trinta e quatro

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ANY GABRIELLY

Vejo o carro de Lucas na garagem e suspiro, quase desistindo de entrar na casa, mas eu não tinha escolha sobre aquilo. Ainda morava ali, com ele.

Abro a porta devagar e entro no mesmo ritmo, tentando ter mais algum tempo longe dele.

— Onde você estava? — Escuto e seguro a vontade de revirar os olhos.

— Eu saí para tomar um pouco de ar. — Digo e fecho a porta atrás de mim, dando poucos passos na direção dele, mantendo uma boa distância.

— Aqui em casa não tem ar? — Ironizou.

— Tem, mas ainda assim eu me sinto sufocada. — Respondo e ele me encara, levantando as sobrancelhas.

— O que quis dizer com isso?

— Nada. — Digo e forço um sorriso. — Eu vou tomar um banho.

— Você está estranha. — Falou e se aproximou mais.

— Impressão sua. — Murmuro e ele me analisa de cima a baixo, voltando o olhar para o meu rosto em seguida. — Bom, vou tomar banho. — Repito e desvio dele, que segurou no meu braço.

— Não vai nem me dar um beijo? — Perguntou e subiu a outra mão até o meu queixo.

Apertou o local e puxou o meu rosto para ele, me dando um selinho demorado.

Nos afasto e dou um meio sorriso, saindo dali e indo até o quarto, onde depois entrei no banheiro.

Paro na frente do espelho e encaro o meu reflexo no mesmo. Passo as costas da minha mão com força em minha boca, sentindo nojo dos lábios dele, do toque dele... Dele inteiro.

Sinto e vejo pelo espelho uma lágrima solitária rolar pelo meu rosto. Seco a mesma rapidamente.

Me negava a chorar de novo por ele e por tudo o que ele fez comigo, mas não demorou até que eu desabasse em lágrimas pela milésima vez no dia.

Dessa vez sem Josh para me abraçar e dizer que tudo ficaria bem.

*
três dias depois

eu
Oi, Josh.

Tem como você vir me buscar na casa do Lucas daqui a 20 minutos?

Joshua
Oi, menina Gabrielly.
Tem sim, mas porquê?

*

Posiciono a última mala próximo à porta e suspiro, olhando a casa outra vez e torcendo para ser a última.

Três dias foi o tempo que eu havia tirado para organizar todos os meus pensamentos. Vi outros vídeos sobre relacionamentos abusivos e me certifiquei novamente de que eu estava em um.

Mas eu não queria estar mais. Não queria continuar passando aquelas coisas com Lucas, não queria me sentir presa e não queria, talvez, no final de tudo, me tornar mais um número nas estatísticas de mulheres mortas por companheiros.

Doía pensar naquilo, mas poderia acontecer. Eu li e estava claro que a violência psicológica poderia vir a se tornar uma violência física.

Vou começar de novo e agora tudo vai dar certo.

Era o que eu repetia mentalmente, tentando esquecer o fato de que eu não tinha um emprego e nem um lugar para morar.

Ouço o barulho do carro de Lucas e fico parada, olhando para a porta e esperando ele entrar, o que não demorou à acontecer.

𝑾𝒉𝒂𝒕 𝒊𝒔 𝒍𝒐𝒗𝒆? 𖤓 𝑩𝒆𝒂𝒖𝒂𝒏𝒚 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora