Cartas a Rainha - Parte 2
Como o coração da Rainha, o inverno era frio e seco. O vento cortante soprava pelos finos cabelos de Crystal e deixava sua face levemente corada, seu pesado vestidinho arrastava pelas folhas secas do jardim enquanto corria atrás de uma das diversas folhas que dançava com o vento de forma majestosa. Agora já com cinco anos, a menina apresentava o início de uma fase curiosa, as menores coisas faziam seus olhos brilharem e um sorriso se estampar em seu pequeno rosto, os cabelos pretos como obsidiana lhe caiam sobre a face pois mais cedo não deixara Lucy prendê-los cabelos; alegava que os fios soltos fariam com que o frio diminuísse e que também gostava da sensação dos fios voando quando corria. Lucy surpresa com tamanha esperteza e achando graça na fala da garota concordou e apenas escovou seus cabelos.
No jardim, como alguém que admirava uma pedra preciosa, Cassiel sorria involuntariamente vendo a pequena correr de um lado a outro atrás das folhas secas e por algumas vezes demonstrava preocupação quando ela não olhava para o chão e topava com algumas rochas, mas aliviado apenas beijava o topo de sua cabeça e continuava a olhá-la correr. Para o Rei, aquele era um dos momentos mais preciosos de seu dia, ver sua garotinha crescendo e estando feliz era tudo para ele, era razão suficiente para agradecer por cada suspiro.
-Papai, o que teremos para o jantar? - Surpreso com a pergunta da criança, que agora se encontrava parada o encarando, ajoelhou-se e respondeu:
-Ora, minha querida, devemos ir até a cozinha para descobrir?
-Podemos? - Os olhos da garota brilharam em um verde brilhante.
-Claro, vamos - levantou-se e segurou na mãozinha de Crystal, era quente e macia, de tão pequena se envolvia em sua grande mão.
-Papai, podemos comer torta de morango no jantar?
-Sinto muito querida, o jantar não é hora para doces - um sorriso de canto de boca surgiu em seu rosto, não tinha como esconder.
-Mas papai...
-Talvez só hoje, mas Lucy correrá atrás de nós dois se não comermos o jantar.
-Ela não pode escapar do meu abraço "felóiz" - falou a princesa demonstrando com a mão livre ser deveras feroz.
Através de uma das janelas do castelo, a Rainha observava o Rei e sua filha caminhando para dentro, sentia tamanho ciúmes do marido com a criança e ficava furiosa toda vez que os via juntos e diversas vezes tentou roubar a atenção para si, mas era impossível.
Querida Rainha Jade,
Responda por favor à minha simples questão; de que adianta tamanha sabedoria se não sabes o que significa amor? Machucou de forma profunda aquele que mais a amou, tornou-o escravo de suas estúpidas atitudes e feriu-lhe o coração. Em um mar de emoções afogou-se e dali não foi salvo, porque já não havia mais esperança para gritar por ajuda. Rainha, ao prender Cassiel em sua cruel armadilha acabou com toda a sua alegria, ele passou a alcoolizar-se com mais frequência, passava noites fora e não conseguia lidar com seu coração quebrado, os prostíbulos da cidade tornaram-se seus locais mais frequentados, procurava em outras mulheres o amor que uma vez jurou a ele, a fumaça do cigarro era usada para nublar pensamentos que o matava aos poucos e, ainda assim, escondeu tudo de sua amada princesa... Com lágrimas nos olhos lhe escrevo essa carta, majestade, ele foi forte a todo momento e escondeu de mim diversas coisas, encobriu suas dores com o amor que tinha por mim. Eu espero que nunca sofra tamanha dor, mas também rezo para que a solidão a acompanhe até o fim.
Assinado,
Crystal.
Com cuidado, Lucy abriu a porta do quarto e deparou-se com o Rei dormindo profundamente abraçado com sua pequena princesa. No dia anterior, Crystal havia tentado com toda a sua imaginação persuadir a empregada a deixá-la comer doces no jantar, mas ela sabia que a princesa não dormiria de forma alguma se acontecesse.
-RAWWWRR - rosnou Crystal, convencida de que se mostrava feroz.
-Ora princesa, não deveria rosnar para mim, não teme ficar sem doces e ainda sem o jantar? - Brava e refutada, a princesa decidiu que apenas comeria seu jantar sem reclamar.
O Rei divertia-se com a situação, enquanto que a Rainha olhava furiosa para a doce criança à sua frente, pensava que "como sempre, as atenções eram todas voltadas para a garota". Levantou-se da mesa e seguiu para seu quarto, não podia aceitar o amor que Crystal recebia. O Rei notando a situação decidiu segui-la e procurar entender o que acontecia.
A mulher de estatura média e cabelos longos e naturalmente brancos, era do tipo que tomava as atenções para ela por onde passava. Os olhos já não mais brilhavam mas emitiam poder e terror aos que olhavam diretamente, eram tão verdes quanto os de Crystal, não se negava o sangue compartilhado.
-O que quer Cassiel? - Parou diante do extenso corredor.
-Por que age de tal forma, Jade?
-De que forma? - não expressava reação, mas virou-se para encarar seu marido.
-Odeia sua própria filha, me usa como se eu não passasse de um objeto e ainda parece implorar pela atenção que não merece, o que há com você? Já não age como a mulher que um dia eu amei...
-MORRAAAA, NÃO OUSE FALAR QUE UM DIA ME AMOU QUANDO EU NUNCA O AMEI - vociferou.
Com os olhos marejados e ainda com amor em seu coração o Rei continuou:
-Tudo bem, poderia não me amar, mas eu sim te amei, ainda amo. Eu lhe imploro, me diga em que posso melhorar, como posso mudar a situação, me parte o coração vê-la tão irritada com sua própria filha, quando ela não tem culpa do que acontece. Jade, me diga por favor.
De uma expressão neutra, a mulher passou a ser assustadora, um sorriso sinistro estampava-se em sua face. Virou-se para o Rei e colou uma das mãos em seu rosto:
-Ouça com atenção, meu amado Cassiel - falava com os dentes cerrados- irá me obedecer em tudo, eu farei com que todo esse amor que diz ter por mim acabe, destruirei seus sonhos e por fim matarei sua amada Crystal com as minhas próprias mãos caso não me satisfaça. Então, "querido", não tente mais nenhuma vez ser um 'bom marido', pois isso me enoja de forma imensa. A partir de agora, sua devoção a mim será dada com a vida daquela pirralha em jogo. E já te aviso antecipadamente, se morrer, ela irá junto. - A Rainha se acabava em gargalhadas medonhas enquanto retornava para seu destino de origem.
O Rei, com todas as forças, procurou se recompor e retornou para a mesa de jantar. Ao chegar, olhou para sua preciosa princesa que conversava com Lucy sobre a enorme folha que havia encontrado no jardim mais cedo. Um sorriso triste surgiu, mas seguiu para tomar seu lugar ao lado da criança.
Após o jantar, a empregada levou a pequena para banhar-se, e o Rei decidiu que também se banharia, pela primeira vez decidiu que passaria a noite no castelo, lutou contra seus pensamentos e subiu para o quarto. Após um longo banho, Cassiel foi para o quarto de Crystal e a viu prestando toda a atenção do mundo à história que Lucy lia.
-Me perdoe incomodá-las senhoras, eu poderia ter a honra de ler esta noite para a minha amada princesa? - Lucy feliz com tal atitude, levantou-se e cedeu o lugar para o Rei, que pegou o livro e continuou a leitura para a pequena. A mulher saiu e fechou a porta do quarto, deixou-os sabendo que seria talvez, uma noite inesquecível para a menina, ter o pai ao seu lado era o desejo mais sincero da criança.
-Papai, pode dormir comigo essa noite? - Surpreso, o Rei inclinou-se levemente para trás.
-Claro, meu amor, só porque pediu, okay!? - Deitou-se ao lado de Crystal que rapidamente o abraçou e, por mais incrível que parecesse, parecia que o abraço se encaixava perfeitamente.
Rapidamente a menina dormiu, se compara com um lindo anjinho, parecia cansada de toda a brincadeira que tivera mais cedo. Agora, seguro de que poderia deixar as lágrimas correrem, Cassiel agarrou-se a Crystal e desabou em lágrimas, o pensamento de que poderia perdê-la o assustava profundamente ao mesmo tempo que a presença da criança o confortava.
-Não chore papai, eu amo você - sussurrou a princesa enquanto dormia, talvez estivesse sonhando ou sentindo a tristeza do pai. Confortado pelas palavras, o Rei caiu em um sono profundo, o rosto não escondia tamanho desespero, mas era visível a felicidade que trazia consigo por ter Crystal ao seu lado.
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A lovely letter
Lãng mạn(História em andamento) Olá caro leitor, está preparado para mergulhar no rio de acontecimentos e emoções que aprensentarei a vocês? Por meio da mescla de narrativas e cartas, contarei a vocês a minha história de amor, levarei vocês ao mais transpar...