Ter ido ao mercado tinha sido uma péssima ideia, Donghyuck concluiu.
Poderia até dizer que tinha valido a pena só pela graça de ver Minhyung dizendo 'wow' a cada dois segundos e lhe mostrando os mais variados produtos que nunca tinha visto na venda da cidade natal, mas as dores no corpo inteiro lhe gritavam que talvez não tivesse sido tão precioso assim. Curioso. Não sabia que dores podiam mentir.
"Me dá só um minuto" - pediu ofegante, se apoiando no corrimão das escadas do prédio (sim, o prédio velho não tinha elevador).
"Meu Deus, Hyuck! Você deve tá se forçando muito na faculdade mesmo, pra ter tanto cansaço acumulado" - Minhyung disse entre uma risada fofa. - "Você deve dançar horas todo dia, né?"
Aquela era mais uma das mil ocasiões que a vida lhe mandava a oportunidade e seu coração implorava um 'conta a verdade', mas seu cérebro respondia com um 'não seja egoísta'. Era ridículo, pensar que estava apenas tentando poupar o canadense de sofrimento, e simplesmente saber que ele sofreria da mesma forma (para não admitir que talvez ainda mais) se o pior acontecesse. Mas não tinha em si a coragem de tirar o brilho inocente das feições do maior. Não tinha.
"Você não faz ideia" - respondeu, fechando os olhos ao tentar retomar suas forças. Por mais ridículo que fosse - e ele notou que a palavra ridículo vinha sendo usada muito para defini-lo ultimamente -, tinha feito um pacto consigo mesmo que, se iria omitir a verdade, no mínimo não iria mentir também. Não aguentava mentir para Mark.
"Tsc tsc" - o canadense estalou a língua, num desapontamento fingido - "Quem diria, videogames não te preparam pro esforço físico na vida real!"- Mark usou a implicância, que era basicamente a primeira forma de comunicação que a amizade deles tinha construído. Haechan não se importava, nem ficava irritado (bom, não de verdade).
"I hate you, Canada" - disse em seu inglês cheio de sotaque, ainda de olhos fechados. Abriu-os apenas quando as gargalhadas do outro preencheram toda a escadaria.
"You love me" - Minhyung retrucou, os olhos quase fechados de tanto que ainda sorria.
A frase fez o coração do menor bater forte contra a caixa torácica, um derrame de adrenalina de repente lhe preenchendo as veias. E, fácil assim, o cansaço tinha sido substituído por um formigamento nas pernas.
Voltou a subir as escadas rápido, como se soubesse que a sensação duraria pouco. Não olhou para trás (mesmo quando ouviu o outro falando consigo), como se soubesse que se parasse iria parar de vez. Chegando ao apartamento, avisou que tomaria banho primeiro e correu para o banheiro, considerando que se deixasse para depois não teria forças.
Enquanto ensaboava seu corpo, pensou ouvir a voz do mais velho, mas não teve certeza. Apenas quando desligou o chuveiro que pôde distinguir com nitidez o jeito simpático que o amigo parecia conversar com alguém. Estava curioso, mas ao mesmo tempo não queria interromper a privacidade do canadense durante a ligação - o que, por si só, era bizarro. Eles sempre contavam um para o outro com quem falavam, trocavam mensagens, e até atendiam o telefone um do outro. Bom, em outra época. Poucas semanas atrás, mas ainda assim. Donghyuck sentia como se não merecesse mais toda essa confiança e sabia, simplesmente sabia que era sua consciência pesando por não estar demonstrando confiança.
"Hyuck" - três batidas na porta, e o garoto agora de pijamas continuava parado no meio do estreito cômodo, sem saber o que fazer.
"Hm?" - respondeu, levantando a mão até a maçaneta, logo vendo o canadense o encurralar, pela segunda vez no dia, para uma chamada de vídeo.
"Lee Donghyuck!!" - a voz da sua mãe soou furiosa, e o garoto imediatamente quis morrer - "Por que não deu notícias hoje?!"
Seus olhos dispararam para o garoto que segurava o celular, bem escondido atrás deste enquanto o dragão na tela (vulgo adorável senhora Lee) conseguia ver apenas o rosto assustado de Haechan. Mark tinha uma mão na boca, abafando sua vontade de rir da cara do mais novo, e os melhores amigos trocaram uma conversa apenas por olhares, o coreano perguntando 'por que você atendeu?', Minhyung respondendo com um aceno de cabeça que 'você devia responder sua mãe'. Donghyuck pedindo um 'me defende por favor'. E Minhyung cedendo.
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Home to You
Fanfiction"𝘌𝘴𝘵𝘢𝘳𝘪𝘢 𝘵𝘶𝘥𝘰 𝘣𝘦𝘮 𝘴𝘦 𝘦𝘶 𝘷𝘰𝘭𝘵𝘢𝘴𝘴𝘦 𝘱𝘳𝘢 𝘤𝘢𝘴𝘢 𝘱𝘰𝘳 𝘷𝘰𝘤𝘦̂?" ◤Donghyuck se mudou para "a cidade", deixando todos os amigos felizes. Porque era assim que precisava que os outros estivessem. Felizes. Sem saber do que r...