III. Uma balada para sua majestade

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Teve ainda mais dúvidas quando, sem aviso, as bordas meio pendidas de sua tenda se abriram de súbito, e a voz do comandante do exército o despertou do mais doce sonho:

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Teve ainda mais dúvidas quando, sem aviso, as bordas meio pendidas de sua tenda se abriram de súbito, e a voz do comandante do exército o despertou do mais doce sonho:

— Senhor trovador, sua majestade deseja vê-lo!

— Agora? — Perguntou, inquieto. Lampejos daquela pelagem negra ainda transpassavam por seu olhar sonolento.

O comandante deu de ombros.

— Ele não consegue dormir.

Frustrado por ser tirado da cama àquelas horas, o trovador se levantou. Estava prestes a seguir o comandante quando este ergueu a mão, interrompendo-o a meio caminho.

— Melhor levar seu alaúde.

De fato, a recomendação do comandante fora certeira, pois, no momento em que o trovador entrou na tenda pertencente ao rei, este o encarou com satisfação. Diante dele e sobre o tampo da mesa, um mapa de largas proporções se estendia. Com uma espiadela, viu que os contornos mostravam as terras do Reino, as quais ocupavam o Norte. Todavia, havia também uma porção completamente verde: as terras ermas, cujo território desconhecido o rei trataria de tomar, em um feito inédito, no raiar da manhã seguinte.

— Senhor trovador, que bom que está aqui! — Exclamou o rei. — Como pode ver, a ansiedade pelo amanhã me retém desperto. Sei que está tarde, mas desejo aproveitar o momento em que ainda possuo o senhor para que cante uma balada ou duas para mim.

Mesmo incrédulo, reverenciou-o.

— Como desejar, majestade.

O trovador alcançou as cordas de seu instrumento com uma familiaridade tal que mesmo a sonolência não foi capaz de o impedir de cantar uma bela canção. O rei estava entretido enquanto tragava de seu cachimbo, os dedos trilhando a demarcação das terras ermas com uma expressão esfomeada na face envelhecida. Na verdade, os presentes encontravam-se tão distraídos que não perceberam quando, de repente, o vento recomeçou seu uivar ruidoso.

Assim que o distinguiu, o trovador ameaçou interromper o movimento das mãos sobre o alaúde; porém, uma voz lhe sussurrou que ele não deveria fazê-lo. Então, prosseguiu.

E cantou uma balada. A balada das três raposas.


Desde os prados até as colinas,
Passando pela relva e pelos bosques,
Escondem-se criaturas altivas:
São as três irmãs-raposas.

De focinho arrebitado,
E um olhar matreiro,
Elas assim foram criadas
Para não viver em cativeiro.

Não brinque ou delas zombeteie,
Mas, mais do que isso,
Não tome o ventre da terra em que semeiam.
A terra não deve sangrar.
Oh não.

A Balada das Três RaposasOnde histórias criam vida. Descubra agora