00 | prólogo

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Através de um pecado inconfundível, de uma paixão incontrolável, ela rende-se ao pior lado daquele que um dia a amou. Suas palavras maldosas digerem-na por inteira, destroem tudo o que acredita, revelam sua face, transformam-no em quem realmente é.

Entre as árvores, rasteja, como uma mariposa atrás das chamas, confusa, perdendo o controle. Corre, corre, corre. Corre de um monstro e de seu rosto angelical. Para, em algum momento. Reconhece que não deve, entende que não acabará bem. Mas, por qualquer força maior, não liga. Não mais.

As lágrimas despencam, os pulmões pesam. Suas lembranças voltam ao precioso dia. Quando se declararam, quando juraram permanência. Eles sempre foram tudo o que tiveram de verdadeiro. As estrelas e todos os astros são testemunhas. Nem o Destino saberia impedi-los.

Ela nunca poderia mudá-lo, mesmo se fosse capaz. Enfrentaria o Inferno por ele, porque a existência humana é assim, algumas coisas ocorrem sem propósito, algumas são predestinadas e outras, como ambos, são maldições eternas.

— Espere por mim — sussurra, fraca, a última súplica abandonando os lábios esbranquiçados, as íris fechando-se para o descanso eterno. A terra acolhendo-a.

Parte em paz, sabendo que o ama sobretudo e todos. Desde que seus olhos se encontraram pela primeira vez. Desde que jamais poderia recordar-se do instante com exatidão, porém, como algo obscuro, lindo e inacreditável, lembra-se. E, em suas memórias mais intensas, não há nada além do voto murmurado.

— _____! — Uma voz ecoa entre os troncos da perversa floresta, afastando-os para sempre.

De qualquer maneira, ela não está mais essencialmente lá. O corpo da garota aguarda, agora, o verde das folhas misturar-se ao líquido vermelho derramado. Espera sua chegada. Mata sua dor. Entrega-se ao profano. Sangra até morrer.

CARNIVORE | bobby (ikon)Onde histórias criam vida. Descubra agora