7 - Desejo

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"Eu só queria voltar a ser o que era antes. Pouco a pouco fui fazendo parte de vocês e fui tendo uma vida comum e aborrecida. Como foi possível que um guerreiro frio como eu formasse uma família? Eu achei que não tinha nada demais. Meu coração foi ficando mais calmo e até a Terra me pareceu um belo lugar para se viver. Por isso, tive que pedir a Babidi que fizesse voltar a maldade em meu coração"

– Vegeta, durante a batalha com Goku - Saga Majin Boo

***

Com certeza olhar Vegeta dormindo era algo raro para Bulma. Como muitas outras vezes, havia ficado até tarde no laboratório para terminar um dos seus muitos projetos. Passava das três da manhã e ela sentia-se cansada, mas com o dever cumprido.

Tomou um demorado banho quente para relaxar, enquanto puxava na memória as muitas lembranças de sua vida. Vegeta era o que mais a intrigava. Olhou-o pela fresta do Box do banheiro, que ficava de frente para a enorme cama de casal. A imagem do homem em sua cama, dormindo serenamente, mas com o semblante endurecido que sempre o caracterizava, parecia uma cena de filme pausada. Estava com parte do corpo coberto pelo pesado edredom de algodão. Os braços fortes estavam a mostra, assim como parte do sarado abdômen. Não emitia qualquer barulho, dando uma leve sensação de que poderia acordar a qualquer momento. Bulma sempre achava que isso era resultado dos treinamentos. Estar sempre alerta devia ser umas das premissas de quem era fadado a ser guerreiro pelo resto da vida.

Imaginou como seria se Vegeta fosse um terráqueo comum, se trabalhasse, se resolvesse tomar a Corporação Cápsula para presidência. Fez uma careta. Imaginou imediatamente centenas de pessoas sendo chamadas de vermes e sendo lançadas janela abaixo pelo guerreiro. Definitivamente Vegeta não nascera para outra coisa senão lutar. Fora destinado a ser um orgulhoso príncipe saiyajin.

Saiu de debaixo do chuveiro, ainda envolvida na neblina formada da água quente da ducha, e sentou-se diante da penteadeira. Passou a mão de leve sobre o espelho para retirar o embaço e penteou levemente os cabelos, reparando seu próprio rosto. O tempo estava passando para ela, de fato. Não que isso alterasse sua beleza, mas o tempo infelizmente lhe deixava marcas. Determinou que mudaria novamente o corte de cabelo e faria uma consulta em alguma clínica estética no dia seguinte. Olhou novamente para Vegeta. Lembrou que o guerreiro demorava a envelhecer. Sua raça lhe dava o prazer de demorar a envelhecer, como Vegeta mesmo ressaltava, para que a vida útil proporcionasse mais tempo de batalhas. Os cabelos não cresciam, não mudavam, não apresentava fios brancos. A pele era tão lisa e conservada, mesmo com o sofrer dos golpes das batalhas, o que provocava inveja a qualquer humano comum. Não se preocupar com o tempo era uma dádiva para os saiyajins. Suspirou. Olhou-se mais uma vez. Achou-se bonita. Era Bulma Briefs, cientista, inteligente, mãe de um belo filho e, agora, esposa de um príncipe saiyajin.

Levantou-se com determinação seguindo para o closet e encarando-se pelo espelho enorme que tinha só para ela. Deu uma volta e olhou-se de cima a baixo. Arrumou o cabelo imaginando o novo corte que faria pela manhã e sorriu.

Vestiu uma camisola branca, com detalhes rendados em todo o comprimento, borrifou uma pequena quantidade de perfume no pescoço e foi até a cama. Deitou-se devagar, virada para Vegeta, que por sua vez estava de costas para ela. Puxou um pouco do edredom e cobriu-se por inteiro, fitando as costas do marido. Obviamente Vegeta não dormia. Estava acordado, esperando por ela. Ele mesmo não sabia explicar, mas enquanto ela não se deitasse ao seu lado, não tinha sono. Era recorrente desde que passou, sem nem mesmo perceber, a dormir ao lado dela. Nunca se manifestava quando ela se deitava. Podia apenas ter a certeza de que ela estava ali, e isso bastava e o confortava.

Ela mantinha a esperança de que aquele momento se perpetuasse e que nada afligisse aquela relação que, com o tempo, fortificava-se. Ele era o mesmo turrão e orgulhoso, mas cada vez mais demonstrava, ao menos com Bulma e Trunks, que algo ali importava, e que, até então parecia ser o que ele passava a entender por família.

Que seja um novo diaOnde histórias criam vida. Descubra agora