Campeonato.

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Capítulo 46 ♥ Campeonato




Liam:

Eu estava nervoso. Os juízes já estavam com seus apontamentos, julgando cada erro e acerto da nossa equipe. Foram meses de treinamento e trabalho duro, para sermos julgados por menos de meia hora de apresentação.

Os concursos de adestramento no Brasil seguiam as mesmas regras dos concursos internacionais. Haviam cinco categorias distintas, divididas entre profissional, sênior e mirim. A categoria em que a fazenda estava inscrita era a profissional, e tínhamos dois cavalos participando. Renato havia se inscrito para o prêmio de melhor adestrador. Era um prêmio à parte, próprio para alavancar o nome dos melhores adestradores do país.

Eu estava muito orgulhoso de nossa equipe. Principalmente do Renato, que soube executar os melhores saltos e os movimentos fluidos e certeiros de cada animal. Ele havia sido perfeito. Quando nossa pontuação foi anunciada no telão, não consegui conter minha euforia. Paulo estava aos berros, mas ainda era cedo para comemorar. Nós apenas tivemos a melhor pontuação de todas as equipes que se apresentaram até agora. Ainda faltavam mais duas equipes. Nossa maior alegria era que, independente de qualquer resultado, no mínimo teríamos o terceiro lugar.

O prêmio para o terceiro lugar não era de todo ruim, mas eu queria muito a vitória. Não apenas por mim, mas por todos que se esforçaram nos últimos meses, nos apoiando e dando suporte depois que meus pais faleceram, não desistindo na fase ruim da fazenda. Eu também queria essa vitória como uma forma de homenagear a eles, aos meus pais, como um simbolismo de que, não importava o que acontecesse, o sonho deles continuaria através de mim. Sim, eu queria muito vencer.

Théo, John e Diva estavam em meio à plateia, na arquibancada. Théo e Diva já eram esperados, mas John ali era algo que jamais imaginei. Se ele realmente mudou, essa era uma das provas que eu precisava. Antes da competição, nós conversamos um pouco. Ele conhecia as regras do campeonato, o que me surpreendeu um pouco. Me disse que se inteirou há alguns anos atrás, quando começou a se interessar pela vida do filho novamente. Agora, ele estava visivelmente emocionado.

Quando anunciam o campeão da categoria adestrador, Paulo dá um grito tão alto que me assusto. Vejo-o correr em direção ao Renato, que estava perto do palanque, junto com os outros adestradores indicados. Ele também já estava vindo em nossa direção, com um sorriso enorme. Quando eles se encontram, param na frente um do outro e ficam apenas se encarando. Escuto Paulo dizer que já sabia que ele seria o campeão e, depois de alguns momentos olhando um para o outro, eles se abraçam. Finalmente! Meu sorriso se alastra e me sinto tão feliz por eles.

Quando o resultado da penúltima equipe é anunciado, meu coração bate em disparada. Estamos em segundo, pelo menos. A última equipe está se apresentando agora e eles são incríveis também. Qualquer resultado seria justo. Céus, eu estava tão nervoso. Vejo Théo descer a arquibancada e vir em minha direção. Quando chega perto de mim, ele segura minha mão e eu aperto de volta, buscando me acalmar com o toque.

— Liam, você deu o seu melhor e eu me sinto tão orgulhoso de você. – Suas palavras me emocionam. – Ano que vem quero participar de cada etapa das suas conquistas.

Meus olhos se enchem de lágrimas.

— E isso é uma promessa. Não só para o ano que vem. – Ele se aproxima mais de mim. – Quero estar com você para todo o sempre.

Aquelas palavras me fazem esquecer tudo ao meu redor por um instante.

— Eu te amo. – Ele diz em meu ouvido.

— Também te amo. – Digo, emocionado.

Não me contenho e beijo-o, esquecendo de toda a plateia ao nosso redor, esquecendo de tudo e de todos, até que me sinto sendo abraçado por várias pessoas ao mesmo tempo. Afasto nossas bocas e olho ao redor, confuso. Toda equipe estava em cima de nós em um abraço grupal.

— Nós ganhamos! – Escuto alguém dizer, mas não sei quem.

— O quê?

— Nós ganhamos!

— Nós ganhamos!!!










Théo:

Ele estava tão feliz. Emocionado e feliz. Pelo que conheço dele, ele devia estar pensando nos pais nesse momento, por isso aquelas lágrimas.

Abraço-o com ainda mais força, transmitindo todo meu amor a ele através desse gesto. Ele era um cara tão esforçado, e eu não conseguia esconder meu orgulho por ele. Ele merecia mais do que qualquer um. Outros querem abraçá-lo também, então me afasto e deixo o restante da equipe parabenizá-lo também.

— Eu vejo muito do Léo nele. – Vovô diz. Eu nem tinha percebido quando ele chegou ao meu lado. – Eu perdi todas as conquistas do meu filho.

Ele estava chorando. Era uma cena tão rara que fico sem reação. Não sei o que dizer, nem o que fazer. O homem que sempre vi como frio e calculista, criador de uma das maiores fortunas do país, chorando. Estava em lágrimas em minha frente, em volta de pessoas estranhas, cavalos e lama em alguns lugares.

— O destino me deixou vivenciar isso através do Liam e eu jamais conseguirei ser grato o suficiente por isso.

Eu tomo a iniciativa e o abraço. Talvez toda essa história veio para fortalecer nossos laços. Nunca havíamos sido tão chegados um ao outro mas, agora, sinto através desse abraço que eu poderia ser mais do que um funcionário para ele. Não apenas alguém que ele confiava suas finanças e seu império, agora eu poderia realmente me sentir como um neto. E é assim que Liam nos encontra.

— Liam, meus parabéns! Sei que o Léo está muito orgulhoso de você agora.

Os dois se abraçam e, agora, sinto como se minha vida estivesse nos eixos pela primeira vez. Todos que eu amo estão aqui, ao meu lado, rindo e felizes.

À noite, Diva nos oferece um jantar e todos nos reunimos na fazenda. Se há alguns meses atrás, alguém me falasse que eu poderia vivenciar essa cena, eu diria que a pessoa estava completamente louca. Mas aqui estamos nós, em volta de uma enorme mesa de madeira do lado de fora da casa, com música, muita comida e cerveja. As esposas e filhos dos funcionários do Liam também haviam sido convidados, então havia casais dançando e crianças correndo em volta da mesa.

Tenho que confessar que me sentia bem ali, com todos. Até para o idiota do Paulo eu havia sorrido esta noite. Efeito da cerveja e do clima de comemoração, apenas. Não é que eu estivesse me acostumado a suas piadinhas sem graça e ao seu sorriso patético. Muito menos pelo fato de sentir que eu não precisava sentir ciúmes dele novamente, pois o desgraçado estava totalmente apaixonado pelo adestrador. Nada disso. Era culpa da cerveja, com certeza. Amanhã seria outro dia.

Quando o destino resolve brincar. (Livro 1). INTENSOOnde histórias criam vida. Descubra agora