CAPÍTULO 2
O HOMEM INVISÍVEL
Fico sempre sentado ali todos os dias. Passam por mim e nem me notam. Acho que devo ser homem invisível. Acho não, sou um homem invisível, amargo, recalcado e muito mal amado. Ninguém me olha e quando isso acontece, o olhar vem com desprezo.
Gente, mas por que eu nasci?
Credo. Chega. Vou mudar minha atitude a partir de hoje. Ninguém mais vai me humilhar ou me olhar com desprezo.
Levantei-me e fiquei esperando dar o horário.
- Sai da minha frente! – Disse um velho que passava por ali. Rapidamente saí.
Chagando perto das 09h, Marizete, uma das garçonetes deste lugar, chegou.
- Como sempre aí, não é Marcos?
- Sim. – ainda cabisbaixo.
- Sua vida deve ser um inferno mesmo. Nunca vi você sorrir de verdade. Sempre quando faz isso, sorri amarelo. Meu, levanta! Seja homem, enfrente suas escolhas.
- Não é isso Marizete! – Meus olhos encheram-se de lágrimas.
- Como vão os seus filhos?
- Bem! Bem! Todos os dias você me pergunta isso, por quê?
- Porque nunca vi você falar deles ou de sua mulher. Diga-me uma coisa, você é feliz?
- Claro – Respondi rapidamente – Claro que sim!
- Não parece. Você trabalha o dia inteiro emburrado. Não sei como ainda trabalha aqui!
- Mas eu sei... - Murmurei baixinho.
- Eu queria saber. Em falar nisto, olha aí chegando a Adriana e o Maurício.
- Oi Marcos. Tudo bem? – Perguntou Adriana. Sempre acho que ela dá moral para mim, mas não sei.
Maurício abriu as portas do comércio. Fui logo me arrumar e começar a limpar as mesas. Todos os dias a mesma coisa. Chegar cedo, limpar mesas, lavar copos, atender clientes e ajudar as meninas e por fim, ir para casa. Quero dizer...
Hoje o dia passa mais devagar do que passos de burro. Só porque quero ver a mulher que Róger separou para mim.
Apesar da lentidão, o dia passou.
Troquei-me rapidamente e fui ao meu local habitual, esperar Larissa. Róger chegou e me deu uma carona.
- Vou te levar até ela. Suba aí! – Disse ele. Subi e com muita euforia disse:
- Será que funcionará?
- Se uma gostosa daquela não funcionar, meu amigo, você tem algum problema.
Será mesmo? Pensava sempre. Em toda a minha vida, tive apenas duas relações sexuais. Não consigo mais. Tenho um nervosismo fora de questão.
Chegamos a um apartamento. Ele me deu o número e disse para eu ir que ela já me esperara.
Procurei e achei. Cheguei à porta e toquei a companhia. Ela abriu.
- Oi tesão! – Estava olhando para baixo e vi seus pés bem feitos descalços, fui subindo, ela estava de calcinha e sutiã. Ela era linda. Gostosa mesmo!
Entrei meio tímido.
- Você é o Homem de Cinza?
- Sim. – Disse baixinho.
- Você tem um corpo muito bonito. – Ela passou a mão em meu peito, descendo para o umbigo e subindo para o pescoço.
Arrepiei-me, mas não subiu ainda.
Ela sentou no sofá, e com sua mão suave, levantou minha camisa.
- Hum! Barriguinha tanquinho. – Foi abrindo meu cinto e descendo meu zíper. Abriu o botão da calça. Viu minha cueca branca, desceu minha calça.
Ela percebeu que estava trêmulo.
- Calma. – Puxou-me e me jogou no sofá. Ela veio por cima, abriu as pernas com seu calor fulminante. Colocou seus lábios nos meus. Sua língua encontrava minha boca e os locais mais pernósticos dela.
Senti uma excitação e um calor subir. Mas imediatamente a empurrei com brutalidade.
- Que isso? Seu louco! – Ela foi do tesão ao ódio em questão de segundos.
Fiquei transtornado e rapidamente peguei minhas coisas e saí.
Na rua, fiquei pensando na minha vida lamentável, fiquei pensando que nada dá certo. Por quê?
Para variar, começou a chover e logo corri para minha casa. Todo molhado, entrei em casa e a Silvia já estava à minha espera.
- Onde estava?
- Ué, estava trabalhando. Vai ficar me vigiando agora?
- Você não estava trabalhando. Eu liguei no seu emprego e lá me disseram que você não trabalha lá há algum tempo.
- Sim. Mudei de emprego faz algumas semanas.
- Para de mentir, Marcos! – Gritou Silvia. Assustei-me.
- Não estou mentindo! – falei devagar e engasgando.
- Eu fico aqui nesta casa com nossos filhos, sozinha. Eu já estou cheia. CHEIA DE VOCÊ. SEU MAU CARÁTER. – Ela partiu para cima de mim. Batendo.
- Que isso? – Tentei me esquivar e de repente os meninos começaram a chorar. Peguei nas mãos dela e olhei firmemente para ela – Eu é que estou cansado desta vida medíocre. Você não me dá um carinho há séculos. Vive o tempo inteiro me maltratando. Quer respeito? Você agora vem para cima de mim. Sorte que estou calmo, porque senão...
- Senão o quê? Vai me bater?! Vai seu covarde!
- Eu? Covarde?
- Sim. Agora você ficará com eles. Eu vou sair!
Ela saiu batendo a porta. Os meninos não paravam de chorar. Estavam berrando. Fui até o quarto. Acendi a luz e peguei o menino no colo. Peguei o celular e liguei a cobrar para minha mãe.
- Mãe? – Disse chorando ao telefone.
- Quê? Isso são horas?
- Por favor, vem me ajudar! A Silvia saiu e os meninos não param de chorar.
- Eu não estou nem aí! Você não seguiu os meus conselhos e só me liga nas horas difíceis. Agora me deixa dormir! – Ela bateu o telefone em minha cara.
- Ai meu Deus. – Chacoalhava o bebê para lá e para cá. Não sabia mais como proceder. Nunca fiquei literalmente sozinho com eles.
Meu Deus... meu Deus... meu Deus!
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O HOMEM DE CINZA
FanfictionMarcos é um rapaz descontente com a vida. Casado e com dois gêmeos tenta a sorte pelas ruas com uma identidade secreta. Róger, seu amigo de rua, decide o ajudar nesta empreitada, mas ele acabará se vendo em um caminho sem volta. O Homem de Cinza é u...