"We accept the love we think we deserve."
― Stephen Chbosky, The Perks of Being a Wallflower— Será que dá para melhorar essa cara? — Andrew resmungou entredentes.
Estava absorta olhando pela janela do avião, ainda não havíamos decolado e eu observada os funcionários do aeroporto andarem pela pista. Virei para o lado e observei o homem que vinha dividindo a vida a quase três anos. E tudo que pude enxergar foi uma raiva contida, raiva de mim, raiva pela minha tristeza em me separar da minha família, dos meus amigos e do meu espaço. Raiva porque o contrariei e porque não queria me mudar, raiva porque demorou até que me convencesse – ou seria coagisse? – a aceitar seus planos. As diversas frases que proferiu inundaram minha mente. Sua expressão, o jeito como ia de quase agressivo para vítima em segundos.
"Vamos ficar juntos, temos que ficar juntos."
"Ellie, namoro a distância não funciona, quero você comigo. Você vai comigo."
"É uma oportunidade de uma vida para mim, quer mesmo me fazer perder isso? Quer me ver tão infeliz assim Ellie? Como pode querer isso?"
Ele não era assim... Ou era e só agora eu percebia? De repente todos ao alertar da minha mãe vieram à minha mente.
"Ellie, eu não confio nele, tem certeza do que está fazendo?"
"Ellie, querida, ele não pode falar assim com você."
"Querida, me escuta, não se entregue tanto a ele"
O que eu não daria para voltar a atrás e não estar nessa enrascada. Andrew ainda me encarava esperando uma resposta, resposta essa que não tinha como dar, porque se desse gritaria e começaria a chorar por dias a fio. Pelo menos parte de mim desejava isso. Mas a outra escancarava a realidade na minha cara e dizia que eu merecia isso, que ninguém além dele poderia me querer, afinal quem se interessaria pela baixinha sem sal, com alguns muitos quilos a mais, sempre com uma expressão triste ou preocupada, que nunca sabia o que fazer com a própria vida. Só Andrew mesmo para me amar e era ali que deveria ficar.
— Está me ouvindo? — Ele resmungou mais uma vez. — Estou te levando comigo para uma oportunidade de uma vida, Ellie, deveria me agradecer por levá-la comigo e não ficar com essa cara de enterro.
Por fim bufou e revirou os olhos, virou para o outro lado e passou a fingir que eu não existia, foi assim durante todo o voo, todas as sete de horas de voo. Tentei puxar assunto em uma das vezes que estava acordado, mas ele simplesmente me ignorou. Ao desembarcarmos, ele seguiu na minha frente, enquanto eu ia atrás tentando levar minha bagagem de mão e algumas coisas dele que concordei em carregar.
— Andrew, espere! — Chamei, sem sucesso. — Por favor, desculpa, me espera.
Ele parou e virou-se para mim imediatamente.
— Como?
— Me desculpa.
Ele abriu um sorriso pequeno, que parecia até vitorioso. Ali me vi novamente em um beco sem saída, quantas vezes já não tinha pedido desculpas a ele sem ter realmente certeza se estava errada?
— Aceito suas desculpas. — Seu sorriso crescia cada vez mais. — Você só precisa enxergar que escolhi o melhor para nós dois, você verá. Vá pegar as malas, procurarei um local para alugar um carro.

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Absurda Resiliência
RomanceNão indicado para menores de 18 anos! Contém linguajar improprio, cenas de sexo explícito, violência física, violência sexual e possíveis gatilhos. O quanto é possível conhecer alguém pelo olhar? O quanto conhecemos daqueles que dormem ao nosso lad...