"OI!OI! Sebastian!!" - voltei a minha realidade e encarei o garoto que estalava os dedos na frente do meu rosto.
"Sim?"
"Está perdido em pensamentos por acaso? Eu estou te chamando a horas e sem resposta." - encarei meu jovem mestre e me curvei num pedido de desculpas.
"Peço perdão, jovem mestre. Me distrai com algumas coisas." - ele bufou e me dispensou com um aceno, antes de apoiar seu rosto em uma das mãos.
"Não importa. A Rainha tem um trabalho para nós."-ele pegou alguns papéis e o olhar estava desinteressado. Uma maldita ironia que eu servia a um garoto que possui os mesmos olhos que ela e ainda com o mesmo nome. - "Iremos investigar o sumiço da família Enhyfen, ao que parece eles eram os antigos cães de guarda da Rainha."
Meus olhos se arregalaram quando ele mencionou o nome e a ação não passou despercebida pelo menor. Não era possível que queria reviver aquele assunto logo agora...
"Ao que parece, você sabe alguma coisa sobre isso." - o tom esperto e malicioso não fugiu de sua voz.
"Conheço esse nome, jovem mestre. De algumas memórias passadas." - respondi e ele continuou com um sorriso.
"Achei que demônios não tivessem memórias que os deixassem emotivos."
"Não estou emotivo, se me permite dizer bocchan." - garoto esperto, nem tirando um daqueles olhos idênticos, ele não deixava de se parecer com ela. - "São apenas memórias."
"Conte-me então. Pelo que me contaram, os arquivos e dados da família foram todos queimados e desde então não se sabe nada."
"A última herdeira da família morreu em um atentado à mansão dela. Todos os criados e parentes que poderiam assumir o título foram mortos em assaltos ou acidentes. Não se sabe o motivo." - pus minha destra sobre o coração. - "É tudo que sei, meu senhor."
"Está mentindo." - a voz tranquila e firme me fez congelar no lugar e abrir meus olhos um pouco mais. - "Está indo contra minhas ordens, Sebastian?"
"Jamais, bocchan. Não tenho intenção de mentir para o senhor." - mesmo após tantos anos, eu arrancaria sua cabeça se mencionasse o nome dela.
"Hm. Ao que parece, a herdeira, Katherine Enhyfen, era casada, sem filhos e perdeu os pais treze anos antes de morrer em seu quarto misteriosamente e acredita-se que ela tinha uma marca roxa nos seios." - ele suspirou e apoiou o papel na mesa. - "De acordo com a Rainha, ela provavelmente tinha envolvimento com o submundo..."
"O que a Rainha está buscando sobre a família, bocchan?"- perguntei o mais cordial que consegui, e ele apenas me encarou.
"Não sei ao certo também. Mas me interessou a parte em que ela possuía um contrato com um demônio. Talvez fosse alguém que você tivesse conhecimento..." - o mais novo abandonou a mesa e ficou de costas para mim, enquanto observava a janela.
"Está hesitando em perguntar se ela fez um contrato comigo?"
"Que bom que conseguiu chegar finalmente ao ponto que eu buscava. Sua resposta então." - Ciel era astuto demais para deixar qualquer coisa passar de sua percepção. Maldita criança inteligente.
"Sim, jovem mestre. Ela era casada comigo e morreu pelas minhas mãos." - respondi de maneira cordial e escutei os saltos batendo no piso, se aproximando mais.
"Me diga mais uma coisa, Sebastian."
"O que desejar, jovem mestre."
"Ela parecia te amar muito lendo aquela carta. Mas você a amava?" - não notei que me descontrolei com a simples menção daquele pedaço de papel. Eu segurava os ombros magros com força o suficiente para quebrar e sabia que meus olhos estavam completamente fora de controle.
"Você leu minha carta?" - meu aperto ficou mais forte e pude sentir ele se remexendo, para se livrar.
"Solte-me Sebastian. Agora." - o tom desesperado estava excitando meu lado predador.
"Não deveria ter tocado naqueles papéis." - meus olhos subiram para o rosto infantil e o lapso de memória me atingiu, ao ver o azul brilhante.
"Não morrerei pelas mãos de uma criatura como ele. Quando for a hora, tome minha alma e me mate. É uma ordem, Sebastian."
"Nunca mais toque naqueles papéis." - soltei o corpo frágil e me afastei a uma distância segura, antes de me curvar em noventa graus. - "Perdoe minha indelicadeza, jovem mestre. Irei me retirar."
"Ficará parado aí. Já entendi que não posso tocar na carta da sua amada, mas por que você a matou?"
"Porque ela me ordenou. E mesmo que fosse para perder meu amor, eu cumpriria sua ordem."
"Não era esse tipo de resposta que eu esperava. Não foi porque ela morreria apenas pelas suas mãos?"
"O quanto daquela carta você leu?"
"O suficiente para saber que meu demônio me tomou um olho por causa de um contrato anterior." - ele arrumou suas roupas, abanando o pó e balançou os cabelos. - "Não me importo com quem ela tenha sido, nunca mais me toque assim." - o tom autoritário me fez revirar os olhos internamente. - "É uma ordem."
"Yes, my lord."
"Ah, mais uma coisa para você, demônio." - antes que pudesse sair por completo, Ciel me chamou mais uma vez e me jogou um envelope. - "Um presente."
"Obrigado, bocchan." - caminhei para fora do seu escritório e assim que estava completamente sozinho, o abri e não resisti a sorrir. Maldito.
Uma foto dela.
Katherine Enhyfen em seu vestido de noiva, no nosso casamento.
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Azul Celestial - Sebastian Michaelis X OC
FanfictionA mais anos do que eu posso contar nos dedos, eu nasci. Vinda de uma família rica, eu fui uma garota bem criada, estudiosa, educada, que sabia montar a cavalo e usar uma espada, aprendi economia e administração, aprendi a dançar valsa. Debutei com o...