Saudades.

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Annelise

A claridade me incomodava, abri os olhos devagar e dei graças por ser sábado, olhei para o relógio digital em minha bancada e um bilhete da minha madrasta. Ela ainda entra em meu quarto para deixar bilhetes

"Fui ao mercado comprar umas coisas para fazer o nosso almoço! Parabéns minha princesinha, estarei de volta logo logo"

Sim, é o meu aniversário. Todos acham que apenas por ser minha madrasta, Anna me trata mal. Mas não, ela foi a única que ficou comigo independente de todo caos.
Perdi meu pai quando eu tinha 10 anos, ele era envolvido com a máfia e minha mãe também, onde ela está? Eu não faço idéia. Não vejo a minha mãe desde da morte do meu pai, e nem desejo ver. Ela armou para o papai, ela o entregou para a máfia rival, de bandeja. Eu não a vejo e nem sequer sei da máfia durante esses anos todos. Eles não estavam mais juntos desde quando eu tinha apenas 5 anos de idade, porque ela não seguiu a vida dela normalmente e deixou uma criança feliz? Apenas com meu pai e minha madrasta.

Meu sonho era ser uma mafiosa, poderosa igual às mulheres que eu via lá dentro, mas não todas. Algumas sofriam na mão de seus maridos, eles a batiam, e as machucavam, são coisas que uma criança nunca esqueceria.
Eu sentia falta da minha mãe, mas não preciso dela, nunca precisei da minha mãe durante anos e não será agora.

Levantei da cama, em passos preguiçosos, eu caminhei até o banheiro, lavei o rosto com calma e fiz minhas higienes, aproveitei para tomar um banho e me preparar para Anna que com certeza faria como todo ano. Entraria pela porta com um bolo em suas mãos, enquanto cantava parabéns. E assim foi feito.
Ouvi a voz da minha madrasta soar pela sala me fazendo ir para o corredor rindo enquanto ela entrava com o bolo com duas velas em cima com os números "22". Ri enquanto me aproximava, pegando o bolo para que facilitasse ela com as sacolas e logo assoprei a vela.

- Obrigada Anna. Sabe que não havia necessidade disto!

- Sabe que faço isto todo ano, porque agora seria diferente?

Deixou um selar em minha testa deixando as sacolas na mesa.

- Me ajuda a arrumar essas coisas?

- Claro!!

(...)

Era 19:30, estava deitada olhando para o teto, depois de ter ajudado Anna, havíamos comido o bolo e conversado um pouco. Tentei tocar no assunto da máfia, mas ela desviava sempre, ela sabia coisas que eu não sabia, além do mais, ela era a mulher do meu pai.
Sei que Anna presenciou coisas que eu não faço ideia dentro daquele lugar, ainda me recordo um pouco de brincar com algumas crianças, filhos dos mafiosos, no máximo me lembro de uma menina; Rachel.

Éramos melhores amigas naquele local, aprontávamos muito! Mas depois de tudo que aconteceu, fui embora de lá com Anna, era uma criança com apenas 10 anos nem pensava em ter um celular para ainda manter contato com Rachel. Ainda tentei procurá-la na adolescência, mas se ela continuou naquele lugar, com certeza não seria boba de ter redes sociais. Era proibido.

  Acabei nem percebendo que havia pego no sono, enquanto me recordava daquilo tudo, mas havia algo estranho. Por que me lembrar disso depois de 12 anos?

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