômeno. 

Mas dessa vez eu tinha certeza de que não era isso, não poderia ser. Todas aquelas sensações, o frio, o calor e eu vi o fogo, nada daquilo poderia ser um delírio ou fruto do estresse que passei.

Não podíamos ficar muito nisso, então logo estávamos de volta ao trabalho. Tivemos que praticamente destruir a casa e refazer do zero, mas começamos por partes, a primeira foi escolher uma boa árvore. 

Eu me peguei comparando ela com a do meu suposto sonho. 

Elas não eram iguais. 

Meu marido escolheu uma árvore grande, disse ser um pinho-bravo, que servia para construções como essa. Levou bastante tempo para preparar o terreno e então derrubá-la, principalmente com o fato de eu ser o único ajudante, que disso não entendia nada. 

Era professor, afinal. 

Cortá-la foi pior ainda, sua madeira era dura como pedra e a serra elétrica quase não dava conta do recado, achei que falharia em algum momento. 

Ela caiu majestosa, com um barulho ensurdecedor. Teria gritado "madeira", mas parecia que a floresta havia se calado em luto e nos olhava acusatório. 

Senti uma sensação grande de agonia e por algum motivo tive a pequena impressão de que o mesmo ocorria ao meu marido, que marchando robótica lascou a árvore e atou ao carro, pronto para arrastá-la do local do crime. 

Foi difícil, já que choveu pela noite e mesmo que fraco, foi o suficiente para deixar uma película de lama por toda a floresta, então o carro derrapou várias vezes, em alguns momentos não saiu do lugar então tínhamos que ficar colocando galhos embaixo dos pneus, ficamos sujos demais. 

E meu marido estava irado, mesmo que tentasse falar manso comigo para não me ofender, a veia grossa que subia em sua testa denunciava sua raiva. 

Quando chegamos na cabana, começamos os preparativos, iriamos dividir a árvore em partes e depois cortar em vigas, para substituir a estrutura antiga da casa. Jungkook me disse que seria trabalhoso e exaustivo, a parte da substituição, já que éramos só nós dois e mexer na estrutura requer esforço e cálculo, ou tudo iria ao chão. 

Bom, talvez tudo desabasse, já que sou educador e não marceneiro.

Mas esforço eu tinha. 

As peças começaram a ser cortadas depois que medimos a casa e decidimos aumentar o pé direito.