Capítulo 2

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Merda o que ele está fazendo aqui?
Era pra não ter ninguém na escola.


-O-o-que v-vo-cê est-tá fazen-do aq-qui?


-Onde você aprendeu a dançar tão bem?- ele perguntou maravilhado.


-Você não respondeu minha pergunta.- Uou, eu não gaguejei, que milagre.


-Eu já estava aqui na hora que você chegou.- ele respondeu. Puta merda, como eu não vi ele?-Agora responda a minha.


-Faço aula de dança e de ballet desde meus 6 anos.- dei de ombros.


-Uou.- ele disse boquiaberto.- Mas, eu não vi você dançando na educação física. Você estava sentada desenhando, não estava?


-Sim estava. Pera, desde quando você faz educação física comigo?- perguntei confusa.


-Bem, desde quando eu entrei na escola, ou seja, hoje.- ele disse.


-Ah por isso eu nunca tinha te visto antes. E também é por isso que você está conversando comigo.


-E por que eu não conversaria com você?- ele perguntou com uma sobrancelha erguida.


-Por que? Não ouviu os boatos ainda?- perguntei e ele balançou a cabeça.- Porque eu sou a estranha, a psicopata, a solitária, a pequena suicida. Ou seja, todo mundo mantem o máximo de distancia possível de mim.


-Como minha mãe sempre diz, eu não sou todo mundo.


-Ahn, então tá né.- eu disse dando de ombros e indo desligar o som.


-Ei, não, continue a dançar.- ele disse.


-Não. Eu tenho verg... Que ir trabalhar. Já devo estar atrasada.


-Aham sei. Beleza, eu te acompanho até seu trabalho.


-Não. Não precisa.


-Mas eu insisto.- ele disse e eu suspirei.


-Okay, só vou trocar de roupa e já volto.


Fui até o vestiário e coloquei a roupa que estava usando antes de começar a dançar.
Guardei as roupas de educação física no armário e fui de encontro ao... pera, ele quer me acompanhar mas eu nem sei o nome dele.
Ele pode ser um estuprador ou sei lá.
Cara, eu tenho que parar de ser tão ingênua e parar de acreditar na primeira pessoa que vier falando que gosta de mim.
Parei em frente ao ser de olhos verdes.


-Vamos?- ele perguntou.


-Ahn, não. Eu não vou com você.- eu disse.


-E tenho o direito de saber por que?- ele perguntou levantando uma sobrancelha.


-Porque eu não te conheço. Nem seu nome eu sei. Então tchau, seja lá quem você for.- eu disse e continuei a andar em direção a saída.


-Meu nome é Harry. E a proposito, eu não sou um estuprador caso queira saber.- ele gritou quando eu já estava quase saindo.


-Prazer Harry, mas acho que nenhum estuprador diria que é um.- eu disse e pude ver ele dando uma risadinha.


Sai correndo em direção a livraria em que eu trabalho.


-Desculpe, não vai acontecer de novo.- eu disse a dona da livraria no momento em que abri a porta.


-Já perdi as contas de quantas vezes você já me disse isso.- Amelia disse tentando parecer brava, mas um pequeno sorriso insistia em querer brincar em seus lábios.


-Eu sei. Mas é que eu estava...


-Dançando.- ela completou.- Sem problemas querida. Não vou brigar com você por fazer o que ama. Fico orgulhosa.


-Obrigada Sra. Amelia.- eu disse sorrindo.


-Retire o senhora querida.


-Okay, desculpe.


Fui para a sala em que os funcionários ficam e coloquei a camiseta do uniforme da loja.
Ouvi o sininho da loja soar e um garoto que tem mais ou menos a minha idade entrou.


-Vou lá atender.- eu disse para Amelia e ela assentiu.- Posso ajudar em alguma coisa?- perguntei ao garoto.


-Que tal me dar o número do seu telefone?- ele disse e eu fiquei encarando ele com uma sobrancelha erguida.- É brincadeira, calma. Eu terminei de ler a coleção Percy Jackson e os Olimpianos a alguns dias, e eu realmente adorei os livros, queria saber se você tinha alguma coisa parecida ou sei lá.

-Se você leu Percy Jackson e os Olimpianos vai gostar também de Os Heróis do Olimpo, que é outra coleção de Rick Riordan, parecida com Percy Jackson, só que com novos personagens, mas o Percy também não deixa de aparecer.- eu disse.

-Perfeito! Você pode pegar o primeiro livro da coleção para mim por favor?


-Espera só um minutinho.


Fui até a estante em que estava o livro O Herói Perdido e peguei-o.


-Aqui está.- eu disse entregando o livro ao garoto.


-Muito obrigada, aonde eu pago?


-Ali!- eu disse apontando para o caixa onde Amelia estava.


O menino agradeceu de novo e eu fui até uma mesa.
Peguei um bloquinho de papel e e um lápis e comecei a rabiscar qualquer coisa.
Só que essa coisa alguns minutos depois tomou forma.
Eu havia desenhado os lindos olhos verdes do garoto, que agora eu sabia se chamar Harry.
Fiquei pensando nele, e raciocinando melhor.
Percebi que ele não havia feito pergunta alguma sobre o fato de eu ser uma "pequena suicida".
E isso me surpreendeu.
Todos sempre fazem perguntas sobre isso.
Perguntas idiotas e indiscretas.
E que na maioria das vezes eram feitas só para me machucar.
Nem percebi a hora em que meu turno acabou.
Fui andando calmamente até minha casa, quer
dizer, a casa dos meus tios.


-Ah, finalmente a inútil chegou.- minha tia disse.- Onde você estava? Se prostituindo?


-Não sou desse tipo tia.- eu disse.


-Mas parece. Igual a sua mãe, que conheceu o seu pai provavelmente em um de seus pontos. Depois engravidou de você. Morreu no parto por ser fraca de mais. E seu pai. Morrendo dois anos depois por depressão. Ambos devem estar apodrecendo no fogo do inferno. Você também é fraca. Não aguenta ouvir algumas verdades e já sai se automutilando. Você é doente. Psicopata.- as lágrimas já caiam pelo meu rosto. Eu não suportava que falacem dos meus pais.


-CALE A BOCA! ELES NÃO ERAM ASSIM.- Gritei e em troca ganhei uma ardência constante na bochecha esquerda. Ela havia me batido.


-Cale a boca você, sua vadiazinha. Você mora na minha casa. Come da minha comida. Então me respeite.- não esperei para ouvir nenhuma palavra dela e corri para meu quarto.


Tranquei a porta, e comecei a revirar as gavetas a procura da minha válvula de escape.
Me sentei em um dos cantos do quarto e com o coração acelerado comecei a sessão de cortes.
É incrível como algumas palavras podem estragar seu dia.
Mas minha tia tem razão.
Eu não aguento a verdade.
Sou doente.
Uma psicopata.
E escapo dos meus problemas por meio das lâminas.
Mas isso me acalmava.
Mesmo que fosse temporariamente.
As lâminas me traziam uma sensação de alivio e sossego por apenas alguns minutos.
Mas isso é melhor que nada.

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