6 -Tempo

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Sobre a briga...

Saiu pela janela ainda nervoso. Sentiu seu sangue ferver em resposta àquela discussão, imaginando porque deixava com que Bulma agisse daquela forma com ele. Era autoritária, mandona e tão orgulhosa quanto ele, mas isso era facilmente contornado pelo carinho que ela oferecia a quem estimava, diga-se quanto ao trato com a família de Goku, seus amigos, com ele mesmo. Que terráquea teria tal paciência com ele? Ou, qual teria coragem de enfrentá-lo e desafiá-lo como Bulma o fazia? Certamente ninguém mais.

Sentiu estar destinado a isso. Primeiro Goku. Agora, Bulma.

Não sabia explicar muito bem o motivo, mas desde aquele dia em que ela o convidou a morar com ele e os nameks na Corporação Cápsula, aquilo havia mexido com ele. Ela sabia do histórico dele. Sabia que ele era um desconhecido, que queria matar Goku, que era um saiyajin de mente e caráter duvidosos. Talvez ele a tivesse enganado com a história de ressuscitar Goku. Ela o olhou de um jeito peculiar, analítico, curioso. Até o elogiou pela ideia de querer ressuscitar Goku, o deixando sem graça. Não conhecia os motivos de Vegeta, mas já o admirou a partir dalí. Teve a ousadia de chamá-lo de "rapazinho". Teve a ousadia de convidá-lo a hospede.

Vegeta lembrava-se bem da condição que lhe dera no convite:

"- Mas eu não vou permitir que se apaixone por mim, mesmo que me ache muito atraente" – sorria ela imperiosa, as mãos na cintura, dona da ocasião.

Vegeta só pôde pensar o quanto Bulma era metida, num jeito próprio dela. Como ela ousava dizer que o saiyajin poderia se apaixonar por ela? Só por ela ser divertida? Ser inteligente? Ser corajosa? Ser bonita? Definitivamente Vegeta achava que nunca compartilharia dessa ideia absurda.

Os poucos 130 dias foram mais do que suficientes para ele notá-la. Enquanto a casa lotada de namekuseis parecia deixar tudo uma bagunça, oportunidade não faltou para que os dois estivessem tempos demais juntos. Vegeta cismava em treinar de alguma forma e ía para as montanhas, mas isso não era frequente. Treinava no jardim da mansão e sempre atacava um dos robôs empregados, sobrando para Bulma o dever de consertá-los.

— Se continuar quebrando os robôs do meu pai vai ter que arranjar outro lugar para ficar! Não consegue ser tranquilo como os namekuseis?— Ela resmungava ao guerreiro, que cruzava os braços e lhe dava as costas.

— Insolente! Fale direito comigo! Se esqueceu de quem eu sou?

— Como é que é?— Ela se irritava, mas o guerreiro nunca a ouvia até o final, deixando-a falar sozinha.

Os mesmos 130 dias foram suficientes para que ela notasse que aquele saiyajin orgulhoso tinha motivos para agir como agia, para ser quem era. Imaginava que a vida dele não devia ter sido fácil. Se ele era mesmo um príncipe, com certeza lhe era exigido muito. Isso era parte dele, de como foi educado.

Aquela uma semana fora de casa serviu de reflexão para o saiyajin. Passou o primeiro dia pensando, para além das montanhas Paozu, em um canto que julgou ser adequado ao momento que precisava. No silêncio da floresta, pôde contemplar o que tanto agradava aos terráqueos: O som da água da cachoeira que cantava, como num coro, a descida das águas de encontro a um novo rio; O soprar dos ventos que derrubavam as folhas já velhas dos galhos das árvores, dando lugar às novas; O som do trovão, anunciando a chuva que lavaria as ruas, aguaria as matas, seria alimento para sementes.

Assimilou tudo aquilo à sua própria vida. Era a hora de ser um novo alguém?

Os olhos contemplavam os céus. O corpo sentia o frescor da grama verde, acomodando o físico fortemente esculpido pelos treinos e lutas. A claridade da lua apenas lhe permitia tão somente contemplá-la junto ao céu estrelado. Pensou que, talvez, uma daquelas estrelas com certeza seria o planeta dele, o povo dele.

Que seja um novo diaOnde histórias criam vida. Descubra agora