Prólogo

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       — Eu apenas não entendo o que aconteceu, Sr. Kim — A voz da mulher ocupa meus ouvidos enquanto me encolho, profundamente envergonhado. Sinto meu rosto ruborizar e aperto os lábios um contra o outro, engolindo em seco. Meus olhos caem em Jihoon, que está sentado na cadeira ao lado da minha, balançando os pézinhos como se não tivesse feito nada. Seu rosto está marcado por um corte no supercílio e no queixo, mas não parece incomodá-lo nem um pouco. 

Este Jihoon, se quase oito anos, não se parece nem um pouco com o de meses atrás que chorava se eu não pusesse morangos em sua lancheira e eu não sei o que esperar, como reagir. 

— Eu também não entendo, Srta. Smith... — Admito, a olhando e ela tomba a cabeça para o lado. A diretora da escola primária de Woods Hole é uma mulher muito alta; ela gosta de usar roupa social e prender os fios cacheados em um coques formais, como se fosse uma advogada ou juíza ou qualquer coisa assim; então, as vezes, ela também age como uma detentora da lei. Conversar com ela é sempre muito intimidante, então, eu prefiro quando ela não me chama ate sua sala. 

Mas dessa vez, não tinha como fugir. 

— Jihoon nunca foi assim... — Ela pontua, colocando alguns documentos sobre a mesa e eu suspiro — Ele nunca deu um trabalho sequer, mas de repente, bater numa outra criança... Ele nos disse que o pai dele disse que ele devia fazer isso.

Eu? — Aponto para meu próprio peito, deixando meu queixo cair, chocado e nego com a cabeça prontamente. Eu sei que nunca disse isso à Jihoon e é exatamente o que digo: — Eu nunca diria isso para o meu filho!

— Foi o outro papai — Ele diz quando me viro para olhá-lo e Srta. Smith me encara, sem realmente compreender o que ele disse. 

— Jihoon... Não tem outro papai. 

Tem sim! — Ele responde prontamente num gritinho estrangulado e engulo em seco. Isso também é algo que não reconheço, porque o Jihoon de meses atrás nunca me responderia, principalmente nesse tom — Você quem disse! Você disse que quem cuida e protege e ama a gente é família, então o Jungkook é papai sim!

Mordendo meu lábio inferior, eu desejo muitas coisas nesse momento. A primeira delas é que eu possa voltar no tempo e nunca dizer nada sobre família para Jihoon; deixar claro que eu sou a família dele. A segunda, é que um buraco surja do chão e me engula por completo porque não sinto que seja possível ter mais vergonha do que tenho agora. 

— Jihoon... — Suspiro, o assistindo baixar o rosto, fazendo um biquinho e pisco lentamente: — Eu vou conversar com ele quando chegarmos em casa — Digo por fim, erguendo os olhos para encarar a diretora e ela me estende um documento para que eu assine. 

Meu filho, que só tem notas altas, estrelinhas douradas, nunca faltou a aula e nunca deu problema, está suspenso por uma semana após bater num colega de classe. 

Enquanto assino o documento declarando que estou ciente do que aconteceu, ouço Jihoon chorar baixinho ao meu lado, mas sei que não é pela suspensão, por essa reunião estúpida ou qualquer coisa parecida. 

Ele está chorando porque eu disse que Jungkook não é sua família. 

Quando saímos da sala, ele se recusa a me estender sua mão e andamos distantes um do outro pelos corredores até alcançarmos o pátio frontal. 

E como se a situação não fosse horrível o suficiente, ele está lá. 

E parece que ele só tem aquela maldita calça jeans e bota, porque comumente o vejo com ela, mudando apenas qual a banda em sua camisa. 

— Jungkook! — Jihoon chama, correndo até ele e o assisto se abaixar, o cedendo o colo para chorar. Unindo minhas sobrancelhas, meus passos não são mais arrastados. 

Como Jihoon, sinto meus olhos marejarem e meu rosto esquentar, mas não estou triste.

Estou puto.

O que você disse pra ele? — E lanço minha cópia da suspensão recebida por Jihoon em sua direção: — Ele foi suspenso por que você fica dizendo porcarias pra ele! 

— Eu não disse nada... — Ele retrucou, baixo, mantendo Jihoon em seu colo, o rosto apoiado em seu ombro chorando de um lado enquanto com a mão livre segura o documento lendo-o — Eu disse pra ele se defender... 

— Você não tinha que dizer nada pra ele! Nossa vida era muito boa e muito pacífica antes de você chegar e estragar tudo! — Ele ergue as sobrancelhas, chocado — É tudo o que você sabe fazer! Você estragou tudo em Nova Iorque e resolveu vir pra cá, estragar tudo pra mim e agora que está tudo fodido, você vai voltar pra Nova Iorque, porque dá pra se reinventar lá! Mas advinha só: eu moro aqui! Não posso reinventar nada! Aqui é a droga da minha casa, Jungkook. Eu não posso e não vou ficar fugindo de tudo!

— Eu só me preocupei com ele também... 

— Eu não preciso que você se preocupe com ele! — Rebato, me aproximando apenas para trazer Jihoon para o meu colo: — Ele não é seu filho. É o meu! Boa viagem de volta pro bueiro que você saiu e espero nunca mais te ver na minha vida, seu cuzão do caralho! 

Opa! Espera um pouco... 

Eu sei que você provavelmente está curioso do porquê eu estar brigando com o projeto de Alex Turner da deep web ali em cima. 

O problema é que, bem, eu me meti numa enrascada sem tamanho junto com ele e é, a culpa não foi completamente minha... Na verdade, a maior parte da culpa foi dele! 

Eu não queria que Jungkook entrasse em minha vida e bagunçasse absolutamente tudo que eu havia deixado metodicamente organizado; ele não é exatamente do tipo educado, então não sabe pedir licença, muito menos entender que não deve mudar de lugar as coisas que estruturam uma casa. 

Mas ele mudou. 

Pra mim, ele mudou tudo de lugar e eu não tive nem forças para rebater, então apenas aceitei. 

Para contar essa história, entretanto, eu vou precisar voltar um pouco no tempo e contar com a paciência de vocês, por que vou voltar especificamente para o dia dois de abril.

O dia em que Jeon Jungkook chegou à Woods Hole. 

[👶🏻]

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