I wish this night would last forever

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14 de outubro de 2020, 9:30am 

GUSTAVO 

Hoje sinto que nada pode me impedir, o dia está lindo, deve estar fazendo por volta de uns trinta e cinco graus. Não há nuvens no céu, crianças estão correndo pelas ruas com as caras todas sujas de sorvete. Me sinto num seriado produzido pela Disney. 

Como rotina, vou até o Kool Koffe ver como está o dia de Nando e tomar um café. 

Ao entrar pela porta, como o próprio Hades, Roger vai queimando toda a minha alegria. Um dia eu ainda vou liberar o demônio interior que criei somente e especificamente para ele. 

Meu mundo passa de preto e branco de volta ao colorido quando mudo meu campo de visão até o balcão e vejo o meu motivo de vir aqui todos os dias às 9:30 da manhã.

- Bom dia Nandooo!!! – me aproximo e debruço sobre o balcão. 

Ele está de olhando para tudo e todos os cantos, aparentemente está preocupado com alguma coisa.

- Capuchino, chocolate quente e bolinhos. Capuchino, chocolate quente e bolinhos... – Nando diz repetidamente.

Hoje ele está mais sobrecarregado que o normal.

- Alô? Nando? 

- Capuchino, bolinho quente e chocolate? Não. Calma - ele suspira bruscamente - está tudo sobre o controle... 

- F-E-R-N-A-N-D-O, dá para você se acalmar?! 

Finalmente consigo desligar o Fernando robô e trazer o Fernando normal de volta. 

- Nossa, Gustavo? A quanto tempo você está ai?! - ele diz esfregando os olhos desnorteado.

- Não muito, mas eu quero saber o que aconteceu para você estar neurótico assim? 

- Um dos nossos garçons e o cara da cozinha tiveram que faltar hoje e Roger pediu para que eu tomasse conta dos dois cargos mais o meu. Tirando isso não estou "neurótico" – ele me imita – estou bem.

- Não, Fernando você não está bem, esse cara não pode te por tanto trabalho nas costas e ainda sair reclamando de estar mau feito. Você é um ser humano, não uma máquina! 

- Por favor Gustavo, esse papo de novo não. Já te disse que estou bem e não quero que você se incomode com isso.

Escuto um estralo de isqueiro, provavelmente vindo de dentro da minha cabeça, que me dá a chama de ódio que precisava para acabar com essa história de uma vez por todas. 

- Não venha atrás de mim, continue fazendo o seu trabalho, APENAS O SEU TRABALHO! – digo a Fernando e vou em direção a sala de Roger. 

Ele tenta segurar o meu pulso - "não Gustavo, você não conhece ele" - mas continuo caminhando. 

Estralo os meus dedos e pescoço, e forço um sorriso para que pareça o mais falso possível, olho para Fernando que está desesperado atrás do balcão. 

Entro na sala e fecho a porta. O jogo está prestes a começar. 

É um escritório tradicional. Um armário de madeira encostado ao lado de uma janela, uma mesa muito bem centralizada com diversos papeis e canetas sobre ela, certificados e fotos de família pendurados pelo o que resta de paredes de concreto. Tem um estranho cheiro de eucalipto fresco. 

- Ah? O que você está fazendo aqui muleke? Além de vir todo santo dia poluir meu café com sua rosto, quer tomar posse de minha sala também? 

Apenas contínuo em silêncio, franzo o cenho e sigo em direção a parte de trás da mesa, junto a Roger. 

I'll see u againOnde histórias criam vida. Descubra agora