Capítulo 30: Covarde

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A madrugada estava silenciosa no hospital. As pessoas pareciam introspectivas. O local em questão parecia ser o responsável por isso.

Afinal, é no hospital que, geralmente, a vida e a morte se encontram. Nascimentos e mortes transcorrem ali. A hora do choro de algum recém nascido ou do último batimento de um coração são marcados e anunciados, seja dentro de consultórios ou por entre os corredores.

Convém dizer, entretanto, que tudo é premeditado. Cada segundo se faz valer de acordo com o humano em questão. É o velho mantra: cada um tem a sua hora.

A hora de todos nós vai chegar um dia, isso é um fato. Ela será anunciada assim como as dos demais, nos mesmos corredores de um hospital qualquer.

Às vezes o destino pode pregar peças infelizes, mas nunca erra no seu planejamento.

A hora de Anahí ainda não tinha chegado.

- Doutor Rodríguez! - Maria exclamou, vendo o médico que conhecia, responsável também por seu tratamento, aproximar-se da recepção.

- Maria... - ele iniciou, com as sobrancelhas caídas. Estava de plantão aquela noite. Vira o momento em que Anahí chegou ao hospital. Foi um dos médicos que estava durante a cirurgia. Parecia cansado. Era mais uma longa madrugada naquele lugar.

- Tem notícias da minha filha, doutor? - Maria suplicou, estava com o coração na mão. - Anahí está bem? A cirurgia já acabou, não? Faz horas...

- Acalme-se, Maria, por favor. - Rodríguez respondeu, terno. - A cirurgia já foi finalizada. A retirada da bala foi feita com sucesso. - Todos que haviam chegado próximo à Maria e ao médico deram um suspiro de alívio. Poncho permaneceu estático. Estava elétrico ainda, só se convenceria que Anahí estava bem quando a visse com os próprios olhos. - A demora se deveu à grande quantidade de sangue que Anahí perdeu, mas nós tínhamos estoque. Ela agora está em repouso profundo, está sedada. Precisa permanecer assim por algumas horas. Vim até aqui avisá-los para que fiquem mais relaxados. Ela não corre mais perigo.

- Podemos vê-la? - Poncho indagou.

- Apenas a família. - Rodríguez olhou de Poncho para Maria, rapidamente. - Se quiser, você pode ir até o quarto, é a mãe dela.

- Como? Não posso vê-la? - Poncho voltou a questionar, agora com o tom alterado. Estava a ponto de entrar em um colapso nervoso.

- A situação ainda é delicada, cavalheiro. - Rodríguez falou.

Poncho bufou, com os olhos odiosos. Levou as mãos até os cabelos e quis arrancá-los. Afastou-se dos outros e foi em direção ao assento. Não sairia dali até que pudesse ver Anahí.

- Quero ver minha filha. - Maria falou a Rodríguez. - O irmão dela vem comigo. - Maria disse, puxando o braço de Luiz, que permaneceu ao seu lado.

- Tudo bem, vocês podem ficar alguns instantes lá... Mas ela está em um sono pesado. - o médico explicou. - Sigam-me.

E eles sumiram no corredor, deixando Maite, Nano, Poncho e Madalena para trás.

Com o passar da madrugada, Rose e Rio tiveram que voltar para casa. Ana estava em choque com a situação. Não era todo dia que uma criança de quatro anos era quase atingida por uma bala perdida. Rose saiu com o coração na mão, implorando a Maite que telefonasse assim que houvesse novas notícias.

Rose sentia dor e gratidão ao mesmo tempo. Se não fosse Anahí, Ana seria atingida. O corpo de uma criança tão frágil não seria resistente como o de um adulto. Cogitar a possibilidade de não ter mais a filha consigo fazia o coração de Rose despedaçar. Devia tudo à Anahí, que foi uma verdadeira heroína e portou-se como um escudo para a vida de sua filha.

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