3- Oi, sumidas!

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Algum tempo se passou desde que Naya havia adentrado a floresta, furiosa com Lana e Jade, que por sua vez cometeram um erro estúpido. 
O clima no acampamento não era dos melhores, Lana e Jade sentiam muita culpa sobre o ocorrido, enquanto os forasteiros não sabiam o que dizer, e nem o que conversar entre si. Todos os nove estavam sentados ao redor da fogueira, em completo silêncio e com fome. Lana até pensou em fazer um pouco da comida que Naya trazia em seu mochilão, mas ficou em dúvida pois não saberia como ela reagiria. 
A mais baixa passou muito tempo se questionando se iria fazer a comida que Naya trouxe, e quando ela estava prestes a se levantar para pegar a comida, a negra apareceu, completamente ensanguentada, puxando uma corda com a mão direita. 
— Naya? — Jade se levantou prontamente, preocupade. Mas Naya nem ligou para elu.
Quando perceberam a reação de Jade, encararam a negra, adentrando a clareira, ficaram chocados e um tanto preocupados. Mas Naya não ligou para todos aqueles olhares em cima de si, estava mais focada em puxar a corda que trazia um pequeno porco do mato na outra ponta. Quando a mesma chegou próximo a fogueira, onde todos a encaravam, soltou a corda no chão e finalmente falou algo. 
— Trouxe o jantar. — Apontou para o porco que estava amarrado, morto. — Mas não vou limpar, já tive trabalho suficiente para encontrá-lo, matá-lo e trazê-lo. Se virem com isso. — Ia se virar para sair dali, mas pensou melhor e não o fez. — Ah, e eu achei um rio também. Preciso de algo para pegar água e alguém para me ajudar a trazer. 
— Eu posso ir. — Alice falou, Naya a encarou um tanto confusa e riu. 
— Você?! — A negra sorriu irônica. — Eu pensei em levar o filhote de burro de carga. 
— Não vou, obrigado. — Lucas falou seco. 
— Ninguém mais quer ir então? — Naya olhou para os forasteiros esperando uma resposta, mas todos começaram a olhar para outros lados. A negra suspirou, vendo que ninguém mais queria. — Então tá. Vem garota. 
Naya pegou sete garrafas vazias que tinha encontrado nos mochilões, e partiu para dentro da floresta, Alice indo logo em seguida, quase correndo atrás de Naya, já que a mesma andava com pressa. 
Quando chegaram no rio, a ruiva ficou maravilhada com a beleza do local. Mesmo com tudo o que estava ocorrendo em sua vida com Tuballí, Alice não pôde deixar de se admirar com o local. A mulher conseguiu perceber árvores parecidas com pinheiros na outra borda do rio, e ao oeste, para onde o rio corria, percebeu uma montanha rochosa, que deveria deixar a paisagem belíssima ao pôr do Sol. 
Naya colocou as sete garrafas vazias no chão e começou a encher uma, quando Alice percebeu, fez o mesmo. Não demoraram muito a terminarem de encher todas as garrafas, uma vez que duplicaram a velocidade, cada uma enchendo uma garrafa por vez. A ruiva estava prestes a levantar para voltar ao acampamento, mas se surpreendeu ao ver a negra tirando sua jaqueta, e sua camiseta em seguida. 
— O-o que está fazendo? — Alice questionou, um pouco corada. 
— Preciso me lavar. Estou com o sangue do porco no corpo, não quero predadores atrás de nós. — Naya respondeu tirando as últimas peças de roupa que faltavam, ficando apenas de lingerie. A negra se virou para Alice e a encarou de cima a baixo rapidamente, sorrindo de canto em seguida. — Espero que não se importe. 
— N-não, tudo bem... — A ruiva tentou disfarçar. 

Quando Naya entrou no rio para se lavar, Alice não conseguiu tirar seus olhos da negra, apesar de ser casca-grossa com os forasteiros, a ruiva não pode negar que Naya tinha um corpo único, e banhada pela luz do luar, até parecia ser uma pessoa serena. 

E ela era, realmente, uma pessoa serena - no fundo. Mas depois da guerra que ocorreu em Tuballí, cinco anos atrás, Naya perdeu alguém importante para si, e com isso começou a ter dificuldades para se abrir com pessoas novas, passando a esconder seus sentimentos e sendo fria e grossa em grande parte do tempo. Entretanto, nenhum dos forasteiros sabiam do passado de Naya e nem de toda a bagagem que ela traz consigo, portanto logo deduzem que ela apenas os odeia sem motivos. 

Alice começara a prestar mais atenção em Naya, se banhando ali no rio. Em alguns momentos, a luz do luar refletia na negra e era possível perceber algumas cicatrizes espalhadas por seu corpo, a ruiva não tinha a menor ideia de como Naya havia ganhado essas cicatrizes, mas imaginou que deveria ter ocorrido algo terrível com ela. 
Pouco tempo se passou e Naya logo saiu do rio, já limpa. A mesma retirou o excesso d'água com as mãos e vestiu suas roupas novamente, ignorando o fato de que elas ficariam encharcadas. Ela e Alice pegaram as garrafas d'água e voltaram para o acampamento, onde Lana e Jade já assavam a carne do porco. 
— Demoraram... — Lana falou assim que as duas se aproximaram da fogueira. 
— Me banhei no rio depois de enchermos as garrafas. — Naya respondeu simplista. — Estava cheia de sangue, não queria predadores vindo atrás de nós! 
— É, faz sentido... Jade deu uma olhada no mapa mais cedo... 
— Há algum problema no caminho? 
— Não. Pelo mapa, amanhã conseguiremos chegar na vila C, sabe o que significa? 
— Que encontraremos Eric e Arthur, poderemos descansar na casa deles e pedir por mais comida? — Naya falou enquanto arrumava as garrafas metálicas perto da fogueira, para ferver a água. 
— Exato! — Jade falou, sorrindo. 
— Quem são Eric e Arthur? — Pedro questionou. 
— Nossos amigos. — Lana respondeu prontamente. — Há algum tempo não vemos eles, digamos que... Eles foram proibidos temporariamente de entrar na nossa vila. 
— Temporariamente? — Naya riu. — Eles foram banidos de lá! 
— Mas não é definitivo! 
— Com Caio sendo nosso líder de vila? Eu duvido! 
— A pior coisa que fizeram foi colocar cada vila com um líder diferente! Deveria ser tão melhor na época dos Iniciais. 
— Iniciais? — Pedro questionou. Dentre os sete forasteiros, era o mais interessado em Tuballí.
— É como chamamos nossos colonos. Tuballí nasceu da magia. Todos aqui somos descendentes de bruxos, magos e feiticeiros. Alguns têm poderes, outros perderam com o tempo. — Jade explicou. 
— Os Iniciais são os nove bruxos que criaram Tuballí, eram os mais fortes da região na época da caça às bruxas, criaram esse lugar para se esconderem dos caçadores e poderem viver em paz. Cada região representa um deles. — Lana completou. 
— E quais são as regiões e seu bruxo representante? — Pedro perguntou, super interessado na história do lugar, os outros forasteiros também se atentaram a conversa. 
— Bom, nós temos a região da Arara, da bruxa Alana. A Onça, da bruxa Olga. O Tucano, do bruxo Tadeu. O Boto, da bruxa Brenda. O Sagui, do bruxo Saulo. O Tamanduá, da bruxa Tainá. O Mico-Leão, do bruxo Marco. O Camaleão, do bruxo Carlos. E a Capivara, da bruxa Clarice, que é onde vivemos e estamos no momento. — Lana explicou. 
— Cada região tem a quantidade de vilas equivalente à quantidade de letras do nome da região. E cada vila é representada por uma letra. Por exemplo, a região da Arara têm cinco vilas, sendo elas A um, R um, A dois, R dois e A três. — Jade completou. 
— E como surgiu o nome Tuballí? 
— Havia um décimo bruxo, Tales Tuballí. Ele iria ajudar a conjurar esse lugar, mas foi capturado antes. O nome é em sua homenagem. Há um vale com o animal que o representaria, a Taturana, mas não é habitado. O morro para onde estamos indo fica lá. — Naya explicou. — Aprendemos quase tudo sobre Tuballí na escola. Ninguém quer que a história desse lugar morra. 
— Tuballí é muito interessante. — Pedro falou após ouvir todas as explicações. — Quando voltarmos, eu poderia escrever um livro sobre esse lugar. 
— Não! — Jade, Lana e Naya disseram em uníssono. 
— Vocês vieram sem querer para cá! Esse lugar tem uma rígida política sobre não-descendentes-de-bruxos. Se escrever um livro as pessoas vão começar a procurar por Tuballí! — Lana disse, um tanto preocupada. 

Tuballí: Um Mundo SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora