Capítulo 2: Busão errado

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Era para ser um dia perfeito. Enzo deveria ter arrasado na reunião, feito os clientes felizes e finalizar à noite com um encontro. Por outro lado, Noslen, deveria ter conseguido os últimos R$ 40 para pagar o seu aluguel. Nenhum deles alcançou seus objetivos, porém, nada mais importava, pois os seus olhares se encontraram.

Depois de um tempo, Noslen pegou o celular no chão e entregou para Enzo, por alguns instantes suas mãos se tocaram. O clima estava ótimo, a música continuava tocando, entretanto, uma moça chamou a atenção do vendedor venezuelano.

Naquela noite, poucos compraram os bombons de Noslen. Educado, ele agradeceu a cliente e procurou um assento, o único disponível era ao lado de Enzo, que ficou aparentemente nervoso.

— Que calor, não. — soltou Noslen, que fez uma careta engraçada, sem ter ideia de como iniciar uma conversa com um garoto bonito.

— O quê? Desculpa, eu não entendi. — perguntou Enzo, sem entender no primeiro momento.

— Desculpe, meu portunhol é horrível. — lamentou Noslen, ficando mais nervoso ainda.

— Ah. — retrucou Enzo pensando um pouco. — Eu sei falar espanhol.

— Que bom. E sem sotaque. — comentou Noslen, que aprovou o espanhol de Enzo.

— Morei com a minha família muito tempo na fronteira com a Colômbia, então, arrisco um pouco. — explicou o jovem, ainda falando em espanhol.

— Entendi.

— De onde você é?

— Sou da Venezuela. Pelo menos, eu acho. É uma longa história. — Noslen contou, mas mudou de assunto para não deixar o clima pesado.

— Entendi. — falou Enzo, rindo um pouco e fazendo os olhos de Noslen brilharem.

Quem diria. Um dia que tinha tudo para terminar de forma horrível mostrou uma luz no fim do túnel. A conversa fluiu entre os dois. Enzo adorou o senso de humor de Noslen.

— Cara, comecei o dia com o pé esquerdo, entretanto, estou feliz que te conheci. — Enzo não queria soar desesperado, mas foi sincero com o venezuelano.

— Que bom...

Novamente, o bate-papo foi atrapalhado, só que dessa vez, o problema era mais sério. Quatro homens entraram no ônibus e anunciaram um assalto. Noslen, meio sem entender, ficou olhando para Enzo, que engoliu seco e falou para o rapaz sobre o roubo. Os ladrões começaram a se espalhar no coletivo e pediram os celulares.

— O que fazemos? — perguntou Noslen, tentando parecer corajoso na frente de Enzo.

— Entrega tuas coisas para ele. — pediu Enzo, tirando os documentos da carteira e guardando no bolso. — Eles podem nos machucar.

Enzo nunca se imaginou naquela situação, ainda mais, em uma das raras vezes em que pegava um ônibus. O grupo começou a coletar os pertences dos passageiros, uma moça que estava próxima a ele começou a chorar. O coração de Enzo acelerou, ele queria fazer alguma coisa, porém, naquele momento, o certo era não reagir. Um dos meliantes pegou o celular e a carteira dele.

— Olha só, alguém resolveu trabalhar honestamente. — ironizou um dos assaltantes, pegando a caixa de Noslen e jogando no chão.

— Seu... — balbuciou Noslen, sem reagir.

— É o seguinte, ainda tem pouca coisa aqui. Vamos abrir essa mão, povo! — gritou o ladrão que estava com a arma.

— Não temos mais nada. — respondeu a cobradora do ônibus com a voz trêmula de medo.

De longe, luzes vermelhas e azuis piscaram. Por coincidência, uma patrulha da polícia passava e percebeu que algo não estava certo, porque o ônibus parou no meio da avenida. Eles saíram da viatura e se aproximaram. Preocupados, os assaltantes ordenaram que os passageiros fossem para a traseira do coletivo.

Um Venezuelano na minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora