A casa de Domiciano Titvs parece um palácio, com os seus pilares ornamentados e tetos abobadados. Tudo à minha volta emite um brilho dourado e irritante que esbanja ostentação. Ao fim de um minuto de ter entrado no átrio, estou a desejar ir-me embora.
Sophia, com um vestido de seda que só pode ter sido escolhido pela nossa mãe, repousa à minha esquerda, o seu braço enfiado no meu, como manda a etiqueta. Parece igualmente aborrecida, embora consiga fingir um sorriso educado.
− Estamos imensamente lisonjeados pelo vosso convite, Domiciano. – Ouço a minha mãe dizer. – É um prazer jantar na companhia do clã Titvs.
Não ouço a resposta que o homem lhe dá, porque concentro-me na rajada de ar frio que chega até mim. O átrio é a divisão mais fria das casas hadiatorianas, devido ao complúvio, que permanece quase sempre aberto. Afinal, não temos de nos preocupar com a segurança, visto que há guardas a patrulhar os corredores durante todo o dia e toda a noite.
− Isto é aborrecido – diz a minha irmã, inclinando-se um pouco na minha direção. – E olha quem aí vem... Oh, meu Deus, Lucas, ele é tão chato!
Olho para a minha frente. A alguns metros de distância encontra-se o filho mais novo de Domiciano, Lorenzo Titvs. Com dezasseis anos, é apenas três mais novo do que eu, mas parece ter entrado agora na puberdade.
− Lorenzo – digo, quando ele está perto o suficiente para me poder ouvir. – Parece que não mudaste muito desde a última vez que te vi.
Ao meu lado, Sophia não consegue evitar rir-se e simula um ataque de tosse para disfarçar.
− Desculpe-me, Lorenzo – diz ela, recompondo-se. – As chuvas dos últimos dias deixaram-me um pouco adoentada.
O filho de Domiciano sorri, aparentemente ingénuo o suficiente para acreditar nas palavras dela.
− Compreendo perfeitamente, menina Praetextatus – afirma, ainda a sorrir. – Esta cidade parece não ser capaz de se decidir. Nunca pensei vir a presenciar condições climatéricas tão... exóticas.
A minha irmã suspira tão baixo que é impossível que alguém para além de mim a tenha ouvido. Está aborrecida, assim como eu. Aldana, que está a falar com a filha de Domiciano, não parece mais entusiasmada.
Olho na direção dos meus pais, pedindo-lhes mentalmente que se deixem de conversa fiada, mas não adianta muito. Enquanto a minha mãe ri de uma forma que ela mesma consideraria escandalosa, o meu pai aperta o braço de Domiciano, concordando veementemente com algo que ele disse.
− Se não é indelicado da minha parte – começa Lorenzo, chamando novamente a minha atenção –, será que posso perguntar onde se encontram os pais da sua prima, Lucas?
Encaro o filho de Domiciano, desconfortável. Pensei que a minha armadura o iria afastar – não por medo, mas por ciúmes –, mas parece que me enganei.
− Pensei que soubesse que o meu tio e a mãe de Aldana estão em terras Isazi – digo, imprimindo o máximo de hostilidade que consigo na expressão. – Eles trabalham na ordenação territorial. Nunca ficam por Hadiator durante muito tempo.
As faces de Lorenzo Titvs adquirem imediatamente um tom rosado que me diverte.
− Claro, faz... faz todo o sentido – diz, tropeçando nas palavras, enquanto tenta esconder o embaraço. Depois, vira-se para os pais, acenando-lhes discretamente com uma mão. – Pai, talvez os nossos convidados estejam com fome. O que me diz de seguirmos para a sala de jantar?
Com uma expressão de surpresa, Domiciano olha na direção do relógio de parede.
− Tens razão, Lorenzo. – Olha para os meus pais, para mim e Sophia e depois para Aldana. – Se não se importam, sigam-me, por favor.
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Um Império em Chamas
FantasyDuas civilizações separadas pela diferença. Uma história marcada pelo ódio. O que poderá renascer das cinzas de um império em chamas? O mundo é dividido em duas grandes civilizações: Hadiator e Isazi. Isazi vê-se perdida, ocupada por membros de Had...