Prólogo

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Era torturante, a angustia que se expandia de seu peito parecia lhe abraçar, apertanto os ossos com uma força inimaginável. Nem um suspiro era capaz de aliviar o sentimento que corroia sua estrutura física em busca de um fim. Seu fôlego a pouco havia fugido, deixando-o apenas com o ar controlado que paulatinamente percorria seus lábios entreabertos, uma textura semelhança ao de quanto a boca sedenta torna-se seca. Ele queria gritar, queria que aquilo que lhe pesava o peito de alguma forma fosse embora, deixando apenas o que embaixo de sua alma parecia ser uma mínima, uma talvez vontade de viver.

O garoto bateu os pés com força, sentinto os ossos do pé estralaram em resposta a densidade do choque entre as estruturas. A coluna torta, sem pudores, deslizava pela aspera parede branca, era duro, gélido como sua mão naquele momento. Ele se sentia perdido e dessa forma nem mesmo sentia a dor física dos machucados e hematomas arroxeados que se espalham pelo corpo. Os ossos doíam como um lembrete de seus pecados. Afinal estava a horas naquela posição desconcertante. Sentia-se uma droga em seu sentido mais literal, isso pois no fundo faltaria-lhe coragem de assumir a inutilidades da própria existência. Ele se odiava, e era capaz de considerar o ar que fluía de seus pulmões o seu pior inimigo, abominava o fato de estar respirando, observando e por consequência existindo. Qual era o sentido de existir?

Em um gesto bruto o garoto lançou o corpo sobre a rigidez do mármore branco, o baque fez com que uma dor aguda se espalha-se por sua constituição física com devida agilidade. Os fios longos que pendiam de sua cabeça, agora ocupavam uma posição na superfície lisa, como plumas leves fixas a algo maciço, uma metáfora para o sofrimento puro e intocado que o fazia gritar. Tudo o conduzia a lembrança da noite anterior. Ele sabia, tinha total certeza de que havia perdido a sanidade naquela festa no final de agosto.

Ao fechar os olhos, era como se aqueles momentos vívidos estivessem ali, repetindo em uma sequência infinita sem um sinal prévio de acabar. Uma angústia lhe subiu à cabeça dificultando ainda mais o controlar do choro precoce. Uma lágrima solitária escorria em ritmo lento espalhando-se pela bochecha leitosa do adolescente. Viver era impossível quando gotículas de sangue estampavam sua mão, escorrendo lentamente sob o tecido áspero da calça jeans. A alma estava manchada e acima de tudo ele se culpava tremendamente pelo ocorrido.
Oras havia matado alguém? Ao menos achava que sim.

Não teve coragem de olhar para o lado e assim, trancou as pálpebras como se pudesse de alguma forma evitar a situação. Emitiu um som de escárnio do fundo de sua garganta antes de levar a mão fria e ensanguentada a face. A substância escorreu pelo rosto melando-se com os fios brilhantes de seu cabelo. Estava sujo literalmente e figuradamente. Ele parecia insano.
O braço tremeu, êxitou antes de abandonar a nuca. O garoto cogitou gritar até sentir os pulmões doendo, mas concluiu que não poderia. Não quando havia nitidamente cometido um crime.

Um corpo sem vida estava estirado ao seu lado, com os vitreos olhos abertos, atordoados. E ele sem sombra de dúvidas havia sido o culpado. Pensou nos filosofos pré-socráticos e tantos outros, em um busca silenciosa por respostas. Entretanto, qualquer um com o mínimo de dissenimento compreenderia a situação, não era muito difícil apontar um culpado.

Mystic Falls (REESCRITA)Onde histórias criam vida. Descubra agora