Capítulo Único

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Essa casa está tão fria hoje.

E não me refiro ao frio que castiga a noite de hoje, mas ao frio sentimento que me abate todas as noites.

Todas as noites.

Me encontro novamente sentado nesse balcão, com a segunda caneca de chá, esperando você chegar do trabalho.

Isso é de praxe, você irá chegar e repetir tudo de novo.

E de novo...

Chega de chá, isso não está mas me ajudando. Para falar a verdade nada mais me ajuda. Em outra época eu leria um livro, ou esperaria você na cama. Mas isso também não é mas possível, pois você esfriou tanto...

Lá está: o som do seu carro entrando na  garagem. Eu poderia correr e te dar boas vindas, te abraçar apertado e te oferecer o melhor beijo que conseguisse dar por ter passado o dia todo no trabalho.

Mas seu horário mudou, chega mais tarde agora. E sei que não estava fazendo hora extra.

O tilintar das chaves me faz olhar pra você entrando em casa. Isso me trazia tanta alegria, um calor descomunal que me invadia por ter você de volta. E comeríamos alguma coisa sem muito preparo, por que só queríamos amar um ao outro como se estivéssemos separados a uma eternidade.

A forma totalmente desanimada com que você deixa as chaves no aparador, tira os sapatos e passa a mão pelo pescoço soltando um pesado suspiro me aflige.

-- Oi... Como foi o trabalho?

-- Foi normal, não havia tanta coisa a ser feita hoje além de imensos relatórios.

Você passa direto por mim. Eu só existo aqui, quando você não me quer.

O chuveiro se torna o único som na casa.

Não há nada que eu possa fazer, não posso forçá-lo. Por mais que ainda me procure vez ou outra, não é a mesma coisa. Não há mais o calor.

Ainda me pergunto se o seu desinteresse foi culpa minha.

Vou deitar, e esperar...

A gotas que pingam do seu cabelo castanho e descem por suas costas e ombro ainda mexem comigo da mesma forma que mexia naquela época.

Você ainda dorme sem camisa, nunca deu ouvidos quando dizia que iria pegar um resfriado por não se agasalhar direito. Não insisto mais.

Te vendo deitar ao meu lado ainda me dá esperanças, e aquela faísca ainda está pronta para virar chamas a qualquer sinal de contato seu.

Como agora, quando você põe a mão em meu quadril e levanta minha blusa. Sua mão fria, como sempre foi, fazendo meu corpo entrar em combustão, percorrendo-me e me puxando para si.

Tirando minhas roupas, me tocando, me explorando, me fazendo sentir que sou um idiota por amar quando faz isso.

--Ahm...

Isso, me faça sentir tudo. Me faça seu para tudo. Para Sempre. Ou quanto tempo eu ainda conseguir durar. Você ouve? Ouve a mim implorar por você de volta à cada olhar que lhe dou?

Me invada. Me p-preencha. Assim, assim mesmo.  Ah! Me leve com você! Me leve...

Eu o amo tanto que fecho os olhos.

Você diz, quando ainda me permite brincar com você, que fecho os olhos por estar no paraíso.

Eu estou nele, sim. Mas além de tudo, é para não perder a imagem do homem que sempre amei.

Para não substituí-la pela imagem do homem que você se tornou agora, que sai cedo e chega tarde.

As vezes bêbado, as vezes com outro perfume.

Por que você não entende?

Eu fecho os olhos por que te amo.

Eu Fecho Os Olhos Por Que Te Amo - OneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora