você é uma frase bonita
dessas que a gente sublinha no livro
faz tatuagem, conta pra todo mundo
dessas que dividem a gente em antes e depois
Um Oreo McFlury foi colocado em cima da minha mesa e eu não lutei contra o sorriso de lado se formando em meus lábios ao dar-me conta de quem havia me presenteado.
Ele sentou na minha frente, livros do curso deixados de lado, braços cruzados sobre a mesa, rosto aberto em um sorriso que iluminava toda a sala.
Incendiava.
— O que está fazendo, hyung?
Sua voz.
Ah, a sua voz.
Escorrendo em brasa como um doce veneno ardendo e consumindo minha pele.
Tive que fechar os olhos para apenas me permitir sentir o poder que vinha em ondas perpassando sobre meu corpo.
— Escrevendo.
Uso a ponta do lápis para apontar ao meu caderno, carbono convertido em letras, em sílabas, em palavras, em orações, em períodos, em versos, estrofes e parágrafos inteiros de tudo que havia de mim. Em nada do que havia de mim.
chegou
um tempo
em que
a poesia
me mostrou
como
sangrar
sem
a necessidade
de sangue.
— Posso ler? — ele perguntou fazendo um biquinho com sua boca linda, ainda vermelha e inchada dos beijos que trocamos algumas horas atrás, quando ele me buscou em casa para virmos juntos até a faculdade.
Nossa confortável rotina.
Fechei o caderno, usando uma curta fita de cetim carmesim para marcar a página em que mais uma vez me derramei.
— Mais tarde.
Capturei meu sorvete e sorvi a primeira colher de baunilha e leite gelado, o líquido cremoso descendo em minha garganta levando um frescor necessário para dentro de mim. Mastiguei alguns pedaços do biscoito que Jeon roubava de vez em quando com a ponta de seus dedos.
— Como está seu TCC?
Agora no último ano, boa parte de seu nervosismo era advindo em concluir logo seu curso. Ele mordia os lábios, por vezes cutucava a parte interna da bochecha com a língua e fazia uma careta de desagrado quando as coisas não saíam conforme gostaria.
Eu, que já havia passado por aquela fase e agora frequentava esse ambiente como professor assistente e não mais como aluno, apenas sorria e fazia o que estava ao meu alcance para distraí-lo.
Sexo sendo uma de suas atividades recreativas favoritas. Jungkook aliviava-se em meu corpo, obtinha sua calmaria sugando minhas energias tal como um íncubo. Eu apenas deitava inerte, respirando de forma difícil, a camada de suor sobre minha pele, enquanto tentava orientar meu espírito a regressar após o bombardeio de orgasmos que ele me causava.
— Tá do mesmo jeito que tava uma semana atrás. Mas tudo bem. — ele deu de ombros, percorrendo a ponta do dedo na lateral interna do pote do McFlurry, pegando um pouco da calda de chocolate e logo em seguida o sugando, seus olhos negros fixos em mim enquanto realizava o ato.
Engoli em seco, uma risada áspera saindo de mim. Já estávamos juntos há anos e ainda não me acostumara integralmente à criatura em parte menino, em parte homem sentada na minha frente.
Inocente ele certamente não era, não quando eu sabia em primeira mão o jeito com o qual ele gostava de me foder. Palavras sujas em meu ouvido enquanto puxava meu cabelo, apertava meus quadris, distribuía tapas em minha pele elogiando seu trabalho ao ver a coloração que se formava em seguida, mordidas e chupões espalhados pelo meu corpo. Corpo que era dele para fazer o que bem quisesse.
— Esse negócio de converter quadros expressionistas em maquetes demanda tempo e paciência, então mesmo que eu me estresse não vou perder a cabeça me forçando demais. — deu de ombros enquanto soltava um suspiro resignado. — Meu orientador tá satisfeito com o que eu tenho mostrado até agora, ele disse que é uma feita pouco usual em alunos de graduação. E você, hyung, quando começará o mestrado?
— Me inscreverei no semestre que vem.
— Será Literatura Japonesa?
Assenti.
— Você e esse seu amor por haicais.
Poderia abrir a boca para dizer que haicais eram apenas uma das muitas variações do que era produzido no ramo da literatura na língua japonesa, mas optei por provocá-lo ao recitar um:
— Tenho pra mim, que mesmo criticando, aprecia em silêncio. — soltei.
Sua resposta foi um bufo pouco elegante, traços infantes sustentados em sua face de anjo sórdido.
— Pois você vá para o Japão na frente, arranje um apartamento bom o bastante para nós dois, eu estarei indo logo atrás, assim que conseguir pegar o bendito canudo de papel.
— Tem certeza que quer mesmo morar comigo em Osaka? É algo grande, Jungkook.
— Todas as grandes coisas são difíceis e raras. — deu de ombros, pegando a colher de sorvete que eu larguei e terminando de tomar por mim.
— Você acabou de citar Spinoza?
Novamente o gesto de dar de ombros que me irritava em igual medida que inflamava meus ossos de excitação. O provocadorzinho sabia o que fazia. Principalmente quando citava os autores que eu apreciava.
— De qualquer forma, hyung, eu não espero que você deixará de me questionar sobre isso tão cedo, mas foi uma decisão tomada há meses atrás e eu ainda estou convicto do que quero. Agora se você prefere ficar sozinho lá...
Outro dar de ombros.
Foi o suficiente.
Um som muito parecido de um rosnado saiu da minha garganta.
— O que é isso? Tá ronronando de novo, tigrinho? Pensei que só fazia isso quando eu chu...
— Chega, Jungkook! Vamos embora, temos uma viagem a planejar.
Levanto da mesa com pressa, jogando meu caderno e lápis de qualquer jeito dentro da minha bolsa carteiro e saindo pelos jardins da faculdade, ouvindo sua gostosa gargalhada soar não muito atrás de mim.
Jeon Jungkook certamente tinha em mim o efeito semelhante ao dos haicais de Issa e Bachô.
Era devastador e assustadoramente belo.
Ele era para mim como uma poesia sobre pequenas coisas.
Eu era para ele como um garoto apaixonado.
FIM.
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Poesia sobre pequenas coisas | jjk + kth
Fanfiction[concluída] Jeon Jungkook é para Kim Taehyung aquilo que o Sol faz com as flores.