Dissabor no escritório

55 12 17
                                    

eu sei minha gente, meu maior defeito é a demora pra posta, me perdoem... mas qui está mais um capitulo dessa história :) espero que gostem

Abel ter se exaltado no meio da noite e despertado toda a mansão, junto a um destacamento de guardas, não estava em seus planos de ser discreto ao conhecer seu futuro marido. Mas também não havia arrependimentos por nenhum dos objetos lançados em direção daquele rosto maculado, mesmo que sua postura refinada de Lorde tenha sido completamente arruinada perante seus servos, que com certeza comentaria com fervor pelos corredores na manhã seguinte. Quiçá já começaram os burburinhos naquela madrugada mesmo.

Mas agora tinha problemas maiores, que diziam respeito a seu futuro, para resolver.

Sob a luz cálida da lareira, o calor e os estalos do fogo crepitante, o escritório do duque se enchia de tensão. Aquele lugar cheio de luxos e arte refinada, que outrora lhe trouxe conforto aos ossos quando precisava sentir o carinho de seu pai, agora lhe parecia sufocante como uma carruagem que estivera parada sob o sol durante uma tarde de verão rigoroso. Aquela corja Courverturiana, cada um à sua maneira, tinha a habilidade de deixa-lo profundamente incomodado.

O Rei Petros se acomodou na poltrona ao seu lado, ostentando um sorriso relaxada em seu rosto feio, mas o príncipe que o acompanhava, por alguma razão desconhecida, preferiu por não se sentar, ainda que exibisse um mancar impiedoso a cada passo que dava, apoiando-se em cajado esculpido com encalhes tão precisos que quase, quase, distraíram-no da questão principal. Ele ainda queria explodir em uma fúria mal contida por estar rodeado de enganadores descarados, se não bastasse ser comprometido a um embuste de rosto hediondo, ele tinha um irmão aleijado com cabelos bagunçados além do conserto e dois outros irmãos que nem se dignaram a comparecer. 

Porém, em meio àquele desconforto, a expressão severa do seu pai quando adentrou o recinto fez com que Abel se sentisse melhor, pois ele era o único que haveria de compreende-lo e fazer cessar toda aquela loucura, afinal de contas, não podia ser possível que o duque aprovasse tamanha baixaria em sua família perfeita.

A boa imagem era o princípio basilar sobre o qual fora criado. Seu pai, em sua postura austera lhe ensinou desde pequenino como ser firme a respeito disso, como buscar perfeição nas mais simples ações para não envergonhar sua família. Não teria como ser diferente nessa situação.

No entanto, nada preparou o pequeno Lorde para as palavras que vieram a seguir:

- Espero sinceramente que esse pequeno incidente não tenha afetado a nossa aliança. – Pronunciou o duque com um tom de voz comedido ao tempo que servia uma taça de um raro licor de amoras das Tundras de Beignet ao rei, que aceitou com um aceno de cabeça tão leve, que somente alguém com olhos treinados para tais gestos perceberia, alguém com os olhos como os olhos indignados de Abel. – Se possível, amanhã, como o previsto, vocês assinarão os papeis de casamento e então daremos início aos preparativos e ensaios para a cerimônia oficial de casamento daqui há duas semana. Tudo de acordo com os planos, se vossa Majestade concordar, é claro.

- Se eu concordo, não há dúvidas. Mas, e quanto a seu filho, Sua Graça? – Questionou o Rei, cruzando a perna e ajeitando a postura graciosamente com a taça entre os dedos, de uma forma tão natural que quase parecia estar sentado ao trono diante de seus súditos. Em nenhum momento o fato de o Duque estar de pé tornou a presença de Petros menos dominante ou intimidadora, ainda mais com aquele cão de guarda que ele chama de irmão ao seu lado. – A menos que atirar almofadas e objetos furiosamente contra os convidados seja algo cultural de sua terra, ele não parece muito interessado em prosseguir com a união.

- É apenas nervosismo, todo noivo fica um pouco apreensivo antes do casamento, olhe só para ele – Abel, visivelmente perturbado, parecia a ponto de desvanecer. Seu próprio pai estava negociando sua condenação perpetua com aquela Besta imprestável. Inadmissível. Mas as palavras esvaíram de sua boca com o choque dessa traição, e tudo o que podia fazer era observar, mudo, enquanto seu destino era decidido.

- Talvez ele não esteja seguro de se casar com alguém que acabou de conhecer. Mesmo que tenhamos tratado desse negócio desde o nascimento dele, ainda é uma mudança profunda. – o rei lhe lançou um olhar comiserado, uma expressão odiosa de pena antes de continuar – É normal se sentir inseguro. Talvez possamos adiar o casamento para que ele possa se acostumar com a ideia.

- Adiar? Impossível! Os convites já foram enviados para dignitários do mundo todo que estarão chegando nos próximos dias, não há como adiar a cerimonia. – O Duque levou a mão ao coração perdendo sua inabalável compostura por alguns segundos, antes de responder apropriadamente – Vossa majestade, tem que perceber que essa proposta é incabível.

- Se não há como postergar a cerimonia, pelo menos a assinatura dos papeis, que é um ato mais particular, pode ser atrasada por um tempo. – Respondeu a voz sedosa do príncipe em pé atrás do Rei, de cabeça erguida se apoiando mais firmemente me sua bengala. – Creio eu que esses papeis podem ser assinados até mesmo nas vésperas da cerimônia. Duas semanas deve ser tempo suficiente para eles se acostumarem com a ideia de estarem casados.

- Oh! Excelente concelho Príncipe Jason! Não será como o planejado, mas será próximo o suficiente. – o Duque disse em êxtase, esfregando as mãos, uma na outra – Mandarei que os servos transfiram os pertences do Rei para o quarto do meu filho imediatamente!

- Perdão? – Petros questionou boquiaberto com a reviravolta.

- Se vão se conhecer em 2 semanas, é melhor que passem o maior tempo possível juntos.

- Papai! O Senhor não pode estar falando sério! – Abel protestou finalmente se levantando da cadeira em um ímpeto de coragem – Vai mesmo colocar seu filho, eu, um moço de pureza inabalável, a mercê de um homem desconhecido? Imagina o que as pessoas irão comentar!

- Seria mais um motivo para você se casarem logo – respondeu o pai entredentes – depois conversamos, Abel.

E assim, ficou decidido. O gracioso Abel seria condenado a dividir seu santuário com o Monstro de Courverture, dormindo, convivendo e acordando com ele. Mas isso não significava que o pequeno Lorde se renderia tão facilmente.     

Então? ficou bom?

Beignet et CourvertureOnde histórias criam vida. Descubra agora