Poncho dirigia o carro velozmente enquanto ouvia Anahí se contorcendo no banco traseiro. O lugar já estava inundado de sangue.Anahí foi atingida no braço. A bala parecia queimar sua pele a cada segundo que passava.
- Aguente. Já estamos chegando. - Poncho dizia, amargo, enquanto dirigia. Sentia-se nervoso, não tinha certeza se o plano havia dado certo, se seus parceiros conseguiram escapar a tempo e a salvo. Mas, naquele momento, os gritos de Anahí consumiam sua mente, não havia outra coisa que ele pensasse senão sair do gabinete e deixar Anahí a salvo.
Em vinte minutos, numa velocidade extrema e até arriscada, Poncho parou o carro derrapando em frente à casa de Madalena. Imediatamente abriu a porta traseira do veículo e pegou Anahí no colo, de modo que seu braço ficasse imobilizado.
Madalena prontamente veio até eles, ajudando Poncho para que a levasse até dentro da pequena casa. Poncho já se encontrava ensanguentado, mas sequer se dava conta disso. Anahí estava no limbo entre estar acordada e estar prestes a apagar completamente.
- Poncho, o que houve? - Madalena perguntou, exasperada. Ela abria espaço no sofá para que Poncho deitasse Anahí. Poncho rapidamente a deitou e a posicionou de maneira que o braço atingido ficasse à vista.
- Sem perguntas agora. - Poncho respondeu, rapidamente. - Precisamos tratá-la, Madalena.
Não se arriscaria a levá-la ao hospital. Poderia deixá-la em algum lugar e telefonar para a emergência. Mas Anahí poderia entregá-lo à polícia e todo o plano estaria fadado ao fracasso, pensava Poncho. Agora ajudaria Anahí, que ainda agonizava.
Madalena tratou de amarrar o braço de Anahí para que o sangue fosse contido. Poncho deixou que Madalena trabalhasse.
- Foi um tiro de raspão. - Madalena disse, enquanto analisava a ferida de Anahí. - A queimação e o sangue se intensificaram com a viagem no carro. - ela olhou Anahí. - Irei te ajudar, querida. Por favor, aguente firme.
Poncho buscava entre a casa panos que pudessem ajudar a fazer uma compressa. Já passara por isto em diversas outras situações, mas a FLPM não fazia ações arriscadas assim há mais de dois anos.
Finalmente conseguiu panos e gazes. Levou até Madalena. Ela limpou a região do braço de Anahí o mais profissionalmente que pôde. Acenou para que Poncho pegasse mais panos e começasse a fazer a pressão na região da ferida.
Anahí se sentia delirar. Ainda que o tiro tivesse sido de raspão, a dor parecia tirar seus sentidos. Viu que Poncho fazia pressão em seu braço. Com o rosto com a expressão de concentração, ele apertava panos quentes sobre a ferida. Os dois estavam sujos de sangue e suor. Anahí passou a encarar Poncho como forma de tirar sua atenção da dor. Analisava as marcas de expressão de seu rosto e seus olhos esverdeados. Em alguns minutos, Anahí pôde sentir que a dor começava a abrandar.
- Está se sentindo melhor? - Madalena perguntou à Anahí, aproximando-se. Agora ela trazia toalhas e roupas limpas. Poncho encarava Anahí, buscando alguma reação que pudesse responder à questão.
- Sim, estou melhor. - Anahí respondeu depois de alguns instantes. A voz em um tom perdido.
Ao ouvir isso, Poncho se tranquilizou. Tirou finalmente os panos quentes do braço de Anahí, com o sangue já estancado, e enrolou o braço com gases e bandagens.
- Obrigada. - Anahí respondeu baixo, com o olhar fixo em Poncho, que acenou com a cabeça e a encarou rapidamente.
Madalena levou Anahí até o banheiro para que ela pudesse se lavar. Enquanto isso, o celular de Poncho tocou. Ele havia se esquecido, por alguns minutos, que seus parceiros poderiam estar em apuros. Prontamente atendeu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dos Veces
RomancePor mais inverossímil que possa parecer, às vezes até mesmo as leis da física podem ceder. Quando uma rara escapatória possibilita o encontro entre duas partículas de distintos polos, e estas se encontram, é quase impossível a reversão ou separação...