No outro dia depois da discussão com a desconhecida resolvi ir tomar café com meus pais. Fazia tempo que não os via e precisava saber como está indo o tratamento contra o câncer de pulmão.
Agora, um dia depois estou voltando na cafeteria. Não posso dizer que não pensei na mulher, ela chama a minha atenção e é por esse motivo que estou voltando. Talvez ela tenha sido mal educada pois não estava nos melhores dias.
Entro pela porta de vidro, olho ao redor, mas nada dela. Me aproximo da atendente vulgar e ela sorri com seus lábios vermelhos sangue.
— Você viu uma mulher bonita de cabelos curtos e ondulados? — pergunto sem a cumprimentar.
— Não. Vai querer alguma coisa? — se debruça sobre o balcão.
— Sim, um café expresso com leite por favor — peço.
— Nada para comer? — sorri e passa a língua nos lábios.
— Hoje não — nego e finjo que não entendi sua investida.
Peguei o café e pego a comanda esperando me chamarem. Eu gosto desse lugar porque eles sempre entregam rápido os pedidos. Olho mais uma vez para as mesas, mas ela realmente não está aqui.
Sigo para o meu lugar de sempre e me sento. Pego meu celular e olho as mensagens, nada demais. Suspiro, tenho sentido um aperto no coração nos últimos dias, desde o casamento do Vicent. Acho que é a dor de ver meu irmão compartilhando a vida com alguém, eu queria o mesmo. Me sinto feliz por ele, mas queria o mesmo.
É complicado chegar no meu apartamento em silêncio sem ninguém para te receber e quando você coloca a cabeça no travesseiro todos os pensamentos vêm rápidos, normalmente são todos negativos. Eu posso ter amigos conhecidos por toda a cidade, mas nenhum vai estar comigo no final do dia.
Não quero voltar para a casa dos meus pais pois só vou dar trabalho. Minha mãe já está muito atarefada com meu pai e os cuidados da casa.
Minha comanda é chamada, pego meu café e volto para o mesmo lugar. Tomo a bebida quente em pequenas quantidades tentando me enrolar. No fundo eu sei que ela não vai aparecer.
Vou para a empresa desolado, ela não veio hoje. Talvez eu tenha pego pesado chamando a sua atenção. Eu queria saber mais sobre a desconhecida.
Eu não desisto então resolvo passar novamente na cafeteria depois do trabalho. Não quero parecer um louco, talvez ela me ache um.
Entro direto dessa vez, sem fazer nenhum pedido, e vou até o fundo. A encontro sentada no mesmo lugar no canto da parede com seu livro em mãos. Me dirijo até a mesa.
— Te achei. — a desconhecida leva um susto.
— Você está me espionando? — ela perguntou séria.
— Não, só estava saindo da empresa e te vi aqui. — respondo e me sento em sua frente. — Dia corrido hoje? — percebo pelos seus cabelos desalinhados e sua olheira escura, ela está cansada.
— Algumas provas. — Dá de ombros.
— Por isso não veio hoje de manhã?
— Sim.
Batuco meus dedos na mesa enquanto ninguém fala nada, como ela consegue prestar atenção no livro com toda essa barulheira? Ou ela faz para me ignorar ou é viciada em mundos paralelos.
— Você finge que lê para me ignorar? — solto a pergunta no ar.
— Como? — ela abaixa o livro e me encara.
— Eu perguntei... — começo.
— Eu entendi. — abana a mão. — Você se acha o centro do universo, né? — ela debocha com um sorriso de canto.
— Não, mas você não deve conseguir ler nessa barulheira. — retruco.
— Consigo. — ela volta a erguer o livro e cobre o seu rosto. Respiro fundo, isso vai ser difícil.
— Posso saber o seu nome? — pergunto.
— Não.
— O meu é... — antes que eu consiga terminar ela abaixa o livro novamente e me corta.
— Eu sei qual o seu nome — fala seria, fico surpreso.
— É? E como você sabe? — a desafio.
— Seu nome é Charles. — Segura seu olhar com o meu, engulo em seco.
— Como você sabe?
— Te vi entrar na empresa. — aponta para a porta atrás de mim. — Não foi difícil descobrir o seu cargo pelas roupas. Abri o site da empresa e lá estava você como CEO de capa. — dá de ombros. Fico abismado.
— Você é uma stalker. — jogo na sua cara.
— Não, só me certificando com quem eu converso. — ela se levanta, pega sua bolsa e sai com o livro embaixo do braço. Fico no mesmo lugar abismado, como eu fui idiota esse tempo todo. Eu com medo de procurar sobre ela, e ela já sabe sobre toda a minha vida.
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Hope - Os Brassard (DEGUSTAÇÃO)
Roman d'amourMaya quer tentar a sorte em outro país, a brasileira vai para São Francisco na Califórnia fazer testes para a tão sonhada faculdade de moda. O que ela não espera é encontrar um homem bonito, sedutor e necessitado de carinho. Charles Brassard é o mai...