III. Aurora

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Andar na rua escutando a trilha sonora de “A culpa é das estrelas” é muito devastador, e eu já devia saber disso, afinal, eu escuto sempre que saio e choro em todas vezes, incrível.
Chorar as 09:30 da manhã na rua é muito vergonhoso, principalmente quando se é “salva” de um acidente por um garoto lindo e skatista, com ele colocando a mão na sua cintura e falando “ – Cuidado por onde anda, cachinhos dourados –“, meu deus, tão surreal que até parei de chorar, uma pena que eu nunca mais vou ver o garoto misterioso com cabelo curto, cara de marrento e uma tatuagem de cobra na mão, e nem vou conseguir achar redes sociais, já que ele saiu com o skate sem nem antes me deixar agradecer e perguntar o seu nome, mas tudo bem, a vida é feita de paixões platônicas insuperáveis.
Continuo o meu caminho até o local que a Alice falou para eu encontra-la, confesso que me perdi um pouco, mas quando ergo meu olhar, vejo ela um pouco longe acenando para mim e sorrindo. Apresso o meu passo para chegar até ela mais rápido, e quando chego, grudo meu corpo no dela em um abraço apertado e confortável, já que ela é quase da minha altura, não preciso me abaixar muito.
Solto o corpo dela falando um “ – Que saudade que eu estava, amiga – “ e logo recebendo um “ – Eu também, você fica cada vez mais linda – “ em resposta. Dou um sorriso envergonhado e falo que são apenas os olhos dela, logo ela dá risada e fala para irmos encontrar essa tal Jasmine que ela tanto me falou.
Confesso que quando meus olhos captaram a visão que eu tive na minha frente, pensei que o destino estava me amando muito, já que o garoto misterioso estava lá, a poucos metros de distância, encostado em uma placa qualquer e mexendo no celular, completamente fora de órbita, mas todos meus pensamentos são cortados quando a Alice saí do meu lado correndo, indo em direção ao até agora “garoto misterioso”, mas tudo muda quando ela abraça ele e fala rindo “ – Oi minha flor bruta, eu tava louca de saudade –“ e recebe um “ – Eu também, besta. Agora me solta, vai. –“. Pera ai, então o garoto misterioso na verdade é uma garota e se chama Jasmine? Caramba universo, você só pode estar de brincadeira comigo.
Saio dos meus devaneios quando escuto Alice me chamar para ir “conhecer” a Jasmine, e eu vou, completamente perdida nas nuvens dos meus pensamentos.
Quando chego até elas, Alice nos apresenta e a Jasmine me cumprimenta com a voz perfeita dela. “ – Oi cachinhos dourados, é um prazer te rever. Me chamo Jasmine, você é a Aurora, né? – “ pergunta ela com um sorriso de lado, eu apenas confirmo com a cabeça e dou um sorriso.
Alice logo pergunta o porquê Jasmine tinha dito a palavra “rever” quando me cumprimentou, então eu explico que Jasmine tinha me salvo de um quase acidente, contando todos os detalhes, e ela cai na gargalhada, falando que eu quase morrer atropelada era rotina, e que se fosse assim, Jasmine teria que me salvar todas as vezes.
Logo após Alice parar de rir e de zombar de mim, nós entramos pela porta dos fundos do hotel, e meu deus, quando ela me falou que o nome do hotel era “Hotel Saltitante” eu não levei ao pé da letra, mas é realmente um hotel saltitante.  O chão era feito de trampolim, ou seja, realmente saltitante, e tinha uma parte de piscina de bolinha, tirolesas, várias formas de se divertir, como se fosse um hotel para as férias, e eu realmente acho que era.
Não perdemos tempo, logo começamos a brincar, em tudo que podíamos. E foi divertido demais, ver elas duas rindo me contagiava, e cada vez que eu olhava para a Jasmine, ela ficava cada vez mais bonita, como se eu fosse capaz de ver mais detalhes, em todas as malditas vezes que meus olhos me traíram e captaram a cena perfeita dela arrumando o cabelo enquanto dava risada de qualquer coisa boba que a Alice falava, fico me perguntando como ela é capaz de ser tão celestial assim. Tudo bem que ela tem uma cara de quem vai matar o primeiro que irritar ela, que todos os traços dela são extremamente marcantes e lindos, e que o cheiro dela é surreal, mas meu Deus, ela é tão linda.
Paro de pensar nisso quando meu foco muda e se torna meu celular tocando sem parar, quando chego perto, vejo que era meu pai, quando eu atendo, escuto ele perguntando onde eu estava com um tom de voz bravo, eu apenas respondo que sai para pensar um pouco e que já voltava para casa, ele se acalmou e falou que tinha se preocupado, mas que saber que eu estava bem o aliviou. Quando a ligação se encerra, vejo que já eram 15:55 e aviso as meninas que tinha que ir embora, com uma voz desanimada, e elas dizem que teriam que ir também, então nós três saímos de lá.
Alice teria que pegar um caminho diferente do meu para ir embora, então eu abracei ela e agradeci pelo dia incrível que ela tinha me proporcionado, quando me afasto, Jasmine vai até ela e elas conversam um pouco, mas depois de uns minutos, elas se abraçam e Alice vira as costas, indo embora rindo.
Jasmine logo vem na minha direção e brinca falando que iria me acompanhar, para me salvar de qualquer acidente causado por mim mesma, eu dou risada e logo concordo com ela me acompanhando.
Nosso trajeto inteiro foi silencioso, mas um silencio extremamente confortável, as vezes nós riamos do vento e logo ficávamos em silêncio.
Quando chegamos no ponto em que iriamos nos separar, Jasmine estende o celular azul escuro dela e pede para eu anotar meu número, e eu claro que anoto, quando devolvo seu celular, vejo que ela me mandou uma mensagem, mas não deixou eu ler. Após isso, ela se despediu com um breve aceno e um “Até mais, Aurora” e novamente saiu em seu skate, me deixando sem conseguir responde-la.
Continuo caminhando até em casa, e quando chego, abraço meu pai e vou direto para um banho. Quando saio do banho, deito no sofá com meu pai e acabo pegando no sono, acordando somente no horário da janta, e preciso admitir isso, meu pai cozinha bem demais. Nós jantamos rindo e conversando, o meu pai é assim, uma hora ele está totalmente bem e na outra ele está devastado, mas eu não julgo, perder a alma gêmea deve ser extremamente doloroso. Acabo de jantar e me levanto para lavar louça. Minha mãe morreu quando eu tinha seis anos, meu pai se esforça muito para parecer forte e não me deixar desabar, mas eu sei que para ele, a sensação é de que ele morreu junto com minha mãe. Na época, ele ficou dias sem comer, sem dormir e sem falar, tive que ir para a casa da minha avó, mas claro que eu não sabia que era por isso, na minha mente de criança de seis anos, minha mãe tinha ido viajar e logo voltaria, e meu pai só estava com saudades.
Acabo de lavar a louça, dou um beijo de boa noite no meu pai, escovo meus dentes e vou para meu quarto, quando finalmente deito na minha cama, vejo que tinha várias notificações.

• Você foi adicionada em um grupo “Saltitantes”
• Você tem uma nova mensagem de “Alicezinha”
• Você tem um nova mensagem de +55 19 988.....

Abro minhas mensagens e entro no número desconhecido, quando a mensagem carrega, eu sorrio. “ – Olá, cachinhos dourados. É um imenso prazer ter a honra de te enviar mensagens. Com todo meu cuidado, Jasmine –“
Após ler, entro na foto de perfil dela e sou capaz de ver ela em cima do seu skate, com um top preto, um shorts também preto e um all star azul, ela estava de lado, me dando a visão de sua tatuagem na costela. Ela tem uma frase escrita, frase essa que eu não consegui ler e uma cobra tatuada na mão. Quando saio da sua foto, respondo sua mensagem com um “ – Olá, é um prazer imenso receber uma mensagem da vossa alteza, infelizmente já estou indo dormir, uma boa noite, rainha. Com toda minha lerdeza, Aurora –“. Após o envio dessa mensagem, desligo meu celular e durmo pensando no lindo sorriso da alteza misteriosa.

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