Soco pela última vez o saco de areia. Duas horas descontando as frustrações são uma ótima maneira de começar o dia. Visto meu terno depois de um banho gelado.
— Já vai? — Trend, se pendura na rede do octógono.
— Sim, tenho que trabalhar.
— Boa sorte. — Grita quando saio em direção à rua.
Fundei minha academia há exatamente dois anos. Trend me acompanha desde essa época. Meu sócio, mas também considerado um amigo. Sua vida é resumida em lutar, enquanto a minha tem sido assinar muitos papéis e fazer reuniões.
Sigo de carro até a Brass Technology, empresa da minha família.
— Pode guardar na garagem. — Desço do carro e jogo as chaves para um dos seguranças.
Atravesso a rua e entro na cafeteria da esquina. Não consigo começar a trabalhar sem uma boa dose de cafeína no sangue.
— Um café expresso com leite e um croissant, por favor. — Hoje é uma atendente diferente, essa é velha. A de ontem deve ter sido mandada embora.
Sei que mulheres gostam de ver um homem musculoso e bonito de terno. Cansei de levar cantadas de muitos tipos, não é muito difícil de acontecer. Desde a quietinha nerd para mulheres poderosas e donas de empresas. Eu sei que sou bonito e posso atrair até homem se quiser.
Me sento no fundo e pego meu celular para ler algumas mensagens.
Vejo a imagem que minha cunhada me enviou sobre a viagem de família. Vicent, meu irmão, está todo bobo com a notícia de que vai ser pai novamente. Grace feliz por ganhar uma irmãzinha e Eve virou uma mulher, ela amadureceu em tão pouco tempo.
Depois que os dois se casaram eu ganhei uma irmã e estou feliz por isso. Vicent está casado, formando uma família e realizado na vida. E eu estou aqui não vendo sentido nenhum para a vida. Muitas vezes me pergunto qual o meu propósito? Se Deus realmente existe eu não estou aqui atoa. Então, para que ele me quer?
Tomo um gole do meu café e abro a mensagem de Justine que pergunta porque estou sumido. Mando uma figurinha de um cara trabalhando e saio da conversa. É uma das pessoas mais grudentas que conheço, não gosto. Ficamos algumas vezes, mas não é nada sério.
Bloqueio meu celular e olho em volta procurando por ela, mas nenhum sinal. Mordo meu croissant devagar me enrolando para voltar para aquela empresa. Todos os dias são assim, chatos e monótonos, não consigo nem dar mais aulas.
Tomo um gole do meu café e volto a pegar meu celular para responder alguns e-mails. Antes que eu entre no aplicativo ergo meu olhar e a encontro pegando seu pedido no balcão.
Seu cabelo no ombro ondulado dá um charme para seu rosto, ela tem um corpão sem ser vulgar. A calça jeans deixa em evidência sua bunda grande e os saltos a deixam sexy, meus pensamentos ficam mais nebulosos quando vejo que está usando um óculos de grau. A vejo se sentar no mesmo lugar de ontem, seu rosto não demonstra nenhuma expressão.
A observo colocar sua comida na mesa e tirar da bolsa um livro diferente de ontem. Como um imã, eu me levanto, pego minha comida e sigo até ela. Não sei porque estou fazendo isso, pareço um serial killer atrás da sua vítima.
Sem falar nada, puxo a cadeira e me sento na sua frente. A vejo me encarar de canto e sua boca franzir. Deixo meu copo e meu prato na mesa.
— Bom dia. — Sorrio.
— Bom. — Ela resmunga sem me olhar.
— Outro livro? — Pergunto para não deixar o silêncio me corroer. — Ele está em outra língua? — Pergunto porque não consigo entender o nome da capa, não está em inglês. Ela suspira.
— Está em português. — Ela pega sua bebida e toma um gole.
— Então você é da argentina? — A vejo torcer a boca e me olha zangada.
— Vocês não têm aulas de geografia e história por aqui? — Seu tom ácido me pega desprevenido.
— Temos. — Retruco e começo a ficar nervoso com sua ignorância, poxa eu só quero conversar.
— Então você deveria saber que na Argentina se fala espanhol. — Resmunga e morde o seu waffle.
— Você é da onde então? — Pergunto curioso. Devo confessar que lugares e línguas não são meu forte. Na escola meu foco era matemática e aulas de educação física.
— Brasil. — Me encara pela segunda vez no dia, seus olhos castanhos me hipnotizam. Sustentamos o olhar até eu quebrar o gelo.
— Então você gosta do carnaval. — Brinco, já escutei algumas coisas sobre essa festa. Alguns amigos meus foram para curtir o carnaval e voltaram todos apaixonados pelas brasileiras, se forem como ela, está explicado.
— Não tenho muito tempo para isso. — Dá de ombros. — No Brasil não é só festas. — Resmunga a última parte.
— Você não gosta de conversar com os outros, né? — Falo incomodado com o jeito dela.
— Agora que percebeu? — Ela é sarcástica, dobra a cabeça para o ombro e sorri.
— Um dia quando você aprender a tratar os outros melhores me chama. — Retiro meu cartão da empresa do bolso e coloco em cima da mesa. — Passar bem.
Deixo o resto da minha comida ali mesmo e levanto sem a olhar. Minha pele queima, eu sei que ela está me encarando. Quem sabe que com isso ela não me mande mensagem.
Vou para a empresa sem mais nenhuma palavra, meu dia azedou. Podemos acordar com o melhor humor, mas quando encontramos uma pessoa azeda com a vida, ela tem a capacidade de estragar a nossa. Por isso aquela mulher é sozinha e amargurada, em dois dias não a vi erguer os lábios nenhuma vez.
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Hope - Os Brassard (DEGUSTAÇÃO)
RomansaMaya quer tentar a sorte em outro país, a brasileira vai para São Francisco na Califórnia fazer testes para a tão sonhada faculdade de moda. O que ela não espera é encontrar um homem bonito, sedutor e necessitado de carinho. Charles Brassard é o mai...