CAPÍTULO 19 - A SANGRIA E O ASSALTO

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Corri até o celeiro e escolhi o animal mais descansado. Selei-o e parti rumo à Balga, mesmo sabendo do avançado da hora. O animal era jovem e forte, e com uma fome insaciável devorava a estrada. Atravessamos a ponte do Alle, e o cheiro voltou as minhas narinas e aos meus pensamentos. Chacoalhei a cabeça, tentando dissipá-los, aquilo podia esperar. Desci do cavalo ainda derrapando nas pedras do portão do hospital. Cheguei à sentinela e perguntei pelas pessoas que estavam no turno da vigília daquela noite.

- E por que vos deveria dar alguma informação forasteiro? Vociferou o guarda numa voz pastosa.

- Por favor, gostaria de falar com uma das enfermeiras, meu tio está morrendo e não sabemos a razão, preciso que alguém vá vê-lo! Tornei ofegante.

- Não é permitido a ninguém entrar ou sair do hospital depois do décimo toque do sino do torreão. Portanto perdestes a viagem! Declarou a sentinela, com um prazer sádico.

- Mas, vossa mercê não entende, tem uma pessoa morrendo e..e....! Ele me interrompeu.

- Mas o que deu em vós, estais surdo homem? E falando isso saiu da guarita virando-se em posição de ataque com sua lança voltada para o meu abdômen. Apesar da situação, não pude deixar de notar a arma. Era uma lança longa e com uma ponta interessante. Extremamente pontiaguda, tinha em sua parte traseira três enfeites que serviam como ganchos reversos. Uma estocada, e ela só se soltaria com um puxão muito forte, o que traria para fora as vísceras da vítima. O sujeito me olhava com uma fúria etílica enquanto o sino da igreja tocava agora doze badaladas. Ele ia falar novamente, mas eu o interrompi com as duas mãos levantadas em gesto de paz.

- Certo, já entendi, ninguém entra, ninguém sai, pois que seja. Boa noite meu amigo, boa vigília!

Atravessei a rua tomando o caminho oposto me distanciando da entrada do hospital. Meus olhos passaram a explorar qualquer passagem, ou ponto de escalada. Decidi que entraria ali de qualquer jeito, e a escalada das paredes me pareceu a única saída, ou melhor, entrada.

As janelas da parte frontal do hospital foram imediatamente descartadas. Eram pequenas, estreitas e praticamente não tinham parapeitos. Além de estarem dentro do campo de visão da sentinela. Caminhei até o fim da rua, subi mais um quarteirão para não levantar suspeitas, sumindo na próxima esquina. Fiz o retorno para voltar ao hospital pelo outro lado. Aproveitando a escuridão, fui me esgueirando pelas casas vizinhas até chegar à parede sul da construção. Já nesse ponto as coisas pareceram mais promissoras, janelas mais amplas e com parapeitos. As junções dos tijolos tinham sofrido grande desgaste, o que daria mais pegada para as mãos na escalada. Mas o que me animou foi a grande árvore que ladeava a parede. Alta e frondosa, levava até quase os últimos andares do hospital. O plano era seguir por ela, para depois escalar a parede. Havia muitas janelas, mas todas fechadas, apenas uma se encontrava aberta, no último andar. Subi rapidamente pela árvore e nos últimos galhos saltei para a parede. O impacto do corpo me jogou para trás e quase não consegui segurar-me. Por pouco não despenquei para a morte certa. Os dedos queimavam tentando segurar nas bordas das pedras entre as emendas. Escalei de forma lenta e sofrida rumo à ultima janela. Chegando no parapeito, saltei rapidamente para o interior do aposento. No instante em que pisei no chão, percebi que não havia tomado o cuidado de averiguar se havia mais alguém no recinto antes de invadi-lo. Ao levantar e recompor-me senti o golpe na parte de trás da cabeça, acima da nuca. A dor foi pungente, mas a pancada não foi suficientemente forte para me desacordar. Me curvei e dei alguns passos à frente levando a mão ao local ferido. Voltei-me na direção do golpe e com a vista meio embaçada vi Marielle segurando um pesado castiçal.

 Voltei-me na direção do golpe e com a vista meio embaçada vi Marielle segurando um pesado castiçal

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Rayd e a lua do caçador - Volume I - O DESPERTAROnde histórias criam vida. Descubra agora