Angels Like You

1- 𝙱𝚛𝚞𝚝𝚊𝚕.𝚖𝚙𝟹

O despertador já havia tocado e Zach já estava pronto, enquanto eu, enrolava mais um pouco na cama, com meu celular em mãos adentrava em todas as redes sociais que minha memória capacitava, no twitter estavam todos reclamando de acordar cedo mais um dia, eu também, no instagram várias fotos com #Abençoada, todas as garotas da escola postavam isso com frequência, enquanto alguns meninos, como se devessem algo a alguém, postavam seus treinos matinais antes das aulas. E eu como plateia me alimentava disso.

- Evan, a abuela já chamou a gente pro café, não se atrasa não. - Zach murmurava.

Depois da morte dos nossos pais, a nossa guarda foi dada a nossos abuelos maternos, Gaspar e Inez. Eles moravam a dois quarteirões do prédio em que vivíamos com nossos pais, então a mudança não foi tão radical, e eu ainda tinha que dividir o quarto com Zach. Mesmo depois de tudo, sou muito grato de ter nossos abuelos em nossas vidas, não consigo imaginar aonde eu estaria sem eles, provavelmente preso.

Na cozinha vejo meu abuelo sentado lendo seu jornal com as pernas cruzadas.

- Que porcaria de roupa é essa, Evan? - Ele gritava enquanto apontava o jornal em nossa direção, eu usava uma calça rasgada preta e uma jaqueta de couro. - Seu irmão é tão normal... e você é tão... parece um maluco, Papi! - Abuelo sempre criticou minhas roupas, as músicas que eu ouço e até meus amigos, que, apesar de se vestirem como se fossem ao um show do Marilyn Manson, não faziam mal nem a uma mosca, a não ser que a mosca os olhasse torto, aí no caso a mosca seria no mínimo ameaçada com um canivete.

- E um maluco faria isso, senhor Gaspar? - Eu digo enquanto corria em sua direção e beijava sua careca, seu rosto esboçava uma careta, mas acabara cedendo e rindo. Em baixo dessa casca grossa meu abuelo é um anjo. Me sentando a mesa sentia o cheiro de café, fazendo minha boca encher de água, era impossível começar um dia sem uma xicara grande do café preto da abuela, que entra na cozinha com um pão recém assado e toda cozinha cheirava a pão quentinho, meu estomago responde com um ronco.

- O café está quente, querido, beba devagar. - Abuela me avisava enquanto beijava minha testa e a de Zach.

- É hoje o memorial da Sra. Anderson, meninos? - Ela nos perguntava servindo mais café ao abuelo, que não desviava o foco do jornal por nem um segundo.

Aqui vai um fato bizarro, a diretora da nossa escola, Sra. Anderson, fora encontrada morta em seu apartamento há uma semana, a causa da morte? Assassinato! Os rumores são de que seu próprio noivo a matou, ele descobriu que ela estivera o traindo e não aceitou muito bem, resolvendo então eternizar o "amor", palavras dele mesmo, cujo o próprio deixou uma carta detalhada sobre o homicídio seguido de suicídio, ele tirou a própria vida ao lado do corpo da Sra. Anderson, para então, ambos ficarem juntos para toda eternidade. Isso era para ser romântico, Romeu?

- É hoje, sim! O clima na escola vai ser pesado. - Zach respondia enquanto eu bebericava meu café quente.

-É claro que vai ser pesado, moleque, a pobre mulher foi assassinada, Dios Mio! - Gritava meu abuelo com a boca cheia de torradas, fazendo alguns farelos voarem. - Esculta aqui. - Ele largava o jornal na mesa se inclinando para mim e Zach. - Você e seu irmão precisam se cuidar, andar armados, no mundo de hoje nunca se sabe quando um monstrengo vai cair do céu e atacar vocês. - Ele falava sério enquanto nos encarava fixamente. Por mais exagerado que ele fosse, não estava errado, semana passada sequestraram nossa vizinha do 502.

- Eu ando com um canivete no bolso em caso de qualquer coisa, abuelo, consigo me proteger e proteger esse aqui também. - Avisava apontando com a cabeça para Zach. - Não é sempre que temos a sorte do Homem de Ferro e seus amiguinhos aparecerem para te salvar, nunca contei com isso e vocês sabem. - Desabafava quebrando totalmente o clima do café. Quando meus pais morreram e não pude fazer nada, comecei a perceber que ninguém poderia, eles foram alvejados a céu aberto e ninguém fez nada, nem mesmo os Vingadores salvaram a vida dos meus pais. Daquele momento em diante compreendi que, eu nunca estaria seguro em momento algum, não teria ninguém para me salvar, eu teria que ser esse alguém.