Prólogo

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Nos oitocentos depois que os de Ruwenda chegaram para governar a alagada região chamada Pântano Labirinto ( nunca completamente, pois jamais dominaram os indomáveis oddlings), a história e a lenda despertaram para registrar mais uma dessas mudanças que, uma vez ou outra, alteram o verdadeiro equilíbrio do mundo.

Para as nações civilizadas da península - especialmente a nossa, da vizinha Labornok - o planalto alagado era um terreno inútil que parecia existir apenas para frustrar e irritar os povos mais rigorosos e progressistas. Ruwenda não era, na verdade, um reino completamente organizado, pois sua soberania não se estendia as estranhos nativos que viviam dentro das suas supostas fronteiras. Os reis ruwendianos complacentemente permitiam a permanência dos enclaves anárquicos dos chamados oddlings, muitas vezes em detrimento dos seu verdadeiros súditos, da paz geral e da ordem do reino.

Duas dessas tribos nativas, os pequenos pantaneiros nyssomus e os seus parentes próximos,  mais altaneiros, os uisgus ( decididamente subumanos e portanto destinados pela natureza para servir deus superiores ), eram tratadas, quer pela coroa, quer pelos mercadores de Ruwenda, como supostos iguais, embora não fosse exigida delas nenhuma forma de lealdade. Na verdade, certos grupos de nyssomus visitavam frequentemente a famosa Cidadela Ruwenda e alguns daqueles seres inferiores eram aceitos como servos da corte real.

Duas outras tribos dos oddlings, os vispis , amantes das montanhas , e os vrilos, semicivilizados, das florestas tropicais do sul, não eram amistosas com os seres humanos, mas permitiam-se negociar com os mercadores ruwendianos regularmente. Por outro lado, os sombrios glimaks, que habitavam as selvas próximas do território dos wyvilos, raramente eram vistos pelos humanos. Era um povo feroz e selvagem, que se deleitava em massacrar os oddlings seus vizinhos. A última e maior tribo de oddlings, os abomináveis skriteks , também chamados afogadores, ocupava a maior parte do pântano, mas era extremamente numerosa nos  vastos e fétidos alagados ao sul da Cidadela Ruwenda, bem como Thorny Hell , o inferno de espinhos, na região centro-norte. Esses demônios do Pântano Labirinto eram temidos assaltantes de caravanas e das mansões e propriedades rurais isoladas dos humanos, afogando suas vítimas ou torturado-as com inominavel brutalidade, antes de lançá-las nas areias movediças para morrer. Contudo, os reis que se sucediam no trono de Ruwenda nada faziam para livrar a terra dessa ameaça.

Diziam, naquele tempo, que a podridão do pântano havia enfraquecido a mente e o corpo dos humanos de Ruwenda. Seus governantes eram todos amantes dos prazeres, completamente estranhos à disciplina feudal. Quando o culto, mais obstinado Karin III subiu ao trono, sua incapacidade manifesta e lidar com as nações vizinhas demonstrou claramente que chegara a hora de pôr em prática métodos mais progressistas e esclarecidos para resolver a situação de decadência que há anos atormentava nosso grande reino de Labornok.

Infelizmente Labornok precisava das mercadorias que seus irresponsáveis e ineficientes vizinhos tinham para oferecer. Com nossas florestas há muito tempo devastadas e transformadas en lavoura, dependiamos das florestas tropicais dos ruwendianos não só para a construção dos nossos navios que sustentavam nosso próspero comércio marítimo, mas também para a madeira de lei que realçava e adornava as imponentes construções de Derorguila. Além disso, por um cruel capricho a natureza, as encostas Labornok dos inacessiveis Montes Ohogan eram praticamente desprovido de minério utilizável, ao passo que o lado ruwendiano da cordilheira abrigava depósitos de ouro e platina, bem como vários tipos de pedras preciosas que , levadas pelas águas, eram depositadas aleatoriamente nas montanhas. Os cristais e metais preciosos eram apanhados ao acaso pelos oddlings vispis, vendidos aos uisgus e finalmente chegavam às mãos dos ruwendianos humanos. Outras mercadorias do pequeno e perverso reino eram valiosas ervas medicinais dos pântanos e temperos culinários, peles de worrans e couro de fedok, além de artefatos curiosos que os oddlings encontravam nas ruínas de antigas cidades, nos rincões mais inacessiveis do pântano.

Trílio NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora