Obrigada a todos os poucos leitores que restaram depois de 2 anos (Ou mais) sem postar nada, eu estava numa fase meio deprimida e cheia de coisas da vida pra resolver... peço desculpas a todos pela demora, mas aqui estou... beijinhos e boa leitura!
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Após a fatídica reunião mergulhada em surpresas com pitadas de constrangimento, o governante de Courverture esperava pacientemente seu prometido no novo quarto designado e refletia com despeito de toda a desconfortável situação que se desdobrava.
Desde o longo caminho da Baía de Couverture para Beignet já estranhava como os eventos relacionados à união com sua alma gêmea corriam tudo conforme os planos, visto que não era segredo os deuses usarem os mortais como meio de entretenimento e toda bênção concedida se tornar uma maldição por causa dos percalços. Durante toda a história do reino cada monarca e seus descendentes foram provados pela escolha dos companheiros por Afrodite que, convenhamos, tem uma grande personalidade, deixando seus devotos com os nervos à flor da pele pelo enredo preparado por ela para satisfazer o tédio.
Logicamente, ninguém apregoava aos quatro-ventos que o presente da Deusa do Amor era um infortúnio, uma vez que ter essa deidade irritada transformava a “bênção” numa desgraça ainda maior. Então desde a mais tenra idade os membros da família real Courverturiana eram treinados para manter a calma em toda situação que viesse a ocorrer, porque sempre haveria um final feliz garantido com o seu predestinado, não importam as tragédias pelo caminho.
A única exceção a essa regra era seu irmão Carlos Perhart, que numa visão testemunhou a alma gêmea morrer em seus braços sem que nada pudesse impedir. Então, desde o dia do vislumbre de tal profecia, tomado pela loucura, fechou uma ala inteira no palácio e se enclausurou nela.
Mas o caso de Petros era diferente. Ele queria rir na cara do destino e ter um acerto de contas com uma certa deusa. A Grande Afrodite, no momento de maior aflição, apareceu a Petros em sonho oferecendo a salvação do Povo Courverturiano e das Criaturas Refugiadas, porém o preço era o sacrifício de uma das bênçãos concedidas por ela no dia do nascimento.
Ponderando entre o amor e a beleza, ele escolheu sacrificar a última bênção esperando ganhar tempo para irmãos evacuarem o reino em segurança. Desta forma ele foi capturado pelos bárbaros que o torturaram pela informação de onde as preciosas criaturas místicas estavam escondidas. Foram duas semanas em cativeiro até que os irmãos conseguissem lhe resgatar com reforços, mas seu rosto e corpo já haviam sido devastados nesse período. Além disso, o segundo príncipe Jason perdeu uma perna na batalha, na mesma época o terceiro príncipe Carlos enlouqueceu com a visão e o mais novo dos quatro, Peter, estava perdido.
É claro que a deusa escondeu algum joguete em sua oferta para tornar a história mais interessante. Quem diria que o seu predestinado era tão superficial? Foi um sacrifício duplo para Afrodite: a sua beleza e o amor de Abel. Entretanto, Petros ainda faria a mesma escolha se voltasse no tempo, pois seu povo se manteve seguro durante a invasão por causa dela.
Resignado, ele deitou a cabeça no travesseiro macio da cama do companheiro. O cheiro doce de lírios estava impregnado na fronha dando uma falsa sensação de plenitude. No teto havia pinturas e pequenas esculturas de anjinhos brincando em nuvens fofinhas, imagens que seriam acolhedoras se não fosse pela luz bruxuleante das velas que deixava as feições dos pequenos cupidos distorcidas e zombadoras.
“Muito apropriado” pensou o Rei, se sentando novamente para retirar as botas pesadas, quando escutou a maçaneta girar e a porta abrir vagarosamente.
- Oh, vejo que Vossa Majestade já se apossou dos meus aposentos. - murmurou Abel com desdém entrando no quarto de braços cruzados olhando para os baús e bagagens espalhados pelo caminho - Pensei que como um “Rei” Vossa Grandeza tivesse mais autoridade que determinasse ficar em outro cômodo.
- Como um Rei, eu tenho a tendência de respeitar as requisições dos meus anfitriões, além do mais esses aposentos são aconchegantes o suficiente para meus padrões - respondeu de maneira provocativa, se deitando mais uma vez na cama imponente e cruzando os pés numa pose relaxada - Apesar da decoração de mau gosto.
- Se a decoração lhe fere os olhos, deveria ser mais um motivo para se afastar dela. Tenho a filosofia de que coisas desagradáveis devem ser mantidas fora de vista - articulou o pequeno Lorde, se sentando num dos baús trazidos pela comitiva de Petros ao que examinava suas próprias unhas - A propósito, não escondo a insatisfação de dividir o quarto com Vossa Majestade, e por mais disforme que possas ser, creio eu que não tens uma mente obtusa, ou sinto pena de teus súditos. Então é fácil entender quando digo não desejar dividir minha cama com Vossa Repulsividade. Ali, perto da janela, há um divã que uso para leitura muito confortável para passar a noite, mas pegue um cobertor porque pode fazer um pouco de frio longe da lareira.
- Se o Pequeno Lorde assim prefere, quem sou eu pra questionar? - disse arrumando em seus braço um travesseiro da pilha e uma manta fofinha, então caminhou até o tal divã onde deixou tudo e retornou para a surpresa de Abel - Pronto Vossa Graça, podes dormir tranquilo longe de minha Repulsividade e já que achas o divã tão confortável, terei a decência de deixá-lo dormir ali. Não se preocupe, eu escolhi um cobertor bem quentinho.
- Oras seu! Como ousa? - gritou Abel batendo o pé quando Petros se aconchegou entre os travesseiros de pluma na sua cama e se enrolou confortavelmente nos lençóis, mas não havia mais o que fazer, o Soberano de Courverture era um homem com uma constituição física muito maior que a de Abel tornando removê-lo daquele casulo de seda e algodão egípio, e, deitar-se com ele estava definitivamente fora de cogitação. - Petros Alexander Perhart de Courverture, essa semana Vossa Majestade conhecerá o verdadeiro inferno.
Pobre Lorde Abel Elias Valladori do Ducado de Beignet na Balmária, não sabia que o homem rindo baixinho em plena satisfação na sua cama já havia passado pelo pior dos infernos?
Por favor, não me deixem curiosa, ficou bom?
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Beignet et Courverture
FantasyAfrodite abençoou os monarcas de Courverture com o dom de prever suas almas gêmeas, depois deles terem salvo inúmeras criaturas mágicas da extinção. Seculos se passaram e o príncipe Petros, aos seis anos, tem sua primeira visão da sua alma gêmea, f...